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"Prisão pode macular liberdade de expressão"
Ministro da Cultura diz ser "exagerada" a detenção da jovem que pichou a Bienal
Artistas vêem andar vazio como convite velado a pichadores; fala de curadora sobre "gente da periferia" seria outra provocação
DA REPORTAGEM LOCAL
A prisão prolongada de Caroline Pivetta da Mota, 24, que pichou o andar vazio da Bienal,
foi vista pelo diretor teatral José Celso Martinez como eco do
regime militar e punição excessiva. "Os agentes culturais são,
de repente, os agentes policiais,
como eram os militares em
1968, no AI-5", diz o fundador
do Oficina.
"Isso é exagerado e pode macular o momento de liberdade
de expressão que estamos vivendo", avalia o ministro da
Cultura, Juca Ferreira, que ligou para o governador José
Serra e o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco
Pires da Costa, pedindo uma
intervenção a favor de Mota.
"Esses dias na prisão são
ruins para a cultura, a Bienal e o
Brasil; ela não destruiu um patrimônio público, ela pichou
uma sala vazia numa Bienal em
que o público foi convidado a
interagir", acrescenta Ferreira.
Artistas, críticos e curadores
ouvidos pela Folha também
enxergam o andar vazio desta
Bienal como um convite velado
ao ataque dos pichadores.
"A curadoria, quando apresenta um andar vazio, faz uma
provocação", diz o ator Ivam
Cabral. "Eles têm de arcar com
as conseqüências."
"Isso tudo foi o que a curadoria provocou, tem de suportar,
tem de saber lidar", concorda o
curador Agnaldo Farias. "Se eu
fosse a curadora, teria de responder pelo andar vazio, ainda
mais quando havia a visão de
que isso tirava dos artistas um
espaço que lhes é de direito",
completa a diretora do Museu
da Imagem e do Som e do Paço
das Artes, Daniela Bousso.
Outra suposta provocação,
esta mais direta, foi a fala da curadora Ana Paula Cohen na entrevista coletiva que antecedeu
a mostra, sobre a ameaça de
um possível ataque de pichadores. "Estão convocando gente
da periferia da cidade para fazer isso, e essas pessoas não sabem no que estão se metendo."
"O discurso da curadoria era
um pouco estranho. Dizer "gente da periferia" é um grande engano", afirma o curador Cauê
Alves, um dos signatários do
manifesto que circula na internet a favor da soltura de Mota.
Silêncio
"A penalização exacerbada
desta jovem é indecente", opina o videoartista Maurício
Dias, em e-mail que divulgou.
"Muito mais grave do que o crime de uma jovem pichadora
são os de colarinho branco, de
corrupção da já velha direção
da própria Fundação Bienal."
Na opinião de outros artistas
e curadores, a omissão da Bienal sacrificou a oportunidade
de transformar o episódio em
debate. "Acho lamentável que
não tenha havido um diálogo",
afirma Lisette Lagnado, curadora da 27ª Bienal. "Será que
essa discussão não interessaria
mais do que a série de debates
que eles fizeram durante a Bienal, que não passava de uma
conversa entre amigos?", questiona Daniela Bousso.
Outros artistas e galeristas
reconhecem, no entanto, que
houve um ato de vandalismo,
passível de punição. "Desconsidero que isso seja expressão artística", afirma a artista Adriana Varejão. "Esses pichadores
exageram no argumento."
"Quem depreda patrimônio
tem de ser punido, mas tem o
lado injusto de que ela certamente virou um bode expiatório", afirma a galerista Márcia
Fortes.
(LUCAS NEVES e SILAS MARTÍ)
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