São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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Artistas questionam a representação

David Batchelor faz esculturas com luzes elétricas, e Paulo Almeida retrata as obras com tinta sobre tela

MARIO GIOIA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Em comum nas obras dos artistas David Batchelor e Paulo Almeida está o espaço da galeria Leme, que ocupam agora com duas individuais. Além do território, questionam, cada um ao seu modo, a representação em si -o primeiro substitui a tinta por luzes elétricas, enquanto o segundo reproduz o efeito dessa luz que vaza no espaço com pintura tradicional, em grandes telas.
Na galeria projetada por Paulo Mendes da Rocha, o britânico Batchelor, em sua segunda exposição no Brasil, instala esculturas feitas de antigos luminosos de sinalização equipadas com chapas de acrílico de cor sólida. São esculturas que dão as costas para o espectador e inundam de verde, rosa e laranja intensos o cinza neutro das paredes do prédio.
Autor do livro "Cromofobia" (ed. Senac, 144 págs.; R$ 40), sobre o que vê como recuo ao branco e à ausência da cor na arte contemporânea, Batchelor faz, com suas esculturas, um manifesto a favor do colorido.
Almeida, jovem pintor paulistano -ele expôs suas telas na Bienal de Cuenca, no Equador, e acaba de voltar de uma residência artística na Argentina-, reproduz, do outro lado da rua, no estúdio da Leme, a vista das obras de Batchelor na sala principal, dando peso e matéria pictórica à luz que parece se esforçar para preencher o amplo espaço da galeria.
Aliás, tanto Batchelor quanto Almeida reconhecem aqui a importância do espaço vazio para a compreensão das obras.
Num prédio com pé-direito de nove metros, que recebe luz direta do sol por meio de uma clarabóia no teto -coberta de preto para a mostra-, os trabalhos incorporam a arquitetura.
Surge um exercício ambicioso de se pensar a representação: Batchelor, que afirma não saber pintar bem o suficiente para reproduzir na tela os efeitos da luz, busca reforço nos luminosos, enquanto Almeida, que ainda vê força num suporte que já teve a morte declarada tantas vezes, dá a si mesmo o desafio de fazer justiça à intensidade do real com pigmento.
Os dois falaram à Folha sobre a exposição em cartaz, que ocupa a sala principal e o estúdio da galeria. Leia trechos da conversa à esquerda e à direita.


DAVID BATCHELOR E PAULO ALMEIDA
Quando: seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 8/11
Onde: galeria Leme (r. Agostinho Cantu, 88, tel. 0/xx/11/3814-8184; livre)
Quanto: entrada franca



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