|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/CRÍTICA
Banda lança a última produção de Tom Capone, morto num acidente em setembro, em Los Angeles
Barão sobrevive feito formiga do pop-rock
DA REPORTAGEM LOCAL
Sobrevivência parece ser o
nome de guerra do grupo carioca Barão Vermelho, que volta
agora com o primeiro álbum inédito em seis anos, sob o básico título de "Barão Vermelho".
A banda, conhecida desde 1982,
sobreviveu primeiro à saída do líder Cazuza (depois sobreviveria à
sua morte, mas isso é capítulo à
parte), em 85. O "segundo homem" Frejat teve de superar o
descrédito por sobre um Barão
que fosse liderado por ele. Superou, e a banda seguiu estrada.
Ao longo de quase duas décadas, Frejat foi se afirmando bom
compositor e intérprete de domínio, mesmo sem contar com
grandes recursos vocais. Foi tanto
isso que o líder que era segundo líder resolveu voar sozinho. Desde
2001, gravou dois discos solo, sob
boatarias sobre o fim do Barão.
Pois, não, o grupo resistiu a
mais essa. O CD atual nasce sob o
signo da persistência, de volta ao
rock básico que o eletrônico "Puro Êxtase" (98) ousara desprezar
-e por isso tomara chumbo.
Não acabou o périplo. O disco
novo teve de superar mais um baque: a morte prematura do produtor Tom Capone pouco antes
de sua conclusão. E está aí, dentro
dos limites da digna sobrevivência, dando chance a uma rápida
reflexão sobre a passagem do produtor pela música nacional.
Capone não foi exatamente um
produtor genial ou revolucionário. Seu mérito, em vez disso, foi o
de transformar neles mesmos os
artistas com quem trabalhava (e
eles eram tão diversos quanto
Raimundos e Maria Rita). Era
mais formiga que cigarra e, por
falar nisso, é fácil estender a avaliação ao Barão Vermelho que testemunhou sua última produção.
Porque o álbum é direto, simples, não porta grandes ambições.
Dentro disso, produz instantes
pop-rock de qualidade, como
"Cara a Cara", "Cuidado", a baladona corajosa de separação "Cigarro Aceso no Braço": "Isso não
é mais amor/ (...) você dormindo
hoje ao meu lado/ é um cigarro
aceso queimando meu braço".
Não brilha, mas irradia dignidade -contra o obstáculo de que
sobreviver, no senso comum do
rock, costuma se transformar em
palavrão quando se perde a juventude e o frescor. (Ah, mas, se
você ouvir Frejat cantando manso
e gostoso, perceberá que ele é formiga, mas também é cigarra.)
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Barão Vermelho
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30, em média
Texto Anterior: Rogério Sganzerla recebe tributo nos festivais de Turim e de Roma Próximo Texto: Erika Palomino Índice
|