São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2007

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"A gente nunca entendeu o tal "povo'", diz Lyra

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 72 anos, fazendo shows pelo Brasil e às vésperas de lançar mais um disco, o cantor e compositor bossa-novista Carlos Lyra lembra os tempos do CPC com saudades, mas fazendo críticas duras aos colegas e à ação do grupo.
"A maioria dos integrantes do CPC era radical. Se não fosse essa intransigência, e se não tivesse havido o golpe, o grupo teria evoluído de forma serena, feito autocrítica e se tornado uma força mais positiva para a cultura do país. Teríamos ajudado a não chegar a esse ponto de pobreza e ignorância artística", disse à Folha.
Lyra ficou conhecido como uma das expressões máximas da bossa nova nacionalista ao resistir à entrada de elementos jazzísticos no estilo e buscar ingredientes do samba do morro para sua música.
O cantor diz que sempre viu com desconfiança o projeto de levar a arte engajada da classe média para o chamado "povo". "Lembro de fazer shows com mensagens políticas para as Ligas Camponesas. Estava na cara que eles não se interessavam. Também levávamos teatro de rua para a periferia. Do Vianninha vestido de Tio Sam pregando contra o capitalismo, e só três gatos pingados como público. Uma pena, uma oportunidade desperdiçada."
O cantor diz que considerava Vianninha e outros colegas do CPC muito cultos, mas que ninguém entendia o pensamento popular da época. "A gente nunca chegou no tal povo. Este sempre foi uma entidade sinistra. Hoje tenho mais certeza disso. Enquanto naquela época tinha estudante morrendo com tiro de militar, o povo estava quieto, não se manifestava. As classes populares são retratadas como vítimas, como excluídos, mas, no fundo, o que o povo sempre quis mesmo foram coisas como o Bolsa-Família. Nada mais." (SC)


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