São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005

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ELETRÔNICO

Dolores dá vazão a som "de pobre"

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não existe feio nem bonito. Música é expressão e cabe ao DJ dar vazão a cada uma delas. Essa é a opinião do DJ Dolores, que em seu segundo disco, "Aparelhagem", abre caminho para o que chama de "eletrônica de pobre".
"Meu set é concentrado no tipo de eletrônica que está sendo feita na periferia do mundo, em Angola, Porto Rico, Haiti, Índia, os imigrantes paquistaneses na Inglaterra." E Norte-Nordeste.
Apesar da ambição "mais internacional" de seu novo trabalho, graças a cinco anos de turnês intensivas na Europa, Dolores não abre mão do amálgama de drum'n'bass com maracatu, de dub com embolada ou de forró com tecno que chamava a atenção em seu trabalho anterior, "Contraditório?", então acompanhado pela Orquestra Santa Massa.
"Aparelhagem" é também o nome de sua nova trupe, que reproduz as gravações ao vivo, com a ajuda de metais, cordas, percussão e vozes, entre elas o canto adocicado de Isaar França, ex-Santa Massa, que agora divide boa parte das composições com Dolores.
Apesar da estética "de pobre", o DJ pernambucano revela que contou, desta vez, com um orçamento muito maior para gravar o disco. "Ganhei uma experiência bem grande como produtor, o que resultou em algo tecnicamente melhor, e ainda tive grana para chamar os músicos que quisesse."
Entre os mais de 20 músicos diferentes que passaram pelo estúdio estão incluídos o baixista Júnior Areia, o guitarrista Fernando Catatau, Maciel Salu, Bactéria e - parte da "missão evangelizadora" de Dolores- a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, que empresta os metais a "Salvo!!".
"Nunca toco nada que é sucesso. Acho que o papel do DJ é apresentar coisas novas para o público. É fazer as pessoas dançarem com o desconhecido. Essa coisa de divisão de classes sociais na música ainda é muito forte em todo o mundo", afirma, jogando no mesmo balaio manifestações "de gueto" como a acid house de Chicago, o funk carioca e o tecnobrega paraense, ritmo homenageado em "Sanidade". "Os bailes em Belém juntam 3.000 pessoas. Se tem tanta gente dançando isso aí, mesmo sendo uma coisa meio tosca, é porque algum poder ela tem. Depois de tanto tempo trabalhando com música, perde-se o sentido de dizer isso é bom, isso é ruim. Música é uma forma de expressão, não se pode dizer que é de mau gosto ou de bom gosto."
Com apresentações marcadas para amanhã no Skol Beats, domingo no Abril Pro Rock e em maio no Hype, em São Paulo, Dolores continua com a agenda cheia na Europa. Só neste ano já foram duas turnês na França e, em junho, ocupará três palcos no megafestival inglês Glastonbury, um deles dividido com a banda Scissor Sisters. Brasil em alta?
"Há uns dois anos tem essa onda muito forte de Brasil na Europa. Eu tento fugir disso. Acho bossa nova uma merda e o samba que chega na Europa é ridículo. Romper com esse rótulo de brasilidade, para mim, é um trunfo."


Aparelhagem
   

Artista: DJ Dolores

Lançamento: Azougue Discos e Distribuidora Independente

Quanto: R$ 23,60


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