São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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LITERATURA

Poeta era considerado um dos mais importantes do século passado, tendo recebido em 2001 o Prêmio Camões

Morre o português Eugénio de Andrade

DA REPORTAGEM LOCAL

Eugénio de Andrade, português considerado um dos melhores poetas da língua no século 20, morreu ontem em Porto, aos 82, depois de um longo período de doença. Traduzido em 20 línguas, o poeta português -cujo verdadeiro nome era José Fontinhas- era autor de extensa obra, tendo publicado mais de 30 livros de poesia, e outros de prosa, infantis, antologias e traduções.
Nascido em 1923, em Póvoa de Atalaia, Andrade era filho de camponeses. Aos dez anos foi morar em Lisboa e mais tarde mudou-se para o Porto, onde viveu a segunda metade do século. Nesses trajetos, foi acompanhado por sua mãe, que, segundo críticos, é figura central em sua obra. Sua poesia, como ele mesmo assumia, estava diretamente vinculada à tradição literária portuguesa e aos cenários de seu país natal.
Escrevendo desde os 13 anos, publicou em 1948 seu primeiro livro de poemas, que acabou sendo considerado sua mais importante obra. "As Mãos e os Frutos" tornou-o conhecido nacional e internacionalmente.
Ao longo de sua carreira, Andrade buscou intensificar um uso simultaneamente rigoroso e simples da linguagem. "A simplicidade é a elegância suprema, o que há de mais difícil de conquistar em arte. Quero a leveza, que é o que me parece correto", afirmou em entrevista de 2001, ano em que ganhou o prêmio Camões pelo conjunto da obra. Nesse mesmo ano, publicou "Os Sulcos de Sede" e disse que o livro e o prêmio demonstravam que ele, aos 78, ainda estava "sedento por poesia".
A mais recente edição brasileira de sua obra, entretanto, é uma coletânea intitulada "Poemas de Eugénio de Andrade", publicada em 1999 pela Nova Fronteira.
Na última década, Andrade vivia bastante isolado na Foz, bairro de Porto situado junto ao mar, evitando aparecer em público. Não era casado e não tinha filhos. Ali foi construída a Fundação Eugénio de Andrade, na qual o escritor passou a viver a partir dos anos 90. "Não gosto de ter nenhum tipo de convívio literário. Nunca procurei fazê-lo e isso, na minha opinião, tem a ver com a poesia, que requer uma vida própria, longe desses grupos", disse o português em 2001.
"Nada podeis contra o amor,/ Contra a cor da folhagem,/ contra a carícia da espuma,/ contra a luz, nada podeis./ Podeis dar-nos a morte/ a mais vil, isso podeis/ -e é tão pouco!", escreveu Andrade no poema "Frente a Frente".


Com agências internacionais

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