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"O SÉTIMO DIA"
Carlos Saura exibe as feridas de uma Espanha cindida em dois
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Walter Salles encontra
Quentin Tarantino.
Ou, ainda, David Carradine, o
Bill, de "Kill Bill - Vol. 2", invade o
set de filmagem de "Abril Despedaçado" e fuzila Rodrigo Santoro
e toda a sua família.
Não, não foi o sol forte, presente
nos dois filmes, que provocou o
delírio dessa fusão de imagens.
Em "O Sétimo Dia", o cineasta espanhol Carlos Saura reconstrói,
com cores tarantinescas, um massacre sangrento que ocorreu realmente no verão de 1990, em Puerto Hurraco, um até então pacato
povoado de Extremadura, localizado no sudoeste da Espanha.
Motivo do crime: vendeta, como
no filme do brasileiro Walter Salles, inspirado pelo romance do
albanês Ismail Kadaré.
Em "O Sétimo Dia", tudo começa com uma história de amor entre um membro de cada uma das
famílias em conflito, nos anos 60.
O rapaz seduz a moça e a abandona. Na seqüência, é assassinado
pelos parentes dela, que, por sua
vez, têm a casa destruída e a mãe
queimada pelo irmão do morto.
O ciclo de ódio só faz aumentar
por conta de uma disputa de terras e com a demência progressiva
de Luciana, o estopim de toda a
confusão, interpretada por Victoria Abril -mais conhecida por
seus papéis almodovarianos.
Apesar das comparações acima,
"O Sétimo Dia" é um legítimo
produto da "oficina Saura". Entre
as características mais marcantes
do diretor de "Cría Cuervos" (76),
"Ay, Carmela!" (90) e "Goya"
(99), a preocupação com a fotografia e a busca por uma "Espanha profunda" se ressaltam.
Com o tema do país cindido em
dois, Saura reaviva traumas nacionais desde o tempo das disputas ideológicas da Guerra Civil.
O massacre de Puerto Hurraco
chocou pela brutalidade primitiva
uma Espanha que, naqueles anos
90, sob o governo do socialista Felipe González, se julgava moderna
e próspera e via cada vez mais distante o país arcaico e pobre que
fora durante o franquismo.
Saura escancara a triste ironia
que Puerto Hurraco representou.
Ironia que ele procura estender
até os dias de hoje, em cenas sutis
como aquela em que a garota Isabel, poucos dias antes da matança, diz, entediada com a vida no
vilarejo: "Eu queria viver em Madri, para ver na rua os jogadores
de futebol, os cantores".
O Sétimo Dia
El Séptimo Dia
Direção: Carlos Saura
Produção: Espanha, 2004
Com: José Luiz Gómez, Juan Diego, José
Garcia, Victoria Abril
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca
Unibanco Arteplex e no HSBC Belas
Artes/Sala Mário de Andrade
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