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Tragédia levou orquestra a Heliópolis
DA REPORTAGEM LOCAL
O maestro Silvio Baccarelli ficou chocado com
um grande incêndio na favela de Heliópolis, em
1996, que matou quatro
pessoas, entre elas um menino de quatro anos e uma
recém-nascida, de 12 dias.
A tragédia o fez eleger a
região para um projeto filantrópico que idealizava
havia anos. Logo as primeiras crianças seriam escolhidas para aprender
música clássica em seu auditório, na Vila Mariana.
Graziela Teixeira tinha
dez anos. Nascida em uma
favela de Campinas, aos
sete mudou-se para Heliópolis com os irmãos, a
mãe, doméstica desempregada, e o pai, que "só fazia coisa errada". Lembra
que vieram à sua escola em
busca "dos melhores alunos, que ganhariam uma
bolsa para estudar música". Mas sua professora foi
sábia e inverteu a regra.
"Eu era a mais briguenta.
A professora me chamou
para ver se eu melhorava."
Coincidentemente, uma
semana antes, uma tia a
havia levado para assistir a
um concerto no parque
Ibirapuera, e Graziela falou: "Um dia vou tocar assim". A tia cortou: "Isso é
coisa de rico, menina!".
Na primeira aula, viu
uma viola e foi dizendo:
"Vou tocar esse violino". O
maestro tentou explicar.
"Você acha que só porque
eu vim da favela não sei
que isso é um violino", a
garota reagiu. Hoje, aos
24, brinca: é "violinola".
Graziela é uma das quatro pioneiras que permanecem no Instituto Baccarelli, que neste ano deve
atender a mil alunos de famílias de baixa renda. Faz
parte do grupo de 80 músicos da Sinfônica Heliópolis, carro-chefe do projeto,
que conta ainda com um
coral e uma orquestra para
os mais novos. Há quatro
anos, casou-se com outro
aluno. Cada um deles recebe bolsa de R$ 750, única
renda da casa, na qual vivem as duas filhas, sua
mãe, dois irmãos (23 e 15
anos) e uma tia. "Não, não
dá para tudo, mas queremos investir na carreira."
Fábrica de sucos
Em 2005, o Instituto
Baccarelli deixou o bairro
nobre da Vila Mariana e se
mudou para uma antiga
fábrica de sucos em Heliópolis. Em novembro passado, foi inaugurado o novo prédio, orçado em R$ 6
milhões e construído especialmente para o projeto pela ONG Pró-Vida.
Quando estiver completamente finalizado, o espaço terá 6.000 m2, com
um teatro. Para isso, serão
necessários mais R$ 11 milhões -por enquanto, segundo o maestro Edilson
Ventureli, vice-presidente
do instituto, foram arrecadados R$ 4 milhões com a
Eletrobras e R$ 490 mil
com a Votorantim. As
duas empresas, além da
Volkswagen e Petrobras,
patrocinam o instituto por
meio da Lei Rouanet, de
benefício fiscal. Em razão
da crise internacional, diz
Ventureli, os patrocínios
estão atrasados, e o instituto ainda não conseguiu
fechar seu orçamento previsto para 2009, de R$ 6
milhões.
(LM)
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