São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2011

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cinema

CRÍTICA DRAMA

Manoel de Oliveira retoma voyeurismo em adaptação de Eça


OLIVEIRA, SEGUINDO LITERALMENTE O CONTO DE EÇA DE QUEIRÓS, ENFATIZA O DESCOMPASSO ENTRE A VOLÚPIA E A CONQUISTA


Longa-metragem do diretor português brinca de espiar sedução em "Singularidades de uma Rapariga Loura"

CÁSSIO STARLING CARLOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O penúltimo filme do diretor português Manoel de Oliveira, atualmente com 102 anos de idade, retoma uma ação praticada, no claro ou no escuro, há milênios pela humanidade e há mais de um século por quem gosta de cinema: o voyeurismo.
"Singularidades de uma Rapariga Loura", baseado num conto publicado em 1874 pelo escritor português Eça de Queirós, traça os sentimentos de amor e insanidade de um jovem comerciante pela aparição que vê surgir um certo dia à varanda de seu escritório.
Como um velhinho safado, Oliveira nos põe a espiar a situação consagrada por Alfred Hitchcock no clássico do voyeurismo, "Janela Indiscreta", brincando com nossos impulsos de querer saber da vida alheia.
O que se passa entre Macário e Luísa pertence mais à ordem da sedução que da posse. A cada dia, ele vai contemplar as aparições dela girando eroticamente um leque, seguir seus passos e se esforçar para ter recursos e um dia obter sua mão.
Oliveira, seguindo literalmente o conto de Queirós, enfatiza o descompasso entre a volúpia e a conquista. E desde o início sabemos que tudo deu errado, já que o filme começa com o protagonista revelando sua frustração a uma desconhecida num trem.
Isso lhe permite deter-se no tema do fascínio por um objeto que aumenta à medida que escapa do alcance.
De Platão a David Lynch, passando por Hitchcock, a paixão tem sempre representado o inexplicável jogo em que adoramos conjugar o desejo e o inalcançável.
Novamente acompanhados por uma bela loura, podemos ir ao cinema sabendo que ali é o único lugar em que a chata da realidade não virá atrapalhar o prazer de confundir uma imagem com uma miragem.

SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA

DIREÇÃO Manoel de Oliveira
PRODUÇÃO Portugal/Espanha/ França, 2009
COM Ricardo Trêpa, Catarina Wallenstein e Diogo Dória
ONDE nos cines Sabesp e Espaço Unibanco Augusta
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom


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