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"A gente nunca entendeu o tal "povo'", diz Lyra
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 72 anos, fazendo
shows pelo Brasil e às vésperas de lançar mais um
disco, o cantor e compositor bossa-novista Carlos
Lyra lembra os tempos do
CPC com saudades, mas
fazendo críticas duras aos
colegas e à ação do grupo.
"A maioria dos integrantes do CPC era radical. Se
não fosse essa intransigência, e se não tivesse havido o golpe, o grupo teria
evoluído de forma serena,
feito autocrítica e se tornado uma força mais positiva para a cultura do país.
Teríamos ajudado a não
chegar a esse ponto de pobreza e ignorância artística", disse à Folha.
Lyra ficou conhecido
como uma das expressões
máximas da bossa nova
nacionalista ao resistir à
entrada de elementos jazzísticos no estilo e buscar
ingredientes do samba do
morro para sua música.
O cantor diz que sempre
viu com desconfiança o
projeto de levar a arte engajada da classe média para o chamado "povo".
"Lembro de fazer shows
com mensagens políticas
para as Ligas Camponesas. Estava na cara que
eles não se interessavam.
Também levávamos teatro de rua para a periferia.
Do Vianninha vestido de
Tio Sam pregando contra
o capitalismo, e só três gatos pingados como público. Uma pena, uma oportunidade desperdiçada."
O cantor diz que considerava Vianninha e outros
colegas do CPC muito cultos, mas que ninguém entendia o pensamento popular da época. "A gente
nunca chegou no tal povo.
Este sempre foi uma entidade sinistra. Hoje tenho
mais certeza disso. Enquanto naquela época tinha estudante morrendo
com tiro de militar, o povo
estava quieto, não se manifestava. As classes populares são retratadas como
vítimas, como excluídos,
mas, no fundo, o que o povo sempre quis mesmo foram coisas como o Bolsa-Família. Nada mais."
(SC)
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