São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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Balé Guaíra joga com linhas de fuga

"Morningdog, Dancingday, Piggynight", coreografado pelo venezuelano David Zambrano, usa palco aberto, sem cenário

Bailarinos trabalham gestos do dia-a-dia, improvisando conjunto de movimentos a partir de repertório do grupo de dança de Curitiba


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

No último fim de semana, em Curitiba, o Balé Teatro Guaíra apresentou "Morningdog, Dancingday, Piggynight", do coreógrafo venezuelano David Zambrano. No palco aberto, sem cenários, os bailarinos formam um "u" e pouco a pouco ocupam o palco caminhando e correndo, reconfigurando o espaço. Todos em estados diferentes, sem hierarquia, livres para agir; depois, voltam a suas posições. Nessas paradas e corridas, formam-se vazios e aglomerados e um jogo de linhas de fuga, replicadas à distância. O ritmo é dado pelo grupo, que se move tanto no silêncio quanto ao som da música de Besh O Drom (grupo cigano húngaro). A peça se divide em grande blocos, que utilizam planos diferentes. Os figurinos, com desenhos geométricos coloridos nas blusas e calças jeans com listas, criam outras tantas linhas, reverberando de um corpo a outro. Zambrano coloca na cena questões de convivência, em torno às dinâmicas de grupo. O coreógrafo trabalha com uma improvisação estruturada, definindo espaços e configurações cênicas, com liberdade na movimentação. Os gestos normalmente vêm do dia-a-dia, mas os bailarinos, pouco acostumados a essa improvisação, criam a partir do seu próprio repertório de movimento. Quando a dança vai ganhando mais liberdade e ritmo, um passo de dança clássica aparece naturalmente, entre uma caminhada e uma corrida. E esses gestos codificados criam algum estranhamento. Há que se ressaltar a liberdade adquirida nas três semanas de trabalho com o coreógrafo e a qualidade técnica da companhia na outra peça da noite, "Caixa de Cores", do brasileiro Luiz Fernando Bongiovanni, que estreou em 2005. O Guaíra segue na sua boa trilha: transita entre linguagens distintas, procurando a identidade na diversidade.


MORNINGDOG, DANCINGDAY, PIGGYNIGHT
   



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