São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Margem direita

Principal nome identificado com a "direitização" dos intelectuais franceses, o filósofo André Glucksmann diz em entrevista que antiamericanismo é a "religião dos imbecis"

Joel Robine/France Presse
André Glucksmann, 70, que apóia a ação dos EUA no Iraque e lança o livro "O Discurso do Ódio"


MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

"O que está acontecendo com os intelectuais franceses?" Essa pergunta vem se repetindo na tradicional imprensa de "gauche" (esquerda) francesa, que investiga nos últimos meses as razões para a "direitização" de algumas de suas principais estrelas pensantes. Já não é de hoje que muitos deles vêm abandonando a "rive gauche", a margem esquerda do Sena que abriga a mítica Sorbonne, em direção à direita.
O neologismo "néoréac" (neo-reacionário) surgiu para identificar as vozes desse movimento que não se abalou -ou francamente aplaudiu- a derrota do Partido Socialista nas últimas eleições francesas.
Quem mais "radicalizou" até agora foi André Glucksmann, uma das vedetes da nova filosofia, o grupo que nos anos 70 se rebelou contra a filosofia tradicional e contra as "barbáries" da ideologia comunista -de preferência diante dos holofotes. O filósofo foi o primeiro a apoiar publicamente Nicolas Sarkozy, para escândalo de seus pares de academia. E pior, fez isso publicando um artigo no "Le Monde", identificado com os socialistas.
Uma mudança e tanto para um daqueles jovens que militavam no maoísmo e que correram aos cinemas em 1968 para assistir a "A Chinesa", de Jean-Luc Godard. Foi nesse ano que Glucksmann publicou seu primeiro livro, "Le Discours de la Guerre" (o discurso da guerra). Com um discurso cada vez mais virulento, é hoje um dos poucos intelectuais que apóiam abertamente os EUA na Guerra do Iraque.
Agora, ele lança no Brasil "O Discurso do Ódio" (Difel), em que identifica o terrorismo pós-11 de Setembro como a maior ameaça já enfrentada pela humanidade. Em entrevista, o autor avalia que a esquerda "vai muito mal", afirma que o antiamericanismo é a religião "dos imbecis", que Fidel Castro não é de esquerda e que Hugo Chávez e Evo Morales representam uma onda "populista, militar e reacionária".

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