São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Crítica/"Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar"
Chiara Mastroianni brilha em drama sobre divorciada

Diretor questiona escolhas entre caos e ordem em história sobre divorciada que cria filhos em meio a vida confusa

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Nos filmes de Christophe Honoré, a família é um ambiente de refúgio quando a agressividade do mundo pesa demais. Seja para acolher, como em "Em Paris", seja para confundir ainda mais, como em "Minha Mãe".
No seu longa mais recente, "Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar", no entanto, a família acaba sendo um tormento para Léna (Chiara Mastroianni). Na trama, faz seis meses que ela se separou do marido, levando os dois filhos pequenos. Sem emprego, vira mãe em tempo integral, para compensar as ausências do passado.
Num final de semana na casa de campo dos pais, Léna vai encontrar a família mais do que disposta a ajudá-la a se recuperar -e a palpitar sobre sua vida.
Mas, desde o início, veremos que Léna não consegue nem cuidar de um pássaro, muito menos criar filhos e sobreviver à própria instabilidade.
O que salta aos olhos é esse caos ambulante incorporado de forma exemplar por Chiara Mastroianni, filha de Marcello e Catherine Deneuve. Chega a lembrar as performances ensandecidas de Gena Rowlands nos filmes de John Cassavetes.
Quem quiser ficar na superfície, verá apenas um drama com mulher histérica, ou então uma variação do tema "acertos de contas em reunião familiar" levado recentemente às telas por dois nomes centrais do cinema francês, Olivier Assayas ("Horas de Verão") e Arnaud Desplechin ("Um Conto de Natal").
A questão vai além. Com o filme, Honoré confirma de vez posição estratégica no país da nouvelle vague. Se, inicialmente, foi rotulado como herdeiro direto de Truffaut e seus temas de amor romântico, agora se mostra cronista de uma geração. Contradições não faltam para os personagens de Honoré, cineasta de 39 anos que ainda é visto como "jovem".

Céu e inferno
Léna sofre com escolhas entre dois mundos, entre uma ordem, digamos, burguesa, e uma rebeldia natural. Ela está entre o céu e o inferno. As referências ao profano e as obsessões religiosas de seu filho nos lembram que o "Diabo dá coisas que não conseguimos aproveitar".
Não por acaso, um tema musical de mistério pontua "Não, Minha Filha..." e também não é por acaso a citação de "Interlúdio", de Hitchcock, em que Ingrid Bergman é a espiã com o coração dividido.
O filme também se divide em dois; à parte no campo se segue o retorno de Léna a Paris. Há um interlúdio entre elas, em que é contada a fábula que justifica o título do longa e define a personalidade de Léna. Como diz o personagem de Louis Garrel, apaixonado por Léna, ela é uma "revolucionária que quer ser normal". Já Christophe Honoré é, antes de mais nada, um otimista de temperamento pessimista por excelência.


NÃO, MINHA FILHA, VOCÊ NÃO IRÁ DANÇAR

Direção: Christophe Honoré
Produção: França, 2009
Com: Chiara Mastroianni, Jean-Marc Barr, Louis Garrel
Onde: Cine UOL, Espaço Unibanco Augusta e Reserva Cultural Classificação: 12 anos
Avaliação: bom


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