São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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PERSONALIDADE

Grupo cria corrente para cobrir despesas

Augusto Boal opera o joelho e está internado em hospital nos EUA

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O autor e diretor carioca Augusto Boal, 73, nome do teatro nacional mais conhecido no exterior, está internado num hospital de San Francisco, Califórnia (EUA). Ele se recupera de duas cirurgias no joelho esquerdo. Uma bactéria, provável conseqüência de uma tuberculose, atacou o membro inferior. A evolução para quadro de septicemia (processo infeccioso generalizado) levou-o à mesa de operação.
Segundo sua mulher, a psicanalista Cecília Boal, 61, que está no Rio e conversa com ele por telefone, o diretor passa bem, deixou a ala dos pacientes graves e se recupera sob efeitos de antibióticos.
Apesar de internado há 11 dias, a notícia sobre Boal vem à tona depois da circulação de corrente pela internet na qual uma companhia canadense, a Headlines Theatre, arrecada fundos para as despesas do hospital Saint Mary's Medical Center, estimadas em cerca de US$ 80 mil (R$ 240 mil).
Criada em 1981, a Headlines é uma das dezenas de companhias espalhadas pelo mundo que conjugam arte e ativismo político com inspiração no Teatro do Oprimido, o conjunto de exercícios, jogos e técnicas que Boal desenvolveu desde os anos 60, quando grupos ligados ao Teatro de Arena de São Paulo atuavam em sindicatos, igrejas etc.
No Teatro do Oprimido, o público, sobretudo aquele à margem da sociedade, ocupa a cena e a conduz de acordo com sua vivência. "É uma metodologia transformadora que propõe o diálogo como meio de refletir e buscar alternativas para conflitos interpessoais e sociais", escreveu Boal.
Segundo a coordenadora do Centro do Teatro do Oprimido no Rio, Bárbara Santos, 40, a mobilização para custear as despesas do hospital envolve instituições pelas quais Boal já passou na América Latina, na Europa e nos EUA, dando oficinas.
"Como ele não tem seguro-saúde e os custos são altos, os amigos não achavam justo que pagasse a conta estando a trabalho", diz Santos. Boal viajou para os EUA no final de abril.
Para Cecília Boal, trata-se de uma infecção oportunista no mesmo joelho lesionado durante as torturas que o diretor sofreu no presídio Tiradentes, em São Paulo, no início dos anos 70, como relata na autobiografia "Hamlet e o Filho do Padeiro - Memórias Imaginadas" (2000) ou na peça "Torquemada" (1971), escrita na cela e representada por universitários nas cidades de Buenos Aires e de Nova York.
"São as seqüelas do pau-de-arara", diz Cecília, que também foi ao exílio com os dois filhos (1971-86). "Perdemos tudo à época."
Há sete anos, Boal move processo de indenização baseado na Lei de Anistia, de 1979. Segundo sua advogada, Eny Moreira, o pedido está na comissão especial do Ministério da Justiça. "Ele, que não é aposentado, teve que pedir certificados para provar que era um homem de teatro", diz Cecília sobre o engenheiro químico que foi contaminado pelo teatro.


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