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Filme faz crônica de SP
da Equipe de Articulistas
"Boleiros - Era uma Vez o
Futebol" não é, propriamente,
um filme sobre o futebol. A rigor, aparecem na tela apenas
duas ou três jogadas. O resto da
ação se passa fora das quatro
linhas.
Não é tampouco sobre os
bastidores do esporte e suas
mazelas: cartolagem, corrupção, doping ou coisa que o valha.
Mesmo quando esses temas
afloram aqui e ali -como no
hilariante episódio do juiz
comprado -, o interesse de
Ugo Giorgetti não é de "denúncia", mas de crônica sentimental.
Seu filme é uma declaração
de amor e humor aos personagens que constituem o universo da mais profunda paixão
nacional.
A estrutura narrativa é simples e engenhosa. Em torno de
uma mesa de bar, um grupo de
ex-jogadores e um ex-juiz evocam casos folclóricos, trágicos
ou cômicos que viveram ou
presenciaram.
O filme se abre então para a
exposição de seis desses episódios, cada um vinculado de algum modo a um time paulista.
Por meio dessas histórias,
Giorgetti não apenas dá conta
das situações mais arquetípicas
do esporte (o juiz ladrão, o jogador que foge da concentração, o craque que vai parar na
miséria etc.), como também
faz uma crônica dos diversos
mundos que convivem na cidade de São Paulo.
Do hotel de luxo à favela, da
redação de jornal ao terreiro de
macumba, dos Jardins à Vila
Nova Cachoeirinha, as várias
faces da metrópole aparecem
cheias de cor e vida em "Boleiros".
Do mesmo modo, os atores
do filme -dos mais famosos
aos mais anônimos- têm cara
de gente, agem como gente, falam como gente.
Um dos grandes méritos de
"Boleiros" é justamente o de
revelar uma miríade de atores
novos e desconhecidos, todos
perfeitamente adequados a
seus papéis.
Ao lado deles, brilham veteranos como Flávio Migliaccio,
Otávio Augusto e, principalmente, os geniais Adriano
Stuart e Rogério Cardoso (o
Rolando Lero da TV).
Há passagens de irresistível
comicidade (o juiz ladrão, os
torcedores que levam o craque
ao pai-de-santo, a mesa-redonda da TV) e há momentos
de drama pungente: o ex-jogador que gasta tudo o que tem
para reviver sua glória numa
única noite, o jovem astro negro confundido com um criminoso, o ex-craque que não
se reconhece nas fotos de juventude.
A força dramática de "Boleiros" reside justamente no contraste entre as arestas da vida
cotidiana e a grandeza do mito.
Se seu tom geral é elegíaco, é
porque está falando de nada
menos que a fugacidade da
glória e da vida.
(JGC)
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