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Crítica/"Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar"
Chiara Mastroianni brilha em drama sobre divorciada
Diretor questiona escolhas entre caos e ordem em história sobre divorciada que cria filhos em meio a vida confusa
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Nos filmes de Christophe Honoré, a família
é um ambiente de refúgio quando a agressividade
do mundo pesa demais. Seja
para acolher, como em "Em Paris", seja para confundir ainda
mais, como em "Minha Mãe".
No seu longa mais recente,
"Não, Minha Filha, Você Não
Irá Dançar", no entanto, a família acaba sendo um tormento
para Léna (Chiara Mastroianni). Na trama, faz seis meses
que ela se separou do marido,
levando os dois filhos pequenos. Sem emprego, vira mãe em
tempo integral, para compensar as ausências do passado.
Num final de semana na casa
de campo dos pais, Léna vai encontrar a família mais do que
disposta a ajudá-la a se recuperar -e a palpitar sobre sua vida.
Mas, desde o início, veremos
que Léna não consegue nem
cuidar de um pássaro, muito
menos criar filhos e sobreviver
à própria instabilidade.
O que salta aos olhos é esse
caos ambulante incorporado de
forma exemplar por Chiara
Mastroianni, filha de Marcello
e Catherine Deneuve. Chega a
lembrar as performances ensandecidas de Gena Rowlands
nos filmes de John Cassavetes.
Quem quiser ficar na superfície, verá apenas um drama com
mulher histérica, ou então uma
variação do tema "acertos de
contas em reunião familiar" levado recentemente às telas por
dois nomes centrais do cinema
francês, Olivier Assayas ("Horas de Verão") e Arnaud Desplechin ("Um Conto de Natal").
A questão vai além. Com o filme, Honoré confirma de vez
posição estratégica no país da
nouvelle vague. Se, inicialmente, foi rotulado como herdeiro
direto de Truffaut e seus temas
de amor romântico, agora se
mostra cronista de uma geração. Contradições não faltam
para os personagens de Honoré, cineasta de 39 anos que ainda é visto como "jovem".
Céu e inferno
Léna sofre com escolhas entre dois mundos, entre uma ordem, digamos, burguesa, e uma
rebeldia natural. Ela está entre
o céu e o inferno. As referências
ao profano e as obsessões religiosas de seu filho nos lembram
que o "Diabo dá coisas que não
conseguimos aproveitar".
Não por acaso, um tema musical de mistério pontua "Não,
Minha Filha..." e também não é
por acaso a citação de "Interlúdio", de Hitchcock, em que Ingrid Bergman é a espiã com o
coração dividido.
O filme também se divide em
dois; à parte no campo se segue
o retorno de Léna a Paris. Há
um interlúdio entre elas, em
que é contada a fábula que justifica o título do longa e define a
personalidade de Léna. Como
diz o personagem de Louis Garrel, apaixonado por Léna, ela é
uma "revolucionária que quer
ser normal". Já Christophe Honoré é, antes de mais nada, um
otimista de temperamento
pessimista por excelência.
NÃO, MINHA FILHA, VOCÊ NÃO IRÁ DANÇAR
Direção: Christophe Honoré
Produção: França, 2009
Com: Chiara Mastroianni, Jean-Marc
Barr, Louis Garrel
Onde: Cine UOL, Espaço Unibanco Augusta e Reserva Cultural
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom
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