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CINEMA
Seqüência sai com dez anos de "atraso"
"Be Cool" se iguala a lixo da indústria cultural
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Não raro, a crítica ao lixo se
confunde com o próprio
lixo. Caso patente de "Be Cool -O Outro Nome do Jogo", com a
pretensão de ser uma sátira à
indústria cultural, mas que se
faz igualzinho ao que ela produz de pior.
Logo na primeira cena, Chili
Palmer (John Travolta) solta
uma crítica explícita às continuações produzidas em massa
por Hollywood. É o roto falando do esfarrapado, já que "Be
Cool" é a continuação de "O
Nome do Jogo", de 1995. Não
bastasse o atraso de dez anos, o
resultado é mais constrangedor do que as piores continuações que pretende criticar.
Travolta fez "O Nome do Jogo" um ano depois de voltar à
cena como o gângster pé-de-chinelo Vincent Vega, em
"Pulp Fiction", de Quentin Tarantino. Encarnar Chili Palmer
foi um passo lógico. Personagem criado pelo escritor Elmore Leonard (autor da predileção de Tarantino), Chili Palmer
é um gângster que prefere discutir filmes a falar dos hambúrgueres do McDonald's. Em "O
Nome do Jogo", ele abria seu
caminho na indústria do cinema; em "Be Cool", resolve diversificar seus investimentos
no ramo musical.
A grande sacada de Leonard
foi criar um personagem capaz
de encarnar uma espécie de denúncia bem-humorada dos
meandros escusos da cultura
pop. Mas é curioso que esse
material, tão bem explorado na
ficção assumidamente "pulp"
do escritor, tenha caído nas
mãos de um estúdio conhecido
por seu conservadorismo (a
Metro-Goldwin-Mayer). As
adaptações dos dois livros protagonizados por Chili Palmer
foram entregues a diretores burocráticos (Barry Sonnenfeld,
no primeiro caso, e F. Gary
Gray, neste segundo). Robert
Altman ou Tarantino nem
pensar.
"Be Cool" é um caso bem
mais grave que "O Nome do Jogo". Sem energia ou ritmo, é
absurdamente frio, como se todos tivessem tomado literalmente o significado do título.
As piadas até gostariam de ser
politicamente incorretas, mas
são só preconceituosas.
Chega a ser doloroso ver
Uma Thurman na recriação
patética da cena em que ela
dançava com Travolta em
"Pulp Fiction"; ou bons atores
como Vincent Vaughn debatendo-se aos berros para fazer
graça com um material sem
salvação; ou ainda o brasileiro
Sérgio Mendes sendo "homenageado" em participação especial, supostamente "cool".
Pior de tudo, porém, é ver o astro de ação The Rock tentando
ser cômico na pele de um segurança gay que pretende ser
ator. Que ele volte à "Múmia" e
a todas as suas seqüências, infinitamente mais divertidas que
esse "Be Cool".
Be Cool - O Outro Nome do Jogo
Be Cool
Direção: F. Gary Gray
Produção: EUA, 2005
Com: John Travolta, Uma Thurman
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Jardim Sul, Shopping D e
circuito
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