São Paulo, Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2000


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Anna, o rei e a polêmica

Divulgação
Anna Leonowens (Jodie Foster) dança com o rei Mongkut (Chow Yun-Fat), em cena da nova fita



Chega ao Brasil nova versão para o cinema dos diários da tutora inglesa dos 58 filhos do rei do Sião, hoje Tailândia -onde, aliás, não gostaram nada da história


CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha em Los Angeles

Não chame Jodie Foster para uma conversa na qual o assunto principal seja a paternidade de seu filho Charles Foster, de 1 ano e meio de idade, ou sua secreta vida sentimental.
Agora, se o convite é para falar da arte que iniciou profissionalmente quando tinha somente 3 anos de idade, fazendo comerciais do bronzeador Coppertone para a TV, a atriz pode até, com prazer, estender a conversa.
Hoje, aos 37 anos e um número quase igual de filmes (são 33, entre eles clássicos como "Taxi Driver"), dois Oscar, produtora e dona da Egg Pictures e diretora de "Mentes Que Brilham" (91) e "Home for the Holidays" (95), Foster está para lá do Oriente.
Às voltas com o controvertido drama "Anna e o Rei" -que estréia hoje no Brasil, co-estrelado por um dos atores mais famosos da Ásia, Chow Yun-Fat-, ela recebeu a Folha para falar do filme, sua posição em relação ao repúdio à produção pelo governo da Tailândia e sobre novos projetos.
Em "Anna e o Rei", de Andy Tennant ("Para Sempre Cinderella"), baseado no diário de Anna Leonowens, Jodie Foster interpreta o papel da professora inglesa incumbida de ensinar sua língua aos 58 filhos do rei Mongkut, do então Sião (atual Tailândia), em 1862. A suposta relação entre os dois e a imagem do rei mostrada desagradaram a monarquia tailandesa, que proibiu as filmagens e exibição do filme no país.
Na entrevista, Jodie Foster preferiu não contra-atacar as medidas do governo tailandês, dizendo entender, em parte, a proteção da monarquia às tradições daquele país. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Por que uma nova versão dessa história?
Jodie Foster -
Essa é uma história completamente diferente das outras. Diferente do enfoque dado pelo musical da Broadway, da versão em desenho animado e do filme de Rex Harrison, que apresenta um lado mais obscuro da história. Nosso objetivo foi mostrar o aspecto misterioso do local onde a relação entre Anna e Mongkut aconteceu. Queríamos fazer o filme com uma visão asiática, e não somente do ponto de vista colonial inglês.

Folha - Como você viu as represálias do governo tailandês?
Foster -
Elas funcionaram, de certo modo. Tanto que nós tivemos de filmar na Malásia.
O governo tailandês possui um respeito e lealdade muito fortes em relação a sua história e reinado, valores que considero válidos.
Eles se sentiram ofendidos com o filme, e os respeito pela necessidade de tentar proteger a imagem de seu povo. O fato de o governo tailandês proibir a exibição lá não significa que, lá no fundo, secretamente, eles não concordem que nossas intenções foram honestas ao retratar aquele período da história de seu país.

Folha - Como foram as negociações com a Tailândia antes da decisão de filmar na Malásia?
Foster -
Eles quase aceitaram a nossa presença na Tailândia. Não criticaram o roteiro, só queriam preservar a imagem de seu rei. O ministro do Turismo local inclusive queria, por razões óbvias, que as filmagens fossem feitas lá.
O que nos fez mudar de local foi a imensa burocracia daquele país, que não permitiu uma agilização dos acordos necessários. Como não tínhamos tanto tempo a perder, a mudança para a Malásia se tornou inevitável.

Folha - Você acredita no romance entre Anna e o rei?
Foster -
Não. Nunca existiu um romance entre os dois. E o filme deixa isso bem claro. Acredito, sim, que Anna tinha uma quedinha pelo rei do Sião. Ela o respeitava e se sentia mentalmente atraída por ele. Não acho que ele percebesse, mas a respeitava de modo diferente do que às outras mulheres de sua vida, talvez pelo fato de ela se relacionar de igual para igual com o rei.

Folha - Fazer "Hannibal" é carta fora do baralho?
Foster -
Sinto-me gratificada com o interesse de tantas pessoas pela minha participação nesse projeto. O que posso dizer é que espero poder um dia voltar a interpretar a personagem Clarice Starling. Mas isso, infelizmente, não é um realidade no momento.
Espero por isso há muito tempo, mas não aceitarei fazer outra versão de "O Silêncio dos Inocentes" sem um magnífico roteiro nas mãos. Clarice é uma de minhas personagens prediletas, tenho de ter cuidado com ela.

Folha - E quando você volta à cadeira do diretor?
Foster -
"Flora Plum" será meu próximo filme como diretora. Trata da vida de uma jovem acrobata que viveu nos anos 30, nos EUA. Estou trabalhando nesse filme já há alguns anos. Gosto da oportunidade de poder discutir a vida de artistas, suas personalidades e a formação de suas famílias.


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