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MÚSICA
Influenciado pelo cantor, Sons and Daughters lança disco enxuto e dark
Johnny Cash expele filhos escoceses
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Morto em 2003 aos 71 anos,
Johnny Cash foi dos personagens
mais marcantes e cheios de histórias da música pop.
Aos 18, serviu na Guerra da Coréia. Viciado em anfetamina, foi
acusado de incitar um incêndio
numa floresta; foi preso por tentar
cruzar a fronteira do Texas com
drogas camufladas em sua guitarra; depois, voltou a ser detido por
invadir uma casa de campo para
colher algumas flores; num show
dentro de uma cadeia, gravou um
disco ao vivo que chegou ao topo
da parada norte-americana; após
tentativa de suicídio, virou cristão
e esteve 30 anos à frente de Mel
Gibson, ao produzir e narrar o
épico "Gospel Road: A Story of Jesus", em 1973.
Apelidado de "Man in Black"
pelo modo como se vestia, o lendário cantor country americano
teve sua influência espalhada por
todos os cantos da música. "Todo
homem sabe que é um maricas se
comparado a Johnny Cash", disse
o irlandês e líder do U2, Bono
Vox, certa vez. Pois o legado de
Cash continua a dar frutos.
O mais notório vem da... Escócia. De Glasgow para o mundo, o
quarteto Sons and Daughters
aparece para o mundo com um
disco enxuto, seco, dark, de apenas 25 minutos. Lançado de forma tímida em 2003, "The Love
Cup", que vem puxado pelo single "Johnny Cash", foi redescoberto neste ano pelo importante
selo inglês Domino e, por tabela,
chega ao Brasil pela distribuidora
Peligro (www.peligro.com.br).
E foram necessários apenas esses 25 minutos para jogar o Sons
and Daughters no meio de uma
"tempestade de mídia": abrir a
turnê do superfalado Franz Ferdinand. "Fizemos vários shows juntos neste ano, foi muito bom. O
hype em torno deles já era grande.
Uma coisa interessante de acompanhar, para nós, foi como eles lidavam com aquela "tempestade
de mídia" que os cercava. Mas não
somos comercialmente viáveis
como eles. Nossas canções são
muito dark", disse à Folha o guitarrista Scott Paterson. Ele divide
os vocais com Adele Bethel. Completam a banda David Gow (bateria) e Ailidh Lennon (baixo)
-Gow e Bethel tocavam com o
Arab Strap, um grupo folk-pop de
Glasgow.
Aliada à temática dark e seca de
suas letras, chama a atenção no
Sons and Daughters a peculiaridade de sua música. Se há muito
do alt.country americano, de bandas como Calexico e Wilco, há
muito mais do que isso, carregado
de crueza e peso. Por isso já foi
classificado -por paradoxal que
pareça- como "folk punk".
"Todas as canções são diretas,
tentamos deixar todos os instrumentos concisos, minimalistas.
Não queremos ser uma banda
americana, mais uma daquelas
bandas de alt.country. Amamos
punk, pós-punk; o country é só
uma parte disso. Não sei como
descrever. Em toda entrevista nos
perguntam isso...", diz Paterson,
que reafirma a influência de
Johnny Cash em sua banda.
"[A canção 'Johnny Cash'] Não
é na verdade muito parecida com
as de Johnny Cash. Acho que é
mais abstrata, ambígua. Foi inspirada pela autobiografia dele
["Man in Black", 1975], mas não é
sobre ele. Ele é uma influência,
adoramos as estruturas de suas
canções. Gosto especialmente do
álbum ao vivo na prisão ["At Folsom Prison", 1968]."
Paterson explica por que a escolha de gravar um disco tão curto,
de apenas 25 minutos: "Faz com
que as pessoas não se distraiam,
não percam a atenção. O disco
acaba e você nem nota, então o
coloca para tocar de novo. Gosto
de álbuns curtos por isso: você
tende a tocá-los mais do que os
discos de longa duração".
LOVE THE CUP. Artista: Sons and
Daughters. Lançamento: Domino
Recording. Quanto: R$ 35. Onde
comprar: www.peligro.com.br.
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