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LIVROS
Flip testa veia literária de Lou Reed
Poeta do rock marginal nos anos 60, americano vai participar da festa de Paraty e terá lançado livro com suas letras
Ex-estudante de poesia,
roqueiro já escreveu peça
baseada em Edgar Allan Poe
e disse ter obra suficiente
para concorrer ao Nobel
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
Lou Reed, escritor? É a pergunta que se faz diante da confirmação da presença do músico na próxima Flip (Festa Literária Internacional de Paraty),
de 4 a 8 de agosto.
Pois são as canções do roqueiro e fotógrafo -imortalizado, nos anos 60, ao criar a banda Velvet Underground- que
justificam a sua participação no
festival pop literário.
Em julho, a Companhia das
Letras traz ao Brasil "Atravessar o Fogo", que reúne 310 músicas. Lançado em inglês em
2000, foi tido pela mídia americana como o endosso da importância de Reed como poeta.
Mas o autor de clássicos como "Walk on the Wild Side",
"Heroin" e "Perfect Day", hoje
com 68 anos, demonstrou outros vínculos com a literatura
ao longo de sua carreira.
No mesmo ano do lançamento da coletânea que chega agora
ao Brasil, Reed revisitou as histórias de mistério do escritor
americano Edgar Allan Poe
(1809 -1849) para escrever a peça "POEtry", em parceria com o
diretor Robert Wilson.
Mais tarde, transformou o
texto teatral no álbum-conceito "The Raven" (2003), em que
gravou com convidados como
Steve Buscemi e David Bowie.
E as músicas, de novo, viraram
livro, acompanhadas de fotos
do cineasta Julian Schnabel.
"Eu amo a linguagem de
Poe", disse, em 2001, ao "New
York Times". "Combina perfeitamente com a minha ideia do
que o rock poderia ser: o ritmo,
o sexo do rock e o seu impulso
físico, com o verdadeiro poder
da linguagem."
A mescla de literatura e música, segundo o compositor,
não é uma tentativa de legitimar o rock ou ensinar uma lição a adolescentes iletrados,
apenas a recusa de separar dois
meios de que gosta.
"Não vejo nenhuma razão
pela qual você não possa gostar
de rock e ser inteligente. Podemos engajar nossas mentes
dentro da música", afirmou.
O "rock inteligente" de Reed
começou nos anos 60, depois
de estudar poesia com Delmore
Schwartz (1913-1966), a quem
chama de "mestre", na Universidade Syracuse.
Entre 1965 e o início dos anos
70, Reed aplicou seus conhecimentos literários a letras realistas sobre vícios, sexo e amores problemáticos, no auge da
banda Velvet Underground, cujo nome foi inspirado no título
de um livro.
Fora do grupo, o roqueiro se
voltou mais uma vez à poesia,
chegando a participar de recitais com a presença de Allen
Ginsberg -ícone da geração
beatnik- e a proclamar que
nunca voltaria a cantar.
Desde então, não largou nem
o rock nem a poesia, na tentativa de levar "sensibilidade literária ao rock and roll".
Questionado pelo jornal "El
País", no fim de 2008, se imaginava o seu nome como candidato ao Nobel de Literatura,
Reed, que foi à Espanha naquele ano participar de um recital
de poesias, respondeu: "A pergunta é se acho possível? Não,
Bob Dylan já preenche a cota de
candidatos no setor dos cantores/compositores judeus. Se
acho que mereço? Tenho obra
suficiente".
E, nesta semana, Reed anunciou o seu próximo projeto musical, "Music for Dogs" (música
para cães), em parceria com sua
mulher, Laurie Anderson.
O concerto para ouvidos caninos está marcado para 5 de
junho, como parte de um festival australiano que terá a curadoria do casal. Segundo a mulher de Reed disse a um jornal
de Sydney, eles têm mais de dez
anos de experiência em fazer
música para o seu rat terrier.
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