São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2011

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"Filmes nacionais sobre sexo são ruins"

Domingos de Oliveira diz que longas brasileiros sobre o tema, na maioria das vezes, "acabam em pornografia'

"Todo Mundo Tem Problemas Sexuais", com Cláudia Abreu e Pedro Cardoso, estreia hoje em SP e no Rio

MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

Com estreia nos cinemas do Rio e de São Paulo hoje, a comédia "Todo Mundo Tem Problemas Sexuais", de Domingos de Oliveira, 74, é uma adaptação para as telas de peça homônima do diretor, que já foi assistida por mais de 200 mil espectadores. O roteiro é inspirado em casos de pessoas que enviaram cartas sobre seus problemas sexuais ao psicanalista Alberto Goldin, colunista do jornal "O Globo".
O filme foi exibido pela primeira vez no Festival do Rio, em 2008, e ganhou uma conotação política, quando o ator protagonista, Pedro Cardoso, aproveitou a exibição para ler um manifesto contra a nudez no cinema nacional.

 


Folha - Você concorda com a opinião de Pedro Cardoso?
Domingos de Oliveira
- Foi algo ocasional, mas acho que ele não defende tanto assim essa bandeira. As pessoas gostam de ficar nuas, gostam de ser desejadas e se não houver nenhum desrespeito extra ao fato de estar nu, é algo muito bem-vindo.

Não há nudez no seu filme...
É uma obra que não quer trair suas origens teatrais. E se quisesse botar nudez naquela peça não daria para fazê-la. Os assuntos são escandalosos demais e iria misturar dois canais. A graça é ver as histórias com distância, com humor e humanidade.

Você acha que a peça fez sucesso por mostrar o sexo de uma forma mais real?
Acho que sim. O filme, baseado na peça, tem um lastro maior com a realidade. Os filmes nacionais sobre sexo em geral são muito ruins. Isso porque na maioria das vezes acabam em pornografia, que é diferente de nudez.
A pornografia traz a ideia de que você pode fazer sexo só por fazer. Isso é falso. Você não faz sexo impunemente, nem se for um profissional. O sexo move as pessoas de forma que nenhuma outra coisa conseguiria.

Existe algo de comédia nas relações sexuais?
Acho que comédia é uma questão de olhar. Você pode colocar humor e contar a mesma história, com o mesmo sentimento sério e com a mesma profundidade.
Por exemplo, aquele filme do Woody Allen, "Tudo Pode Dar Certo", é profundíssimo. É a história de um homem desesperado que se joga duas vezes pela janela no decorrer do filme, e ao mesmo tempo é uma comédia hilária. É uma questão de ponto de vista.

O humor é recorrente em seus filmes, não?
Eu tenho humor, mas nunca fiz uma piada apenas para os outros rirem. Acho que o riso precisa ter uma base na lágrima, senão é um riso bastardo. Costumo dizer que sou um escritor seriíssimo que faz grande esforço para fingir que não é.


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