São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2004

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MÚSICA

Livio Tragtenberg celebra diversidade da cidade em "Neuropolis", espetáculo que reúne 20 músicos de rua

Ritmos espalhados pelas vias de SP se unem num só palco

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O saxofonista e compositor Livio Tragtenberg reúne 20 musicistas de diversas comunidades de migrantes e imigrantes, que tocam nas ruas de São Paulo, para celebrar a diversidade musical da cidade com o espetáculo "Neuropolis", a partir de amanhã, na sala Olido.
Ao lado da produtora Silvana Matteussi, Tragtenberg circulou por locais como o Largo 13 de Maio, o Largo da Concórdia e a praça Benedito Calixto para arregimentar os integrantes da chamada Orquestra de Músicos das Ruas de São Paulo. "A idéia foi combinar a coisa anônima da rua com a formação da cultura de São Paulo", explica Tragtenberg. "Juntamos a cultura de imigrantes estrangeiros da cidade com a cultura de rua de hoje, que é basicamente nordestina".
O grupo reúne desde instrumentistas de origem oriental, entoando artefatos como o koto (cítara japonesa), a paraguaios com suas harpas, passando por sambistas, chorões e emboladores.
"Toco na praça 15 há 35 anos", proclama, orgulhoso o carioca José Aparecido dos Santos, Jorge do Cavaco, 58, tendo os 35 últimos sendo transcorridos em São Paulo. "Tudo o que eu tenho, inclusive o apartamento em que moro, ganhei na rua", afirma o sambista, que gosta de ostentar sua participação em shows de Agepê e João Nogueira, entre outros.
Ele vai dividir o palco com colegas como Pereira, 45, repentista nascido na pequena Timbaúba dos Mocós, em Pernambuco (a 98 quilômetros de Recife). Radicado em São Paulo há 23 anos, ele se apresenta basicamente na região central da cidade, na rua Direita e nas praças Ramos, da Sé e 15 de Novembro.
Livio Tragtenberg classifica o espetáculo como uma "grande colagem, uma "composição coletiva", coordenada por ele e por Fábio Tagliaferri. "É como se você pegasse várias rádios segmentadas e juntasse todas no mesmo palco. Trata-se de um caleidoscópio de estilos, e não de uma composição abstrata", define.
Ele afirma ter tido a idéia há 20 anos. "O músico de rua é uma raça em extinção, pois o ambiente urbano é muito agressivo. É um personagem extraviado do passado interiorano da cidade. São Paulo é feita das microcidades, micropracinhas de interior que esses músicos vão construindo a seu redor".
Durante a apresentação, será exibido ainda um vídeo dirigido por Jurandir Muller, Kiko Goifman e Marcelo Garcia, que documenta todas as etapas do trabalho de busca e arregimentação dos músicos, registrando, ainda, algo do seu dia-a-dia.
"Os vídeos são pontuais. Trata-se de um espetáculo musical, com referências visuais, como a projeção de uma entrevista com o mendigo-filósofo da Pedroso de Moraes", explica Tragtenberg. Além das diferenças de origem e estilo, os integrantes da Orquestra de Músicos das Ruas de São Paulo possuem também grandes diferenças em sua formação musical. Tragtenberg festeja, contudo, a facilidade da integração entre eles, e planeja a adaptação do projeto à realidade de outras cidades.
"Fui convidado para fazer um projeto análogo em Miami, em 2005, no festival da Mary Luft", diz. "A idéia, lá, é fazer com os músicos centro-americanos exilados na cidade."
Além das apresentações, Tragtenberg e os músicos da orquestra realizam, no domingo, às 16h, uma oficina aberta ao público, com entrada franca.


NEUROPOLIS. Com Livio Tragtenberg e Orquestra de Músicos das Ruas de SP. Onde: sala Olido (av. São João, 473, tel. 0/xx/11/3333-3992). Quando: de qua. a dom., às 19h. Quanto: R$ 6.


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