São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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OPINIÃO AÇÃO

Recepção de "adeptos" definirá êxito de "Tropa 2"

Mais reflexiva e política, sequência consegue ser ao mesmo tempo mais complexa e acessível aos espectadores

O QUE VIGORA É UM FRANCO, SIMPLES E ATÉ CERTO PONTO RASTEIRO NIILISMO: O MAL SÃO OS POLÍTICOS, OU PIOR QUE ESTÁ NÃO FICA

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O sucesso impressionante (1,25 milhão de espectadores no fim de semana, segundo dados prévios) indica, em primeiro lugar, que os distribuidores brasileiros aprenderam como se lança um "blockbuster". "Tropa 2" pode ser o maior desses lançamentos, mas não é o primeiro, que o digam "Nosso Lar" e "Chico Xavier".
O novo "Tropa" tinha o que capitalizar: a figura carismática do capitão Nascimento e o efeito do primeiro filme, ou seja, a ideia de que uma polícia honesta e enérgica seria capaz de resolver todos os males.
"Tropa de Elite 2" não evitou o risco de desmontar a imagem do capitão. Promovido a burocrata da Segurança Pública, ele tem de enfrentar inimigos mais poderosos que demonstrarão o tamanho de sua impotência.
O ex-herói armado que botava o morro abaixo agora tem de se entender com as milícias (espécie de máfia que vende proteção) e, sobretudo, com os políticos.
Esqueça as milícias: é na política que está centrado o pensamento dos responsáveis por "Tropa de Elite 2".
Disposto, talvez, a eliminar as ambiguidades do primeiro exemplar, que provocaram reações negativas nos meios mais intelectualizados, o filme baixou o tom da violência ostensiva para mostrá-la sub-reptícia. O mal é a mídia, os jornais comprometidos com o governo, a TV sensacionalista. São os políticos dispostos a qualquer coisa para ganhar a eleição. Aquilo que o hoje tenente-coronel Nascimento designa como "o sistema".

PIOR NÃO FICA
Se a abertura de um filme depende muitíssimo da publicidade, seu destino tem muito a ver com a recepção dos espectadores. Apesar de alguns espancamentos providenciais (aplaudidos em cena aberta na exibição inaugural, em Paulínia), temos aqui um filme mais reflexivo.
"Tropa 2" sabe investir na maior complexidade, medi-la e torná-la ao alcance da simplicidade de seus, mais que espectadores, adeptos.
Apesar das reviravoltas, dos discursos inflamados e até da introdução do "justiceiro intelectual" (na figura do esquerdista arquirrival de Nascimento), o que vigora é mesmo um franco, simples e até certo ponto rasteiro niilismo: o mal são os políticos, ou pior do que está não fica.
O pensamento "tiririquesco" talvez não compreenda até onde chega seu ardil. Se rendeu tantos votos ao palhaço-político, por que não renderia número proporcional de espectadores ao filme?
Resta um enigma: se nem o quartel do Bope dá conta de nossos sonhos sádicos de "homens de bem", de que quartel poderia vir a redenção? Estará pensando nisso o espectador ao final do filme?


TROPA DE ELITE 2
DIREÇÃO José Padilha
PRODUÇÃO Brasil, 2010
COM Wagner Moura, Tainá Müller
ONDE nos cines Bristol, Eldorado, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos




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