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LIVROS
"Fiquei deslumbrado, hoje sou cético", diz autor
Hatoum conta que, depois do primeiro prêmio, ficou entusiasmado com a fama
Para ele, o bom texto e a relação estabelecida com os leitores são os responsáveis por afirmar um escritor, e não a exposição midiática
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando tinha 37 anos, Milton Hatoum começou a colecionar prêmios. O primeiro Jabuti, por "Relato de um Certo
Oriente", veio em 1990. Depois
seguiram-se outros (leia abaixo), traduções para várias línguas e convites para participar
de festivais e escrever para jornais do Brasil e de fora.
Os dois livros na sequência,
"Dois Irmãos" (2000) e "Cinzas
do Norte" (2005), foram sucesso de crítica e público. A consagração estava completa.
Hoje, porém, o autor amazonense se diz um pouco cético
quanto aos resultados de tanta
exposição midiática. "O que
afirma um escritor é o texto e a
relação que estabelece com o
leitor." E confessa que, na ocasião da primeira premiação, ficou "deslumbrado" além da
conta. "Eu morava em Manaus,
longe de tudo. De repente, meu
livro vira um sucesso, é traduzido, resenhado pelo "Le Monde"
e outros jornais. Fiquei entusiasmado. Com o tempo, você
aprende que isso não é nada."
Por tabela, Hatoum critica a
superexposição dos jovens autores nacionais, que fazem
blogs e procuram sempre estar
na mídia. "Os novatos têm de se
concentrar na leitura, em
aprender a elaborar uma escrita de qualidade. Sair por aí exibindo-se e achando que assim
vai se afirmar não funciona." E
acrescenta que não considera
literatura a produção blogueira. "São diários, como os diários
de debutantes que havia antigamente", compara.
Minissérie
Nas próximas semanas, Hatoum iniciará as conversas com
o diretor Luiz Fernando Carvalho, que vai transportar "Dois
Irmãos" para a televisão, dentro do projeto "Quadrante", da
Globo. Carvalho já adaptou "A
Pedra do Reino", de Ariano
Suassuna, e "Dom Casmurro",
de Machado de Assis.
Mas Hatoum adianta que
não quer participar muito do
processo. "Mexer num romance é complicado. Você começa a
querer mudar, e aí vira uma outra coisa. O Luiz Fernando delira e faz coisas deslumbrantes,
vou deixar nas mãos dele."
Entre os próximos projetos
está um romance que, para surpresa de seus leitores, não vai
se passar em Manaus. Também
está reunindo crônicas publicadas na imprensa nacional (é colunista de "O Estado de S. Paulo) e estrangeira para uma outra coletânea. E planeja um espaço para aulas de literatura:
"É uma edícula que aluguei para isso. Vai ser a "edícula" do saber", brinca.
(SYLVIA COLOMBO)
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