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PERSONALIDADE
Grupo cria corrente para cobrir despesas
Augusto Boal opera o joelho e está internado em hospital nos EUA
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O autor e diretor carioca Augusto Boal, 73, nome do teatro nacional mais conhecido no exterior,
está internado num hospital de
San Francisco, Califórnia (EUA).
Ele se recupera de duas cirurgias
no joelho esquerdo. Uma bactéria, provável conseqüência de
uma tuberculose, atacou o membro inferior. A evolução para quadro de septicemia (processo infeccioso generalizado) levou-o à
mesa de operação.
Segundo sua mulher, a psicanalista Cecília Boal, 61, que está no
Rio e conversa com ele por telefone, o diretor passa bem, deixou a
ala dos pacientes graves e se recupera sob efeitos de antibióticos.
Apesar de internado há 11 dias, a
notícia sobre Boal vem à tona depois da circulação de corrente pela internet na qual uma companhia canadense, a Headlines
Theatre, arrecada fundos para as
despesas do hospital Saint Mary's
Medical Center, estimadas em
cerca de US$ 80 mil (R$ 240 mil).
Criada em 1981, a Headlines é
uma das dezenas de companhias
espalhadas pelo mundo que conjugam arte e ativismo político
com inspiração no Teatro do
Oprimido, o conjunto de exercícios, jogos e técnicas que Boal desenvolveu desde os anos 60, quando grupos ligados ao Teatro de
Arena de São Paulo atuavam em
sindicatos, igrejas etc.
No Teatro do Oprimido, o público, sobretudo aquele à margem
da sociedade, ocupa a cena e a
conduz de acordo com sua vivência. "É uma metodologia transformadora que propõe o diálogo como meio de refletir e buscar alternativas para conflitos interpessoais e sociais", escreveu Boal.
Segundo a coordenadora do
Centro do Teatro do Oprimido no
Rio, Bárbara Santos, 40, a mobilização para custear as despesas do
hospital envolve instituições pelas
quais Boal já passou na América
Latina, na Europa e nos EUA,
dando oficinas.
"Como ele não tem seguro-saúde e os custos são altos, os amigos
não achavam justo que pagasse a
conta estando a trabalho", diz
Santos. Boal viajou para os EUA
no final de abril.
Para Cecília Boal, trata-se de
uma infecção oportunista no
mesmo joelho lesionado durante
as torturas que o diretor sofreu no
presídio Tiradentes, em São Paulo, no início dos anos 70, como relata na autobiografia "Hamlet e o
Filho do Padeiro - Memórias Imaginadas" (2000) ou na peça "Torquemada" (1971), escrita na cela e
representada por universitários
nas cidades de Buenos Aires e de
Nova York.
"São as seqüelas do pau-de-arara", diz Cecília, que também foi ao
exílio com os dois filhos (1971-86).
"Perdemos tudo à época."
Há sete anos, Boal move processo de indenização baseado na Lei
de Anistia, de 1979. Segundo sua
advogada, Eny Moreira, o pedido
está na comissão especial do Ministério da Justiça. "Ele, que não é
aposentado, teve que pedir certificados para provar que era um homem de teatro", diz Cecília sobre
o engenheiro químico que foi
contaminado pelo teatro.
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