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FERNANDO BONASSI
Jogo de elite
O escândalo é uma tática
na estratégia do espetáculo cujo desfecho foi anunciado em 15/5
PREPARAM-SE em hotéis de estrelas treinando sua leseira
mais terrena em piscinas
aquecidas, banheiras perfumadas,
salas de ginástica, camas desarrumadas pelas prostitutas contratadas
nas páginas das revistas e faturas esquisitas das roletas dos cassinos.
Jogam com essas cartas marcadas, regras acertadas e nos dados do
mercado os anéis dos dedos viciados, pois sabem muito bem onde começam suas carnes apodrecidas.
Por essas e outras é que as protegem
diligentemente com blindagens, sacanagens e seguranças, já que se
sentem inseguros com o patrimônio
que têm escondido lá no meio de sua
obscenidade fiscal.
Apresentam-se bem, mas representam-nos mal e porcamente. Não
como a si mesmos, é claro, já que se
têm num faz-de-conta excelente,
apesar da obscura matemática das
operações confusas em que se metem em nosso nome.
Os nossos nomes nem são tão sagrados assim que não possam ser
lembrados numa eleição ou outra,
mas, como temos sido invocados
tantas vezes e em vão, tornam-nos
esses desolados pela situação.
O combinado era que se mancassem e mudassem, não que emudecessem; mas parece que os que prestam para coisa de algum tipo teimam em se manter nessa espécie de
silêncio espesso, abrindo caminho
para que aqueles que não prestam
para nada possam se servir do todo.
Supersticiosos, têm mania de esconder vassouras atrás das portas,
dinheiros em paraísos, propinas em
juízos, pulgas atrás de orelhas e ovelhas atrás de pastores; de prometer
mundos e fundos aos soterrados em
desilusões freqüentes e remunerações mesquinhas.
Fazem pactos com diabos carecas
ou descamisados e agradecem aos
deuses cabeludos por verbas de representação, ternos bem cortados e
patrocínios descolados para viagens
lisérgicas de ocasião.
Investem com sucesso para que o
fracasso se repita já que é mais repetitivo do que a própria ladainha de
suas vitórias.
Fazem apostas com dinheiro
alheio, fortuna com uma sorte que
não têm e desgraça com os conselhos que espalham nos ventiladores
das bolsas de valores.
São senhores de um engenho que
devia transformar verdadeiramente, mas que persiste em girar em falso, no mesmo eixo e eternamente,
movido pela musculatura dos burros e escravos desgraçados, que agora deram para se empregar na conjuntura da ditadura dos assassinos.
São esses que sonegam laudos
conclusivos, sacam armas automáticas, índices de inflação e investimentos, documentos explosivos ou
talões de cheques para selar seus
compromissos mais amigos.
O escândalo é apenas uma tática
na estratégia do espetáculo cujo desfecho foi anunciado numa segunda-feira 15 de maio do ano da graça de
2006, dia sem a prisão do trabalho,
mas de descanso sombrio...
Especializam-se em culpar a dificuldade de um processo, a lentidão
da injustiça e direitos adquiridos
que é preciso atender ou despistar.
Os piores têm essa sensação de
que fazem o bem, que não querem
mal nenhum, mas que ninguém venha lhes tirar o que mamaram em
mamatas por seios esplêndidos remendados a plástica. Já os melhores
querem ter clareza, mas terminam
pastando na mesma obscuridade
que depuseram com macacões, delações, teses de doutorado, gravatas
e bravatas.
Temem passar debaixo dessas escadas mal sinalizadas que construíram para nos derrubar, preferindo
ficar em cima dos muros, dos juros
ou das dívidas dos subsídios a exigi-los em qualidade, já que nesse tipo
de sociedade uma geração ou outra
acaba pagando, se danando e se perdendo mesmo...
Acontece que a próxima geração
perdida e mal paga, quer queiramos
quer não, é a dos nossos filhos e eles
podem ficar tão irados com essa herança que exijam agora e a tiros todos os benefícios das apólices que
deixarmos!
Salve-se quem puder!
Ou tiver... Pois "ter ou não ter" é de
fato a única questão sobre a qual não
querem pensar sem hipocrisia para
distribuir melhor o que uns poucos
têm em demasia. Ademais, pode ser
que só mesmo o sangue dos civis miseráveis e dos fardados desprevenidos, vertidos nos caminhos da cidade sitiada, assine embaixo dessa historinha incivilizada...
Então a taça que ergueremos em
triunfo será a da barbárie, na qual
seguiremos sendo conhecidos como
somos no momento: os maiores
campeões de todos os tempos.
É hexa, Brasil!
fbonassi@uol.com.br
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