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ELETRÔNICO
Dolores dá vazão a som "de pobre"
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Não existe feio nem bonito. Música é expressão e cabe ao DJ dar
vazão a cada uma delas. Essa é a
opinião do DJ Dolores, que em
seu segundo disco, "Aparelhagem", abre caminho para o que
chama de "eletrônica de pobre".
"Meu set é concentrado no tipo
de eletrônica que está sendo feita
na periferia do mundo, em Angola, Porto Rico, Haiti, Índia, os imigrantes paquistaneses na Inglaterra." E Norte-Nordeste.
Apesar da ambição "mais internacional" de seu novo trabalho,
graças a cinco anos de turnês intensivas na Europa, Dolores não
abre mão do amálgama de
drum'n'bass com maracatu, de
dub com embolada ou de forró
com tecno que chamava a atenção
em seu trabalho anterior, "Contraditório?", então acompanhado
pela Orquestra Santa Massa.
"Aparelhagem" é também o nome de sua nova trupe, que reproduz as gravações ao vivo, com a
ajuda de metais, cordas, percussão e vozes, entre elas o canto adocicado de Isaar França, ex-Santa
Massa, que agora divide boa parte
das composições com Dolores.
Apesar da estética "de pobre", o
DJ pernambucano revela que
contou, desta vez, com um orçamento muito maior para gravar o
disco. "Ganhei uma experiência
bem grande como produtor, o
que resultou em algo tecnicamente melhor, e ainda tive grana para
chamar os músicos que quisesse."
Entre os mais de 20 músicos diferentes que passaram pelo estúdio estão incluídos o baixista Júnior Areia, o guitarrista Fernando
Catatau, Maciel Salu, Bactéria e -
parte da "missão evangelizadora"
de Dolores- a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, que
empresta os metais a "Salvo!!".
"Nunca toco nada que é sucesso. Acho que o papel do DJ é apresentar coisas novas para o público. É fazer as pessoas dançarem
com o desconhecido. Essa coisa
de divisão de classes sociais na
música ainda é muito forte em todo o mundo", afirma, jogando no
mesmo balaio manifestações "de
gueto" como a acid house de Chicago, o funk carioca e o tecnobrega paraense, ritmo homenageado
em "Sanidade". "Os bailes em Belém juntam 3.000 pessoas. Se tem
tanta gente dançando isso aí, mesmo sendo uma coisa meio tosca, é
porque algum poder ela tem. Depois de tanto tempo trabalhando
com música, perde-se o sentido
de dizer isso é bom, isso é ruim.
Música é uma forma de expressão, não se pode dizer que é de
mau gosto ou de bom gosto."
Com apresentações marcadas
para amanhã no Skol Beats, domingo no Abril Pro Rock e em
maio no Hype, em São Paulo, Dolores continua com a agenda
cheia na Europa. Só neste ano já
foram duas turnês na França e,
em junho, ocupará três palcos no
megafestival inglês Glastonbury,
um deles dividido com a banda
Scissor Sisters. Brasil em alta?
"Há uns dois anos tem essa onda muito forte de Brasil na Europa. Eu tento fugir disso. Acho bossa nova uma merda e o samba que
chega na Europa é ridículo. Romper com esse rótulo de brasilidade, para mim, é um trunfo."
Aparelhagem
Artista: DJ Dolores
Lançamento: Azougue Discos e Distribuidora Independente
Quanto: R$ 23,60
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