São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2011

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"Libertada", torre abriga arte e raridades do século 16

Reforma alivia edifício ao remover periódicos antigos, que irão para novo anexo

Acervo de raridades da Biblioteca Mário de Andrade contém obras do século 15 e álbum de Matisse de US$ 200 mil

DE SÃO PAULO

Até a Biblioteca Mário de Andrade ser fechada, em 2007, para a reforma agora concluída, a torre que abriga a maior parte do acervo não tinha espaço para receber novos livros.
Sete andares estavam atulhados de jornais amarrados com barbantes e guardados, assim como os livros, em salas sem climatização.
"A grande novidade é a liberdade da torre, que há mais de 20 anos estava totalmente congestionada de jornais. Desobstruir esse espaço, para que ela volte a ser a torre de reserva de livros, [significa que] aquele corpo volta a respirar", celebra o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.
Mais de 200 mil volumes passaram por desinfestação contra brocas e cupins.
Do acervo revitalizado constam peças de encantar pesquisadores e bibliófilos. Está lá um dos dois únicos exemplares conhecidos da primeira obra escrita pelos jesuítas nas Américas, de 1551 -o outro pertence à Biblioteca da Ajuda (Lisboa).
Na vasta coleção de viajantes estrangeiros, há edições originais de Thévet, Spix e Martius, Debret e Rugendas.
O acervo de obras raras, com 52 mil volumes, ocupa seis andares. A obra mais antiga é de 1477: a Suma Teológica, de Santo Antonino. É um dos nove incunábulos (obras impressas até 1500) da biblioteca. Há um exemplar da Bíblia impresso em 1492.
Curador do acervo de raridades, Rizio Bruno Sant'Ana evita ressaltar uma ou outra obra. "A joia da coroa é a coleção completa. É ter um original de 1500, suas traduções e críticas a respeito", diz.
Na coleção de artes, com 27 mil volumes em quatro andares, destaca-se o álbum de gravuras "Jazz", de Matisse, avaliado em US$ 200 mil.
A depreciação do acervo por anos cobrou seu preço. "A biblioteca tem um acervo extraordinário, mas ele ainda precisa de uns dez anos para ser recuperado", avalia Luiz Francisco de Carvalho Filho, que dirigiu a instituição de 2005 a 2008 e concebeu o projeto de reforma.
Os periódicos antigos estão guardados em outros locais até serem alocados no novo anexo, a ser construído num prédio vizinho, cedido pelo Governo de SP, que fica pronto até o fim do ano.
A recuperação climatizou a torre e aumentou a segurança, para evitar furtos de obras raras, como ocorreu até recentemente.
Com a reabertura, pesquisadores podem consultar todo o acervo, de 320 mil volumes, desde que se cadastrem, justifiquem o propósito da pesquisa e façam agendamento. As novas salas individuais para esse fim serão monitoradas por câmeras.
Segundo Calil, um ponto fundamental é fazer com que a Mário de Andrade "volte a cumprir seu papel de segunda maior biblioteca do país [depois da Nacional, no Rio], retomando sua relevância na vida cultural da cidade e do país". (FABIO VICTOR)


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