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Artistas questionam a representação
David Batchelor faz esculturas com luzes elétricas, e Paulo Almeida retrata as obras com tinta sobre tela
MARIO GIOIA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Em comum nas obras dos artistas David Batchelor e Paulo
Almeida está o espaço da galeria Leme, que ocupam agora
com duas individuais. Além do
território, questionam, cada
um ao seu modo, a representação em si -o primeiro substitui
a tinta por luzes elétricas, enquanto o segundo reproduz o
efeito dessa luz que vaza no espaço com pintura tradicional,
em grandes telas.
Na galeria projetada por Paulo Mendes da Rocha, o britânico Batchelor, em sua segunda
exposição no Brasil, instala esculturas feitas de antigos luminosos de sinalização equipadas
com chapas de acrílico de cor
sólida. São esculturas que dão
as costas para o espectador e
inundam de verde, rosa e laranja intensos o cinza neutro das
paredes do prédio.
Autor do livro "Cromofobia"
(ed. Senac, 144 págs.; R$ 40),
sobre o que vê como recuo ao
branco e à ausência da cor na
arte contemporânea, Batchelor
faz, com suas esculturas, um
manifesto a favor do colorido.
Almeida, jovem pintor paulistano -ele expôs suas telas na
Bienal de Cuenca, no Equador,
e acaba de voltar de uma residência artística na Argentina-,
reproduz, do outro lado da rua,
no estúdio da Leme, a vista das
obras de Batchelor na sala principal, dando peso e matéria pictórica à luz que parece se esforçar para preencher o amplo espaço da galeria.
Aliás, tanto Batchelor quanto
Almeida reconhecem aqui a
importância do espaço vazio
para a compreensão das obras.
Num prédio com pé-direito de
nove metros, que recebe luz direta do sol por meio de uma clarabóia no teto -coberta de preto para a mostra-, os trabalhos
incorporam a arquitetura.
Surge um exercício ambicioso de se pensar a representação: Batchelor, que afirma não
saber pintar bem o suficiente
para reproduzir na tela os efeitos da luz, busca reforço nos luminosos, enquanto Almeida,
que ainda vê força num suporte
que já teve a morte declarada
tantas vezes, dá a si mesmo o
desafio de fazer justiça à intensidade do real com pigmento.
Os dois falaram à Folha sobre a exposição em cartaz, que
ocupa a sala principal e o estúdio da galeria. Leia trechos da
conversa à esquerda e à direita.
DAVID BATCHELOR E PAULO
ALMEIDA
Quando: seg. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 10h às 17h; até 8/11
Onde: galeria Leme (r. Agostinho
Cantu, 88, tel. 0/xx/11/3814-8184;
livre)
Quanto: entrada franca
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