São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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Sexo (superlotação de homens e mulheres), Drogas (droga de fila, droga de ingressos falsos) & Rock'n'Roll (Rolling Stones + Bob Dylan)

BRUNO GARCEZ
MARCELO NEGROMONTE
free-lance para a Folha

O show dos Rolling Stones anteontem em São Paulo foi marcado por uma apresentação irretocável, mas com o público enfrentando filas quilométricas, superlotação, e cerca de mil ingressos falsos apreendidos na bilheteria.
Tudo isso com o bilhete custando R$ 65 (pista e arquibancada) -mais da metade do salário mínimo-, R$ 120 (cadeiras laterais) e R$ 200 (cadeiras centrais).
A lotação esteve muito acima do número de ingressos vendidos e do limite de público estabelecido pelo Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis) -32.670.
Segundo estimativa da PM, o público do show dos Stones em São Paulo foi de cerca de 48 mil pessoas. A produtora Dueto, por meio de sua assessoria, afirma que foram impressos 32.672 ingressos, nos EUA, pela empresa norte-americana Ticketmaster (que controla a venda de ingressos da grande maioria dos eventos musicais, teatrais e esportivos na América) e que não há possibilidade de haver ingressos duplicados.
A produção reconhece que houve excesso de público, mas afirma que, apesar de serem oficiais, os números da PM são subjetivos, porque a avaliação é feita por "olhômetro".
10 mil de fora
Às 20h45, a pedido da PM - e com o consentimento dos Stones em atrasar o show em 50 minutos-, as bilheterias deixaram de usar a luz negra que verificava a autenticidade de todos os ingressos e passou a usá-la por amostragem. A medida visou acelerar a entrada de público no estádio. A produção calcula que demoraria cerca de duas horas para que todos na fila entrassem no estádio, se fosse a feita a verificação bilhete a bilhete.
Segundo a produção do espetáculo, neste horário, a 45 minutos do início previsto para o show dos Stones, o público do lado de fora era de cerca de 10 mil pessoas. Segundo a PM, entre 6.000 e 8.000 pessoas.
A produção do show classificou o problema das filas como "imprevisto", devido ao show ter acontecido num dia de semana em que as pessoas chegaram "quase ao mesmo tempo", depois de sair do trabalho.
A PM chegou a cogitar a interrupção da entrada de público neste horário. O capitão Merlo, que chefiava a operação no show de ontem, afirmou que tal medida não foi tomada por haver uma via de acesso desobstruída -o espaço entre o alambrado que separava a pista e as barracas de alimentos, embaixo das cadeiras centrais-, que poderia ser usada em caso de emergência.
Sobre a superlotação, o capitão Merlo classificou como "temerosa", mas que não representaria riscos ao público presente. A PM filmou o show e enviará a fita de vídeo ao Contru, para que seja submetida a avaliações sobre o excesso de público.
Muitos acabaram perdendo a apresentação de Bob Dylan, que teve início às 19h55. Neste horário, segundo a PM, havia cerca de 24 mil pessoas na pista do Ibirapuera.
Uma das pessoas que não conseguiu assistir ao show de Dylan foi a fã Dulce Horta, 38, que chegou às 19h30 e pagou R$ 200 por uma cadeira central. Segundo Dulce, a cada entrada que ela se dirigia, encaminhavam-na a outra.
"Além disso, entrei em uma fila imensa, mas acabei saindo quando vi que havia muito empurra-empurra", disse.
Dulce diz ter esperado do lado de fora por cerca de duas horas. Quando finalmente conseguiu entrar, às 21h30, Dulce conta que seu lugar nas cadeiras especiais já estava ocupado. Segundo ela, foi preciso chamar alguém da produção para que ela pudesse se sentar.
Segundo a Dueto, não houve nenhuma reclamação nesse sentido.
A espera média das pessoas que entravam na pista depois da apresentação de Dylan era de cerca de uma hora.



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