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DIREITA, VOLVER!
Para o filósofo Olavo de Carvalho, é hora de criar uma alternativa partidária realmente conservadora no país
"O povo brasileiro é maciçamente de direita"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Talvez a obra mais conhecida do
filósofo Olavo de Carvalho, 58, seja a edição do site Mídia sem Máscara (www.midiasemmascara.org), há anos na rede para denunciar o que chama de "viés esquerdista da grande mídia brasileira".
Carvalho hoje escreve no "Diário do Comércio", órgão da Associação Comercial de São Paulo.
Escreve à distância. Desde maio
de 2005, mora em Richmond, a
duas horas de Washington. É na
capital americana que, duas vezes
por semana, garimpa material para o livro "A Mente Revolucionária", em que pretende dissecar o
pensamento moderno de esquerda. "Um grupo de empresários do
Paraná me deu uma verbinha para eu terminar o livro", explicou.
Folha - O que aconteceu com a esquerda no Brasil?
Olavo de Carvalho - Para começar, eles criaram esse mito de que
são santos, de que têm o monopólio da bondade humana. De repente, o Brasil inteiro vê que não é
nada disso. É uma decepção tremenda, mas era óbvio que isso ia
acontecer. Você não pode colocar
um sujeito que é inteiramente
analfabeto na Presidência, burro
desse jeito, sem critério. Ele não
sabe a diferença entre certo e errado, entre bem e mal, então é claro
que ia ser essa sem-vergonhice.
Folha - A alternativa, então é...
Carvalho - O PSDB é que não é. O
PSDB é um partido da Internacional Socialista que está comprometido com o globalismo de esquerda, com todos esses valores
politicamente corretos. É a direita
da esquerda. No Brasil, infelizmente, a política ficou reduzida a
isso: uma luta entre a esquerda da
esquerda e a direita da esquerda.
Quem é conservador mesmo não
se deixa enganar por PSDB.
Folha - Não há ninguém no PSDB
que sirva?
Carvalho - Veja o Geraldo Alckmin. Ele aprovou uma lei que
multa o rabino que ouse expulsar
de sua sinagoga uma drag queen.
Mesmo que ela tenha entrado lá
só para provocar. Quem faz uma
lei dessas não é conservador. É
politicamente correto.
Folha - Como o senhor interpreta
a versão petista de que é vítima de
uma conspiração da direita?
Carvalho - O surgimento de um
pensamento de direita, qualquer
sinalzinho, já deixa esse pessoal
aterrorizado: eles já se vêem todos
na cadeia. Fica um negócio paranóico. Mas a verdade é que o pensamento conservador no Brasil
ainda é uma raridade. Existiu em
Joaquim Nabuco, em João Camilo de Oliveira Torres, em Minas
Gerais, em Gilberto Freyre, em
Pernambuco. Mas é pouca coisa.
A tradição cultural do Brasil é toda de esquerda. Não há um movimento intelectual conservador.
Eu acho que sou o primeiro cara
que está tentando fazer isso.
Folha - Do jeito que o senhor está
falando, parece que o Brasil é um
paraíso da esquerda...
Carvalho - É até engraçado, porque o pessoal de esquerda vive dizendo que a burguesia cria seu
aparato cultural e ideológico. Só
que a esquerda convenceu a burguesia a financiar o aparato ideológico esquerdista. Durante a ditadura já era assim. As universidade eram todas de esquerda, as
instituições culturais idem.
Folha - Será que a fraqueza do
pensamento conservador não reflete a dificuldade de convencer alguém de que é bom conservar as
coisas do jeito que são no Brasil?
Carvalho - O resultado do referendo sobre as armas, o apoio de
parcela expressiva da população à
pena de morte e outras indicações
mostram que o povo brasileiro é
maciçamente de direita no que se
refere a cultura, moral, costumes.
Mas, como só existem partidos de
esquerda, acaba-se votando na esquerda. É hora de criar uma opção partidária de direita. Um verdadeiro partido conservador não
tem de defender apenas o livre
mercado, mas tem de defender
um estilo de vida.
Folha - Qual seria o programa de
um verdadeiro partido de direita
no Brasil?
Carvalho - 1. Anticomunismo.
Não queremos comunismo na
América Latina. Tchau, tchau e
bênção. Adeus, Fidel Castro;
adeus, Hugo Chávez, não queremos nada disso; 2. Livre empresa
e respeito à propriedade; 3. Moral
judaico-cristã; 4. Educação clássica. As pessoas têm de ter os valores fundamentais da civilização; 5.
A verdadeira liberdade de discussão. 50% a 50%. Equilíbrio entre
as correntes.
Folha - Como é repudiar o comunismo, Cháves e Fidel, e ser favorável a um equilíbrio entre as corrente de direita e esquerda?
Carvalho - Uma coisa é ser de esquerda, e outra coisa, bem diferente, é essa tradição marxista, comunista. Isso tem de acabar. Porque se trata de ideologia genocida,
criminosa.
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