São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Tragédia levou orquestra a Heliópolis

DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro Silvio Baccarelli ficou chocado com um grande incêndio na favela de Heliópolis, em 1996, que matou quatro pessoas, entre elas um menino de quatro anos e uma recém-nascida, de 12 dias.
A tragédia o fez eleger a região para um projeto filantrópico que idealizava havia anos. Logo as primeiras crianças seriam escolhidas para aprender música clássica em seu auditório, na Vila Mariana.
Graziela Teixeira tinha dez anos. Nascida em uma favela de Campinas, aos sete mudou-se para Heliópolis com os irmãos, a mãe, doméstica desempregada, e o pai, que "só fazia coisa errada". Lembra que vieram à sua escola em busca "dos melhores alunos, que ganhariam uma bolsa para estudar música". Mas sua professora foi sábia e inverteu a regra. "Eu era a mais briguenta. A professora me chamou para ver se eu melhorava."
Coincidentemente, uma semana antes, uma tia a havia levado para assistir a um concerto no parque Ibirapuera, e Graziela falou: "Um dia vou tocar assim". A tia cortou: "Isso é coisa de rico, menina!".
Na primeira aula, viu uma viola e foi dizendo: "Vou tocar esse violino". O maestro tentou explicar. "Você acha que só porque eu vim da favela não sei que isso é um violino", a garota reagiu. Hoje, aos 24, brinca: é "violinola".
Graziela é uma das quatro pioneiras que permanecem no Instituto Baccarelli, que neste ano deve atender a mil alunos de famílias de baixa renda. Faz parte do grupo de 80 músicos da Sinfônica Heliópolis, carro-chefe do projeto, que conta ainda com um coral e uma orquestra para os mais novos. Há quatro anos, casou-se com outro aluno. Cada um deles recebe bolsa de R$ 750, única renda da casa, na qual vivem as duas filhas, sua mãe, dois irmãos (23 e 15 anos) e uma tia. "Não, não dá para tudo, mas queremos investir na carreira."

Fábrica de sucos
Em 2005, o Instituto Baccarelli deixou o bairro nobre da Vila Mariana e se mudou para uma antiga fábrica de sucos em Heliópolis. Em novembro passado, foi inaugurado o novo prédio, orçado em R$ 6 milhões e construído especialmente para o projeto pela ONG Pró-Vida.
Quando estiver completamente finalizado, o espaço terá 6.000 m2, com um teatro. Para isso, serão necessários mais R$ 11 milhões -por enquanto, segundo o maestro Edilson Ventureli, vice-presidente do instituto, foram arrecadados R$ 4 milhões com a Eletrobras e R$ 490 mil com a Votorantim. As duas empresas, além da Volkswagen e Petrobras, patrocinam o instituto por meio da Lei Rouanet, de benefício fiscal. Em razão da crise internacional, diz Ventureli, os patrocínios estão atrasados, e o instituto ainda não conseguiu fechar seu orçamento previsto para 2009, de R$ 6 milhões. (LM)


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