São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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DISCO/CRÍTICA

Banda lança a última produção de Tom Capone, morto num acidente em setembro, em Los Angeles

Barão sobrevive feito formiga do pop-rock

DA REPORTAGEM LOCAL

Sobrevivência parece ser o nome de guerra do grupo carioca Barão Vermelho, que volta agora com o primeiro álbum inédito em seis anos, sob o básico título de "Barão Vermelho".
A banda, conhecida desde 1982, sobreviveu primeiro à saída do líder Cazuza (depois sobreviveria à sua morte, mas isso é capítulo à parte), em 85. O "segundo homem" Frejat teve de superar o descrédito por sobre um Barão que fosse liderado por ele. Superou, e a banda seguiu estrada.
Ao longo de quase duas décadas, Frejat foi se afirmando bom compositor e intérprete de domínio, mesmo sem contar com grandes recursos vocais. Foi tanto isso que o líder que era segundo líder resolveu voar sozinho. Desde 2001, gravou dois discos solo, sob boatarias sobre o fim do Barão.
Pois, não, o grupo resistiu a mais essa. O CD atual nasce sob o signo da persistência, de volta ao rock básico que o eletrônico "Puro Êxtase" (98) ousara desprezar -e por isso tomara chumbo.
Não acabou o périplo. O disco novo teve de superar mais um baque: a morte prematura do produtor Tom Capone pouco antes de sua conclusão. E está aí, dentro dos limites da digna sobrevivência, dando chance a uma rápida reflexão sobre a passagem do produtor pela música nacional.
Capone não foi exatamente um produtor genial ou revolucionário. Seu mérito, em vez disso, foi o de transformar neles mesmos os artistas com quem trabalhava (e eles eram tão diversos quanto Raimundos e Maria Rita). Era mais formiga que cigarra e, por falar nisso, é fácil estender a avaliação ao Barão Vermelho que testemunhou sua última produção.
Porque o álbum é direto, simples, não porta grandes ambições. Dentro disso, produz instantes pop-rock de qualidade, como "Cara a Cara", "Cuidado", a baladona corajosa de separação "Cigarro Aceso no Braço": "Isso não é mais amor/ (...) você dormindo hoje ao meu lado/ é um cigarro aceso queimando meu braço".
Não brilha, mas irradia dignidade -contra o obstáculo de que sobreviver, no senso comum do rock, costuma se transformar em palavrão quando se perde a juventude e o frescor. (Ah, mas, se você ouvir Frejat cantando manso e gostoso, perceberá que ele é formiga, mas também é cigarra.)
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Barão Vermelho
   
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30, em média



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