São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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MÚSICA

Influenciado pelo cantor, Sons and Daughters lança disco enxuto e dark

Johnny Cash expele filhos escoceses

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Morto em 2003 aos 71 anos, Johnny Cash foi dos personagens mais marcantes e cheios de histórias da música pop.
Aos 18, serviu na Guerra da Coréia. Viciado em anfetamina, foi acusado de incitar um incêndio numa floresta; foi preso por tentar cruzar a fronteira do Texas com drogas camufladas em sua guitarra; depois, voltou a ser detido por invadir uma casa de campo para colher algumas flores; num show dentro de uma cadeia, gravou um disco ao vivo que chegou ao topo da parada norte-americana; após tentativa de suicídio, virou cristão e esteve 30 anos à frente de Mel Gibson, ao produzir e narrar o épico "Gospel Road: A Story of Jesus", em 1973.
Apelidado de "Man in Black" pelo modo como se vestia, o lendário cantor country americano teve sua influência espalhada por todos os cantos da música. "Todo homem sabe que é um maricas se comparado a Johnny Cash", disse o irlandês e líder do U2, Bono Vox, certa vez. Pois o legado de Cash continua a dar frutos.
O mais notório vem da... Escócia. De Glasgow para o mundo, o quarteto Sons and Daughters aparece para o mundo com um disco enxuto, seco, dark, de apenas 25 minutos. Lançado de forma tímida em 2003, "The Love Cup", que vem puxado pelo single "Johnny Cash", foi redescoberto neste ano pelo importante selo inglês Domino e, por tabela, chega ao Brasil pela distribuidora Peligro (www.peligro.com.br).
E foram necessários apenas esses 25 minutos para jogar o Sons and Daughters no meio de uma "tempestade de mídia": abrir a turnê do superfalado Franz Ferdinand. "Fizemos vários shows juntos neste ano, foi muito bom. O hype em torno deles já era grande. Uma coisa interessante de acompanhar, para nós, foi como eles lidavam com aquela "tempestade de mídia" que os cercava. Mas não somos comercialmente viáveis como eles. Nossas canções são muito dark", disse à Folha o guitarrista Scott Paterson. Ele divide os vocais com Adele Bethel. Completam a banda David Gow (bateria) e Ailidh Lennon (baixo) -Gow e Bethel tocavam com o Arab Strap, um grupo folk-pop de Glasgow.
Aliada à temática dark e seca de suas letras, chama a atenção no Sons and Daughters a peculiaridade de sua música. Se há muito do alt.country americano, de bandas como Calexico e Wilco, há muito mais do que isso, carregado de crueza e peso. Por isso já foi classificado -por paradoxal que pareça- como "folk punk".
"Todas as canções são diretas, tentamos deixar todos os instrumentos concisos, minimalistas. Não queremos ser uma banda americana, mais uma daquelas bandas de alt.country. Amamos punk, pós-punk; o country é só uma parte disso. Não sei como descrever. Em toda entrevista nos perguntam isso...", diz Paterson, que reafirma a influência de Johnny Cash em sua banda.
"[A canção 'Johnny Cash'] Não é na verdade muito parecida com as de Johnny Cash. Acho que é mais abstrata, ambígua. Foi inspirada pela autobiografia dele ["Man in Black", 1975], mas não é sobre ele. Ele é uma influência, adoramos as estruturas de suas canções. Gosto especialmente do álbum ao vivo na prisão ["At Folsom Prison", 1968]."
Paterson explica por que a escolha de gravar um disco tão curto, de apenas 25 minutos: "Faz com que as pessoas não se distraiam, não percam a atenção. O disco acaba e você nem nota, então o coloca para tocar de novo. Gosto de álbuns curtos por isso: você tende a tocá-los mais do que os discos de longa duração".


LOVE THE CUP. Artista: Sons and Daughters. Lançamento: Domino Recording. Quanto: R$ 35. Onde comprar: www.peligro.com.br.


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