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Coen podem filmar na América do Sul
Irmãos planejam rodar em país "próximo ao Brasil" um longa sobre um "personagem americano fora de seu elemento"
Cineastas dizem que novo filme, "A Serious Man", trata de choque de cultura e da incongruência de judeus no Meio-Oeste americano
DO ENVIADO A TORONTO
Em "A Serious Man", os irmãos Coen optaram por um
nome desconhecido no papel
principal e um elenco quase todo composto por judeus de
Minneapolis. A locação é parte
na cidade, parte em povoados
próximos que conservaram o
clima de subúrbio dos anos 60
do Meio-Oeste norte-americano, onde os dois cresceram.
"Toda a incongruência de
uma comunidade de judeus no
Meio-Oeste", de maioria protestante, "a subcultura, esse
sentimento", é o que os dois
queriam passar, disse Ethan. A
ideia era fazer um filme pessoal, sim, mas cuja discussão do
personagem principal pudesse
ser identificada pelo público: o
estranhamento do indivíduo
diante de um mundo que ele
não controla, um tema comum
aos filmes da dupla.
Leia a seguir trechos da entrevista com os irmãos, tímidos
notórios.
(SÉRGIO DÁVILA)
FOLHA - Vocês se consideram homens sérios?
JOEL COEN - Bem, não, pelo menos não no sentido do filme.
Aliás, esse não é um filme autobiográfico, apesar de alguns incidentes serem baseados em fatos reais, e os nomes dos personagens serem de pessoas de
nossa infância. Além, é claro, do
fato de sermos da mesma localidade e termos vivido o mesmo
tipo de cultura do filme.
ETHAN COEN - Fomos a escolas
hebraicas mais por necessidade
do que por convicção. E não,
não estávamos chapados de
maconha no nosso bar mitzvah,
pelo menos eu.
JOEL - No nosso caso, ser judeu
era algo mais étnico do que religioso: mesmo se você não se interessa pelo segundo, não pode
escapar do primeiro. Isso fica
claro no choque de culturas que
procuramos passar no filme: o
personagem do filho ouve Jefferson Airplane, o do pai, músicas religiosas hebraicas. Crescemos com essas duas trilhas.
ETHAN - Já nos perguntaram o
quanto essa subcultura influenciou nosso trabalho. Eu
não sei a resposta. É muito difícil medir o quanto tal coisa afetou mais do que outra, quanto o
Jefferson Airplane afetou mais
do que a música da sinagoga...
FOLHA - Seus longas foram feitos
todos nos EUA. Nunca quiseram filmar no exterior?
JOEL - Fizemos um curta em
Paris e foi divertido. O problema é que nós somos escravos de
nossas limitações, escrevemos
histórias de coisas que conhecemos e elas tendem a ser de
personagens americanos por
várias razões. Então não é algo
que aconteça naturalmente.
Mas poderia ser divertido.
ETHAN - Tentamos fazer um filme no Japão há dez anos.
JOEL - Mas era um personagem
americano, um aviador que é
derrubado no Japão, e o filme
trataria dos problemas de
adaptação desse personagem.
ETHAN - Nós temos outra ideia
para um roteiro, que pode ser
filmado na América do Sul.
FOLHA - Brasil, por acaso?
ETHAN - [risos] Não, mas próximo ao Brasil. Não podemos dar
mais detalhes porque ainda não
escrevemos. Mas, de novo, é
um personagem americano fora de seu elemento.
FOLHA - Vocês escrevem, dirigem,
produzem: o que é mais difícil?
ETHAN - [olha para Joel]
JOEL - [começa a rir]
FOLHA - Dar entrevista?
ETHAN - [rindo] Bem... Você é
que está falando...
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