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Com açúcar, com afeto
Restaurantes sofisticados incrementam petits fours servidos com o cafezinho
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Já houve um tempo em que
cabia ao café o encerramento
de uma refeição. Não que a bebida tenha perdido sua função,
mas é cada vez mais raro ela
chegar sozinha à mesa dos restaurantes. Junto da xícara do
expresso, uma infinidade de
biscoitos, tortinhas, chocolates, bolinhos e doces dispostos
em bandejas bem decoradas
são oferecidos aos clientes.
Feitos para serem levados à
boca de uma só vez, os chamados petits fours fazem mais que
adoçar o paladar. Têm a missão
de ser o agrado final, o afeto em
forma de doce, e também um
"adeus e volte sempre (aqui)".
"Faz parte de uma maneira
de receber bem a pessoa, da
porta até o café", explica o restaurateur Giancarlo Bolla, 65,
dono do La Tambouille. "A primeira impressão tem que ser
boa. E a última também."
Terminada a era da mentinha, uma moda ditada pelos ingleses, ultimamente quem escolta cafés e chás em restaurantes sofisticados são os petits
fours frescos (como as tartelettes) e os secos (biscoitos e macaroons) -mas há ainda os macios (muffins e madeleines) e as
frutas cristalizadas. Em outras
casas, como o Capim Santo, a
bebida vem com colherinhas
com brigadeiro de chocolate, de
castanha de caju e de pistache.
"O sucesso depende da arte
de surpreender os clientes", diz
Lucia Soares, 52, professora de
confeitaria da Universidade
Anhembi Morumbi.
Para ela, esse ritual que envolve o serviço do cafezinho deve-se a fatores como a proliferação de boas cafeterias, a melhoria do café brasileiro e o
aprimoramento da mão-de-obra. "Os petits fours são mais
uma estratégia para incrementar o negócio, de ter um diferencial", diz. "O Brasil ocupa
hoje a segunda colocação em
consumo interno de café. Sinal
de que há mais e mais gente
sendo fisgada pelo cafezinho e
pelas surpresas em torno dele."
Em geral, tais guloseimas não
são cobradas à parte. Paga-se
apenas o valor do café, que varia de R$ 3 a R$ 4,50, ou do chá
-R$ 3 a R$ 6 (o importado).
Mas, ao oferecer uma bandeja de petits fours tão farta, os
clientes não acabam pulando,
sem escalas, do prato principal
direto para o café, deixando de
lado as lucrativas sobremesas?
Chefs, restaurateurs e gerentes
têm opiniões divergentes.
"Pede-se a sobremesa também porque come-se com os
olhos", diz Aristides Moreira
Cardoso, gerente do restaurante português A Bela Sintra, que
aos domingos enriquece ainda
mais a bandeja de doces com os
irresistíveis pastéis de Belém.
No Le Chef Rouge, onde as
sobremesas ficam expostas em
um balcão, a chef Renata Braune diz que o apelo visual das
tortas fala mais alto. "Conheço
gente que come a sobremesa,
abre mão do café, mas não deixa de pedir os petits fours", diz.
Por outro lado há os que pulam direto para as guloseimas:
"Tem cliente que dispensa o café, a sobremesa e só pede o petit
four", diz Antonio Onorato, gerente do A Figueira Rubaiyat,
famosa pela telha de amêndoas.
O chef do La Risotteria Alessandro Segato observa outro
comportamento: "Tenho ouvido comentários de pessoas que
não podem comer sobremesa
porque estão fazendo regime e
que decidem suprir a carência
de açúcar com os petits fours
do café", conta Segato.
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