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CRÍTICA ENSAIOS
Coletânea de Italo Calvino agrada só aos fãs incondicionais
Textos do escritor italiano reunidos no livro "Coleção de Areia" são cansativos e não transcendem o gênero
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Um artista plástico especializado em fabricar selos de
países imaginários. Autômatos capazes de escrever, desenhar ou tocar um instrumento, fabricados por uma
dupla de relojoeiros suíços
no século 18.
A gramática sutil dos jardins japoneses. A iconografia da América no tempo dos
descobrimentos.
Temas desse tipo são abordados pelo escritor italiano
Italo Calvino em "Coleção de
Areia", que reúne reportagens e ensaios escritos, na
sua maioria, de 1980 a 1984.
Está longe de ser um livro
desinteressante, mas o que
predomina é um tom relatorial e descritivo, no qual a
marca do autor está mais na
escolha de cada assunto do
que em sua capacidade de
transcendê-lo.
Reconhece-se o gosto de
Calvino pela literatura fantástica, pelo artifício, pelo arbitrário, e a relativa ausência
de preocupações políticas,
morais ou psicológicas nesses artigos.
Mesmo em relatos de viagens ao Irã (1975) e ao México
(1976), somente se notam levíssimas menções à situação
da época.
"Jamais senti atração por
vísceras", diz o autor a propósito dos modelos de cera
que foi visitar, "assim como
nunca me senti fortemente
inclinado a explorar a interioridade psicológica".
A isso se soma um quadro
de referências invariável
(Borges, Benjamin, Barthes)
para fazer deste conjunto de
textos algo que, quase 30
anos após sua publicação na
imprensa italiana, já começa
a parecer bastante datado.
ROLAND BARTHES
É o pós-moderno em estado "objetivo", evitando os
defeitos do humor gratuito e
da inconsequência.
O mundo como "linguagem"; a realidade como algo
"inventado" por meio de arbitrárias "cartografias"; a
imaginação como forma de
"bricolagem", o tema do "duplo": este é, de qualquer modo, o "olhar" que organiza os
interesses do autor.
Uma exposição parisiense
com coleções esquisitas -de
rãs embalsamadas, de bilhetes de trem, de areia colhida
nas mais diversas praias do
mundo (daí vem o título do livro)- inevitavelmente trará
menção a algum texto de
Walter Benjamin.
Falar em autômatos exige
atestar conhecimento da
obra de Kleist, ainda que de
forma burocrática.
Uma viagem ao Japão ocasiona textos em que a referência a Roland Barthes torna tudo previsível -até mesmo o destaque conferido a
um tipo especial de fliperama comum em Tóquio, já
analisado pelo semiólogo
francês no livro "O Império
dos Signos".
É sobre Roland Barthes o
melhor texto de "Coleção de
Areia". Calvino analisa um livro de Barthes sobre fotografia associando-o à notícia,
que acabava de receber, da
morte do semiólogo, num ensaio ao mesmo tempo expositivo e emocionado.
A premonição da própria
morte, que Calvino percebe
nas páginas de Barthes, sem
dúvida reverbera no livro.
Certa sensação de aridez,
de cansaço e de acúmulo informativo marca o livro inteiro, que se pode recomendar,
em todo caso, aos fãs incondicionais do autor.
COLEÇÃO DE AREIA
AUTOR Italo Calvino
TRADUÇÃO Maurício Santana Dias
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39 (232 págs.)
AVALIAÇÃO regular
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