São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Coen podem filmar na América do Sul

Irmãos planejam rodar em país "próximo ao Brasil" um longa sobre um "personagem americano fora de seu elemento"

Cineastas dizem que novo filme, "A Serious Man", trata de choque de cultura e da incongruência de judeus no Meio-Oeste americano

DO ENVIADO A TORONTO

Em "A Serious Man", os irmãos Coen optaram por um nome desconhecido no papel principal e um elenco quase todo composto por judeus de Minneapolis. A locação é parte na cidade, parte em povoados próximos que conservaram o clima de subúrbio dos anos 60 do Meio-Oeste norte-americano, onde os dois cresceram. "Toda a incongruência de uma comunidade de judeus no Meio-Oeste", de maioria protestante, "a subcultura, esse sentimento", é o que os dois queriam passar, disse Ethan. A ideia era fazer um filme pessoal, sim, mas cuja discussão do personagem principal pudesse ser identificada pelo público: o estranhamento do indivíduo diante de um mundo que ele não controla, um tema comum aos filmes da dupla. Leia a seguir trechos da entrevista com os irmãos, tímidos notórios. (SÉRGIO DÁVILA)

FOLHA - Vocês se consideram homens sérios?
JOEL COEN -
Bem, não, pelo menos não no sentido do filme. Aliás, esse não é um filme autobiográfico, apesar de alguns incidentes serem baseados em fatos reais, e os nomes dos personagens serem de pessoas de nossa infância. Além, é claro, do fato de sermos da mesma localidade e termos vivido o mesmo tipo de cultura do filme.
ETHAN COEN - Fomos a escolas hebraicas mais por necessidade do que por convicção. E não, não estávamos chapados de maconha no nosso bar mitzvah, pelo menos eu.
JOEL - No nosso caso, ser judeu era algo mais étnico do que religioso: mesmo se você não se interessa pelo segundo, não pode escapar do primeiro. Isso fica claro no choque de culturas que procuramos passar no filme: o personagem do filho ouve Jefferson Airplane, o do pai, músicas religiosas hebraicas. Crescemos com essas duas trilhas.
ETHAN - Já nos perguntaram o quanto essa subcultura influenciou nosso trabalho. Eu não sei a resposta. É muito difícil medir o quanto tal coisa afetou mais do que outra, quanto o Jefferson Airplane afetou mais do que a música da sinagoga...

FOLHA - Seus longas foram feitos todos nos EUA. Nunca quiseram filmar no exterior?
JOEL -
Fizemos um curta em Paris e foi divertido. O problema é que nós somos escravos de nossas limitações, escrevemos histórias de coisas que conhecemos e elas tendem a ser de personagens americanos por várias razões. Então não é algo que aconteça naturalmente. Mas poderia ser divertido.
ETHAN - Tentamos fazer um filme no Japão há dez anos.
JOEL - Mas era um personagem americano, um aviador que é derrubado no Japão, e o filme trataria dos problemas de adaptação desse personagem.
ETHAN - Nós temos outra ideia para um roteiro, que pode ser filmado na América do Sul.

FOLHA - Brasil, por acaso?
ETHAN -
[risos] Não, mas próximo ao Brasil. Não podemos dar mais detalhes porque ainda não escrevemos. Mas, de novo, é um personagem americano fora de seu elemento.

FOLHA - Vocês escrevem, dirigem, produzem: o que é mais difícil?
ETHAN -
[olha para Joel]
JOEL - [começa a rir]

FOLHA - Dar entrevista?
ETHAN -
[rindo] Bem... Você é que está falando...


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