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MÚSICA
Livio Tragtenberg celebra diversidade da cidade em "Neuropolis", espetáculo que reúne 20 músicos de rua
Ritmos espalhados pelas vias de SP se unem num só palco
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O saxofonista e compositor Livio Tragtenberg reúne 20 musicistas de diversas comunidades de
migrantes e imigrantes, que tocam nas ruas de São Paulo, para
celebrar a diversidade musical da
cidade com o espetáculo "Neuropolis", a partir de amanhã, na sala
Olido.
Ao lado da produtora Silvana
Matteussi, Tragtenberg circulou
por locais como o Largo 13 de
Maio, o Largo da Concórdia e a
praça Benedito Calixto para arregimentar os integrantes da chamada Orquestra de Músicos das
Ruas de São Paulo. "A idéia foi
combinar a coisa anônima da rua
com a formação da cultura de São
Paulo", explica Tragtenberg.
"Juntamos a cultura de imigrantes estrangeiros da cidade com a
cultura de rua de hoje, que é basicamente nordestina".
O grupo reúne desde instrumentistas de origem oriental, entoando artefatos como o koto (cítara japonesa), a paraguaios com
suas harpas, passando por sambistas, chorões e emboladores.
"Toco na praça 15 há 35 anos",
proclama, orgulhoso o carioca José Aparecido dos Santos, Jorge do
Cavaco, 58, tendo os 35 últimos
sendo transcorridos em São Paulo. "Tudo o que eu tenho, inclusive o apartamento em que moro,
ganhei na rua", afirma o sambista,
que gosta de ostentar sua participação em shows de Agepê e João
Nogueira, entre outros.
Ele vai dividir o palco com colegas como Pereira, 45, repentista
nascido na pequena Timbaúba
dos Mocós, em Pernambuco (a 98
quilômetros de Recife). Radicado
em São Paulo há 23 anos, ele se
apresenta basicamente na região
central da cidade, na rua Direita e
nas praças Ramos, da Sé e 15 de
Novembro.
Livio Tragtenberg classifica o
espetáculo como uma "grande
colagem, uma "composição coletiva", coordenada por ele e por
Fábio Tagliaferri. "É como se você
pegasse várias rádios segmentadas e juntasse todas no mesmo
palco. Trata-se de um caleidoscópio de estilos, e não de uma composição abstrata", define.
Ele afirma ter tido a idéia há 20
anos. "O músico de rua é uma raça em extinção, pois o ambiente
urbano é muito agressivo. É um
personagem extraviado do passado interiorano da cidade. São
Paulo é feita das microcidades,
micropracinhas de interior que
esses músicos vão construindo a
seu redor".
Durante a apresentação, será
exibido ainda um vídeo dirigido
por Jurandir Muller, Kiko Goifman e Marcelo Garcia, que documenta todas as etapas do trabalho
de busca e arregimentação dos
músicos, registrando, ainda, algo
do seu dia-a-dia.
"Os vídeos são pontuais. Trata-se de um espetáculo musical, com
referências visuais, como a projeção de uma entrevista com o
mendigo-filósofo da Pedroso de
Moraes", explica Tragtenberg.
Além das diferenças de origem e
estilo, os integrantes da Orquestra
de Músicos das Ruas de São Paulo
possuem também grandes diferenças em sua formação musical.
Tragtenberg festeja, contudo, a facilidade da integração entre eles, e
planeja a adaptação do projeto à
realidade de outras cidades.
"Fui convidado para fazer um
projeto análogo em Miami, em
2005, no festival da Mary Luft",
diz. "A idéia, lá, é fazer com os
músicos centro-americanos exilados na cidade."
Além das apresentações, Tragtenberg e os músicos da orquestra
realizam, no domingo, às 16h,
uma oficina aberta ao público,
com entrada franca.
NEUROPOLIS. Com Livio Tragtenberg e
Orquestra de Músicos das Ruas de SP.
Onde: sala Olido (av. São João, 473, tel.
0/xx/11/3333-3992). Quando: de qua. a
dom., às 19h. Quanto: R$ 6.
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