São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005

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CINEMA

Seqüência sai com dez anos de "atraso"

"Be Cool" se iguala a lixo da indústria cultural

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Não raro, a crítica ao lixo se confunde com o próprio lixo. Caso patente de "Be Cool -O Outro Nome do Jogo", com a pretensão de ser uma sátira à indústria cultural, mas que se faz igualzinho ao que ela produz de pior.
Logo na primeira cena, Chili Palmer (John Travolta) solta uma crítica explícita às continuações produzidas em massa por Hollywood. É o roto falando do esfarrapado, já que "Be Cool" é a continuação de "O Nome do Jogo", de 1995. Não bastasse o atraso de dez anos, o resultado é mais constrangedor do que as piores continuações que pretende criticar.
Travolta fez "O Nome do Jogo" um ano depois de voltar à cena como o gângster pé-de-chinelo Vincent Vega, em "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino. Encarnar Chili Palmer foi um passo lógico. Personagem criado pelo escritor Elmore Leonard (autor da predileção de Tarantino), Chili Palmer é um gângster que prefere discutir filmes a falar dos hambúrgueres do McDonald's. Em "O Nome do Jogo", ele abria seu caminho na indústria do cinema; em "Be Cool", resolve diversificar seus investimentos no ramo musical.
A grande sacada de Leonard foi criar um personagem capaz de encarnar uma espécie de denúncia bem-humorada dos meandros escusos da cultura pop. Mas é curioso que esse material, tão bem explorado na ficção assumidamente "pulp" do escritor, tenha caído nas mãos de um estúdio conhecido por seu conservadorismo (a Metro-Goldwin-Mayer). As adaptações dos dois livros protagonizados por Chili Palmer foram entregues a diretores burocráticos (Barry Sonnenfeld, no primeiro caso, e F. Gary Gray, neste segundo). Robert Altman ou Tarantino nem pensar.
"Be Cool" é um caso bem mais grave que "O Nome do Jogo". Sem energia ou ritmo, é absurdamente frio, como se todos tivessem tomado literalmente o significado do título. As piadas até gostariam de ser politicamente incorretas, mas são só preconceituosas.
Chega a ser doloroso ver Uma Thurman na recriação patética da cena em que ela dançava com Travolta em "Pulp Fiction"; ou bons atores como Vincent Vaughn debatendo-se aos berros para fazer graça com um material sem salvação; ou ainda o brasileiro Sérgio Mendes sendo "homenageado" em participação especial, supostamente "cool". Pior de tudo, porém, é ver o astro de ação The Rock tentando ser cômico na pele de um segurança gay que pretende ser ator. Que ele volte à "Múmia" e a todas as suas seqüências, infinitamente mais divertidas que esse "Be Cool".


Be Cool - O Outro Nome do Jogo
Be Cool
 
Direção: F. Gary Gray
Produção: EUA, 2005
Com: John Travolta, Uma Thurman
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Jardim Sul, Shopping D e circuito


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