São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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cinema dinossauro

Titãs editam 26 anos de carreira em documentário que usa vídeos feitos por Branco Mello e relíquias em VHS

Divulgação
A banda, enlameada, na Chapada dos Guimarães, nos anos 80, em cena que está no filme

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Isso aí é punk?", pergunta uma espantada Hebe Camargo aos oito rapazes de terninhos, maquiagem e cabelos bizarros que estão no palco do seu programa, em 1984. "Isso é "Sonífera Ilha'", responde Branco Mel-lo, antes de a banda dublar a música num playback "trash".
A cena -engraçada, estranha, pop e retrô- é um bom exemplo do material que está em "Titãs - A Vida até Parece uma Festa", documentário que passa na Mostra de Cinema de São Paulo no próximo dia 28 e tem lançamento nacional marcado para 16 de janeiro.
O filme compila em 90 minutos as 300 horas de imagens (a maior parte vindas de fitas VHS, ou seja, de qualidade sofrível) acumuladas ao longo de 26 anos de carreira dos Titãs.
"Quando ganhei meu primeiro cachê bacana, em 1986, depois do "Cabeça Dinossauro", comprei a câmera e saímos pela estrada filmando tudo", diz Branco Mello, um dos vocalistas e compositores da banda e o idealizador do filme.
O que se vê na tela, segundo ele, "é a intimidade total da banda". "Não tinha censura para nada, a câmera era nossa companheira, ninguém tinha pudor. Não era alguém externo filmando, éramos nós."
Como resultado, "as barbaridades todas estão lá", diz o cantor -um bom exemplo é a seqüência em que ele, Sérgio Britto e Marcelo Fromer, em estados alterados da mente, fazem uma festa particular alucinada, que inclui um fondue de creme de barbear e disco de vinil.

Diversão é solução
Mais do que barbaridades, o filme tem muito humor, tanto nas brincadeiras de bastidores do grupo quanto nas hilárias participações em programas de TV dos anos 80.
"A mãe do Nando [Reis] gravava no videocassete muitos programas de auditório que hoje nem as próprias TVs têm", diz Branco. Um exemplo é a divertida participação da banda no quadro "Sonho Maluco", de Gugu Liberato, em 1985, encenando o salvamento de uma fã raptada por uma aranha.
De posse do material gravado por eles mesmos e de outros doados por amigos e familiares, Branco começou a dar forma ao filme em 2002, quando conheceu Oscar Rodrigues Alves, co-diretor do documentário.
"Ele fez o vídeo de "Epitáfio", que foi muito marcante, aí começou uma amizade e eu o convidei para dar esse mergulho no material, precisava de uma pessoa de confiança absoluta para entregar algo tão íntimo."
A partir de então, foram seis anos "desembaralhando" as imagens para criar um filme.
"A gente viu que a história estava lá, só era preciso montá-la de uma maneira esperta. Não nos preocupamos em explicar de modo didático", diz Alves.
A música serve de "narradora", já que os trechos importantes da carreira dos Titãs vão sendo pontuados pela trilha.
Assim, "Estado Violência" serve de base para a história da prisão de Tony Bellotto e Arnaldo Antunes (veja quadro ao lado), "Família" mostra, obviamente, momentos em família, "Epitáfio" ilustra a morte de Marcelo Fromer (que aparece cantando o refrão da canção).
Depois de sua temporada no cinema, no ano que vem, o filme traçará novos rumos -será exibido pela MTV e ganhará um DVD com muitos extras.
"Ainda temos um tesouro a ser explorado", diz Branco sobre o material que ficou de fora. Ele inclui, por exemplo, a banda cantando o hit baiano "Faraó" com Lulu Santos e fazendo um carnaval na Argentina com os Paralamas do Sucesso.


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