São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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CINEMA

Filme de Herzog levanta a questão: por que refilmar?

"Vício Frenético", remake do diretor alemão do longa de Abel Ferrara, é mais um remake inferior à obra original

E vêm mais refilmagens por aí: "Videodrome", "Sob o Domínio do Medo", "Mona Lisa" e o polêmico "The Story of Bonnie and Clyde"

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"Eu queria que todos eles queimassem no inferno!" Assim reagiu o cineasta Abel Ferrara ao assistir à refilmagem de seu "Vício Frenético", dirigida pelo alemão Werner Herzog ("Fitzcarraldo") e estrelada por Nicolas Cage, que estreia hoje.
Indelicadezas à parte, a reação de Ferrara é justificada. O "Vício Frenético" de Herzog é mais uma refilmagem inferior à original e que levanta a velha questão: por que refazer bons filmes? A resposta é simples: insegurança e ganância. Produtores de Hollywood sabem que é menos arriscado investir em fórmulas gastas, porém já testadas, do que aventurar-se em histórias inéditas.
Entre todos os gêneros, os filmes de ação e thrillers parecem ser os mais procurados para refilmagens. Acaba de sair em DVD "O Sequestro do Metrô 123", com John Travolta e Denzel Washington, outro péssimo remake de um filme policial dos anos 70 ("The Taking of Pelham 123"). E, nos próximos meses, haverá uma avalanche de novas refilmagens.
O problema é que a maioria das refilmagens não repete o brilho dos originais. O "Vício Frenético" de Ferrara, rodado em 1992, tornou-se um clássico cult. Estrelado por Harvey Keitel, mostrava a decadência moral, física e psicológica de um tenente da polícia de Nova York, em meio à investigação sobre o estupro de uma freira. O personagem de Keitel cheira cocaína, fuma crack, estupra, rouba, tudo isso enquanto tenta escapar de uma gangue para quem deve uma fortuna. Scorsese elegeu o filme um dos dez melhores dos anos 90.
Já o filme de Herzog é uma caricatura de filme policial, que a pura canastrice de Nicolas Cage transforma numa comédia. Herzog transferiu a história de Nova York para Nova Orleans, logo após a destruição do furacão Katrina. O policial de Cage investiga o assassinato de uma família de haitianos e acaba envolvido com traficantes e capangas que perseguem sua namorada (Eva Mendes).
O filme de Ferrara é desesperançado e sombrio. O personagem de Keitel vai se envolvendo numa teia de loucura e violência que, ao final, mostra-se inescapável. Herzog, por sua vez, mudou toda a história, criando um final absurdamente improvável e ridículo. A atuação de Keitel é um espetáculo de degradação humana raramente visto no cinema, enquanto Cage parece um vilão de desenho animado.
E vem muito mais por aí: Hollywood já anunciou refilmagens de "Videodrome", de David Cronenberg (com roteiro de Ehren Kruger, que escreveu "Pânico 3"), "Sob o Domínio do Medo", filmaço de suspense de Sam Peckinpah, com James Mardsen (o Scott Summers de "X-Men") no papel que foi de Dustin Hoffman, e de "Mona Lisa" (1986), grande filme policial de Neil Jordan, com Mickey Rourke no papel que pertenceu a Bob Hoskins.
Mas o remake que realmente promete marcar época é "The Story of Bonnie and Clyde", nova versão do clássico de 1967 de Arthur Penn. Num lance de genialidade ímpar, a cantora pop Hilary Duff, estrela da série da Disney "Lizzie McGuire", fará o papel de Bonnie, que pertenceu a Faye Dunaway. "Eles poderiam pelo menos ter arrumado uma atriz para o papel", reclamou Dunaway, ecoando o sentimento de muitos.


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