São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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LIVROS

"Fiquei deslumbrado, hoje sou cético", diz autor

Hatoum conta que, depois do primeiro prêmio, ficou entusiasmado com a fama

Para ele, o bom texto e a relação estabelecida com os leitores são os responsáveis por afirmar um escritor, e não a exposição midiática

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando tinha 37 anos, Milton Hatoum começou a colecionar prêmios. O primeiro Jabuti, por "Relato de um Certo Oriente", veio em 1990. Depois seguiram-se outros (leia abaixo), traduções para várias línguas e convites para participar de festivais e escrever para jornais do Brasil e de fora.
Os dois livros na sequência, "Dois Irmãos" (2000) e "Cinzas do Norte" (2005), foram sucesso de crítica e público. A consagração estava completa.
Hoje, porém, o autor amazonense se diz um pouco cético quanto aos resultados de tanta exposição midiática. "O que afirma um escritor é o texto e a relação que estabelece com o leitor." E confessa que, na ocasião da primeira premiação, ficou "deslumbrado" além da conta. "Eu morava em Manaus, longe de tudo. De repente, meu livro vira um sucesso, é traduzido, resenhado pelo "Le Monde" e outros jornais. Fiquei entusiasmado. Com o tempo, você aprende que isso não é nada."
Por tabela, Hatoum critica a superexposição dos jovens autores nacionais, que fazem blogs e procuram sempre estar na mídia. "Os novatos têm de se concentrar na leitura, em aprender a elaborar uma escrita de qualidade. Sair por aí exibindo-se e achando que assim vai se afirmar não funciona." E acrescenta que não considera literatura a produção blogueira. "São diários, como os diários de debutantes que havia antigamente", compara.

Minissérie
Nas próximas semanas, Hatoum iniciará as conversas com o diretor Luiz Fernando Carvalho, que vai transportar "Dois Irmãos" para a televisão, dentro do projeto "Quadrante", da Globo. Carvalho já adaptou "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna, e "Dom Casmurro", de Machado de Assis.
Mas Hatoum adianta que não quer participar muito do processo. "Mexer num romance é complicado. Você começa a querer mudar, e aí vira uma outra coisa. O Luiz Fernando delira e faz coisas deslumbrantes, vou deixar nas mãos dele."
Entre os próximos projetos está um romance que, para surpresa de seus leitores, não vai se passar em Manaus. Também está reunindo crônicas publicadas na imprensa nacional (é colunista de "O Estado de S. Paulo) e estrangeira para uma outra coletânea. E planeja um espaço para aulas de literatura: "É uma edícula que aluguei para isso. Vai ser a "edícula" do saber", brinca. (SYLVIA COLOMBO)


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