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OPINIÃO AÇÃO
Recepção de "adeptos" definirá êxito de "Tropa 2"
Mais reflexiva e política, sequência consegue ser ao mesmo tempo mais complexa e acessível aos espectadores
O QUE VIGORA É UM FRANCO, SIMPLES E ATÉ CERTO PONTO RASTEIRO NIILISMO: O MAL SÃO OS POLÍTICOS, OU PIOR QUE ESTÁ NÃO FICA
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O sucesso impressionante
(1,25 milhão de espectadores
no fim de semana, segundo
dados prévios) indica, em
primeiro lugar, que os distribuidores brasileiros aprenderam como se lança um
"blockbuster". "Tropa 2" pode ser o maior desses lançamentos, mas não é o primeiro, que o digam "Nosso Lar"
e "Chico Xavier".
O novo "Tropa" tinha o
que capitalizar: a figura carismática do capitão Nascimento e o efeito do primeiro
filme, ou seja, a ideia de que uma polícia honesta e enérgica seria capaz de resolver todos os males.
"Tropa de Elite 2" não evitou o risco de desmontar a
imagem do capitão. Promovido a burocrata da Segurança Pública, ele tem de enfrentar inimigos mais poderosos que demonstrarão o tamanho de sua impotência.
O ex-herói armado que botava o morro abaixo agora tem de se entender com as
milícias (espécie de máfia que vende proteção) e, sobretudo, com os políticos.
Esqueça as milícias: é na
política que está centrado o
pensamento dos responsáveis por "Tropa de Elite 2".
Disposto, talvez, a eliminar as ambiguidades do primeiro exemplar, que provocaram reações negativas nos
meios mais intelectualizados, o filme baixou o tom da
violência ostensiva para
mostrá-la sub-reptícia.
O mal é a mídia, os jornais
comprometidos com o governo, a TV sensacionalista. São
os políticos dispostos a qualquer coisa para ganhar a eleição. Aquilo que o hoje tenente-coronel Nascimento designa como "o sistema".
PIOR NÃO FICA
Se a abertura de um filme
depende muitíssimo da publicidade, seu destino tem
muito a ver com a recepção
dos espectadores. Apesar de
alguns espancamentos providenciais (aplaudidos em
cena aberta na exibição inaugural, em Paulínia), temos
aqui um filme mais reflexivo.
"Tropa 2" sabe investir na
maior complexidade, medi-la e torná-la ao alcance da
simplicidade de seus, mais que espectadores, adeptos.
Apesar das reviravoltas,
dos discursos inflamados e
até da introdução do "justiceiro intelectual" (na figura
do esquerdista arquirrival de
Nascimento), o que vigora é
mesmo um franco, simples e
até certo ponto rasteiro niilismo: o mal são os políticos, ou
pior do que está não fica.
O pensamento "tiririquesco" talvez não compreenda
até onde chega seu ardil. Se
rendeu tantos votos ao palhaço-político, por que não
renderia número proporcional de espectadores ao filme?
Resta um enigma: se nem
o quartel do Bope dá conta de
nossos sonhos sádicos de
"homens de bem", de que
quartel poderia vir a redenção? Estará pensando nisso o
espectador ao final do filme?
TROPA DE ELITE 2
DIREÇÃO José Padilha
PRODUÇÃO Brasil, 2010
COM Wagner Moura, Tainá Müller
ONDE nos cines Bristol, Eldorado, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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