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FOTOGRAFIA
Primeira exposição do mexicano no Brasil, "O Pincel da Câmera" (CCBB de Brasília) tem imagens de procissão em Goiás
Mostra une arte e tecnologia de Pedro Meyer
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com a exposição "O Pincel da
Câmera", que será inaugurada
amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, dentro
da programação do Foto Arte
2005, o polêmico fotógrafo mexicano Pedro Meyer, 70, toca de
uma só vez em duas feridas expostas da fotografia ao longo de
sua história: a ligação com a pintura e a aura de realismo que o
senso comum devota às imagens
técnicas.
Meyer é um pesquisador obsessivo das possibilidades expressivas da fotografia. Para se ter uma
idéia, na década de 80 ele auxiliou
nas pesquisas que culminaram na
criação das câmeras digitais. Depois realizou os Colóquios Latino-Americanos de Fotografia, no
México, que hoje estão na 20ª edição. Em 1991, lançou o que hoje é
considerado o primeiro CD-ROM
com fotos e áudio, "Fotografío para Recordar", com uma emocionante narrativa sobre os últimos
meses de vida de seus pais. A obra
é item de colecionadores.
Quando a internet chegou, Meyer criou o site www.zonezero.
com -citado recentemente por
revistas especializadas como um
dos cinco melhores websites de
arte do mundo-, voltado para a
publicação de ensaios fotográficos de autores do mundo todo
que recebem tratamento gráfico
diferenciado após seleção de Meyer e sua equipe.
O mexicano vê na massificação
das câmeras digitais e dos programas de manipulação de imagem a
oportunidade da "fotografia se livrar de vez da pretensa objetividade, dessa idéia de duplo do real,
que a ela foi imposta desde o século 19".
Com o provocador título de "O
Pincel da Câmera", primeira
mostra de Meyer no Brasil, o artista joga pelos ares essa objetividade na busca de uma expressão
autoral. "Porque devo respeitar
aquilo que o engenheiro que fez a
câmera programou? Ao intervir
subverto e me manifesto como
penso", diz ele.
A maioria das imagens da exposição foi feita durante a procissão
do Divino Padre Eterno, na cidade de Trindade (Goiás), no ano
passado. São retratos de romeiros
demonstrando fé, dor, alegria.
Meyer tem a peculiaridade de fotografar as pessoas de frente e de
surpresa, tentando captar a expressão no seu ápice.
Trabalho no computador
Com as imagens captadas, sempre por câmeras digitais -ele sugere que as câmeras de filmes se
tornaram peças de museu-, Meyer as trabalha em seu Macintosh.
Com uma das ferramentas, uma
versão computadorizada de um
pincel, ele embaralha os pixels
que formam o fundo, preservando a imagem do personagem.
Geralmente ele não altera as cores do fundo ou a luminosidade.
O resultado sugere uma fusão entre fotografia e pintura. "O monitor do computador é um espaço
que opera como se fosse um cenário. Eu, como diretor, movo as luzes, os atores e tecido onde deve
ficar cada elemento. O termo fotografia, escrever com a luz, deixou de ser uma metáfora pela primeira vez na história", explica.
Mas nem por isso "o tempo da
fotografia testemunhal terminou", como afirma o fotógrafo.
Mesmo nas suas imagens há a
preservação do testemunho, da
centelha de real que justifica a
obra, caso contrário, ele não necessitaria do referente, embora este apareça menos afirmativo que
na prática fotojornalística e pleno
de uma subjetividade outra.
As imagens finais, porém, soam
ainda um tanto deslumbradas
com a tecnologia. Estão mais para
manifesto que arte, mais para um
catálogo de possibilidades que para uma mostra com conceito e estética em equilíbrio. Sem problema. A função de Meyer no mundo
da fotografia é mais a de expandir
fronteiras e derrubar mitos e preconceitos do que se firmar como
artista. É um iconoclasta. E os iconoclastas movem a história.
Pedro Meyer - O Pincel da Câmera
Quando: ter. a dom., das 10h às 21h; até 5/2
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil
-Galeria 2 (SCES, trecho 2, lote 22,
Brasília, tel. 0/xx/61/3310-7087
Quanto: entrada franca
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