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CINEMA
Filme de Herzog levanta a questão: por que refilmar?
"Vício Frenético", remake do diretor alemão do longa de Abel Ferrara, é mais um remake inferior à obra original
E vêm mais refilmagens por aí: "Videodrome", "Sob o Domínio do Medo", "Mona Lisa" e o polêmico "The Story of Bonnie and Clyde"
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
"Eu queria que todos eles
queimassem no inferno!" Assim reagiu o cineasta Abel Ferrara ao assistir à refilmagem de
seu "Vício Frenético", dirigida
pelo alemão Werner Herzog
("Fitzcarraldo") e estrelada por
Nicolas Cage, que estreia hoje.
Indelicadezas à parte, a reação de Ferrara é justificada. O
"Vício Frenético" de Herzog é
mais uma refilmagem inferior à
original e que levanta a velha
questão: por que refazer bons
filmes? A resposta é simples:
insegurança e ganância. Produtores de Hollywood sabem que
é menos arriscado investir em
fórmulas gastas, porém já testadas, do que aventurar-se em
histórias inéditas.
Entre todos os gêneros, os filmes de ação e thrillers parecem
ser os mais procurados para refilmagens. Acaba de sair em
DVD "O Sequestro do Metrô
123", com John Travolta e Denzel Washington, outro péssimo
remake de um filme policial
dos anos 70 ("The Taking of Pelham 123"). E, nos próximos
meses, haverá uma avalanche
de novas refilmagens.
O problema é que a maioria
das refilmagens não repete o
brilho dos originais. O "Vício
Frenético" de Ferrara, rodado
em 1992, tornou-se um clássico
cult. Estrelado por Harvey Keitel, mostrava a decadência moral, física e psicológica de um
tenente da polícia de Nova
York, em meio à investigação
sobre o estupro de uma freira.
O personagem de Keitel cheira
cocaína, fuma crack, estupra,
rouba, tudo isso enquanto tenta escapar de uma gangue para
quem deve uma fortuna. Scorsese elegeu o filme um dos dez
melhores dos anos 90.
Já o filme de Herzog é uma
caricatura de filme policial, que
a pura canastrice de Nicolas
Cage transforma numa comédia. Herzog transferiu a história de Nova York para Nova Orleans, logo após a destruição do
furacão Katrina. O policial de
Cage investiga o assassinato de
uma família de haitianos e acaba envolvido com traficantes e
capangas que perseguem sua
namorada (Eva Mendes).
O filme de Ferrara é desesperançado e sombrio. O personagem de Keitel vai se envolvendo numa teia de loucura e violência que, ao final, mostra-se
inescapável. Herzog, por sua
vez, mudou toda a história,
criando um final absurdamente improvável e ridículo. A
atuação de Keitel é um espetáculo de degradação humana raramente visto no cinema, enquanto Cage parece um vilão de
desenho animado.
E vem muito mais por aí:
Hollywood já anunciou refilmagens de "Videodrome", de
David Cronenberg (com roteiro de Ehren Kruger, que escreveu "Pânico 3"), "Sob o Domínio do Medo", filmaço de suspense de Sam Peckinpah, com
James Mardsen (o Scott Summers de "X-Men") no papel que
foi de Dustin Hoffman, e de
"Mona Lisa" (1986), grande filme policial de Neil Jordan, com
Mickey Rourke no papel que
pertenceu a Bob Hoskins.
Mas o remake que realmente
promete marcar época é "The
Story of Bonnie and Clyde", nova versão do clássico de 1967 de
Arthur Penn. Num lance de genialidade ímpar, a cantora pop
Hilary Duff, estrela da série da
Disney "Lizzie McGuire", fará o
papel de Bonnie, que pertenceu
a Faye Dunaway. "Eles poderiam pelo menos ter arrumado
uma atriz para o papel", reclamou Dunaway, ecoando o sentimento de muitos.
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