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Crítica/"A Vida Secreta das Palavras"
Apelo "humanista" enfraquece filme de espanhola
DO CRÍTICO DA FOLHA
"A Vida Secreta das
Palavras" é um título com forte poder
de sugestão, embora não seja
fácil, de imediato, estabelecer a
relação entre ele e o filme.
Só aos poucos percebemos
que este drama dirigido pela espanhola Isabel Coixet refere-se
à dificuldade de viver, que coincide com a dificuldade de falar.
De um lado, existe Hanna
(Sarah Polley), garota que vive
em Copenhague sem amigos ou
parentes, dedicada exclusivamente ao trabalho. É uma espécie de morta-viva que se vê
constrangida pelo diretor da
empresa a tirar férias (coisa
que não faz há quatro anos).
Em vez de se divertir, arranja
emprego como enfermeira em
uma plataforma de petróleo.
De outro lado, existe Josef
(Tim Robbins), homem acidentado numa explosão ocorrida
na plataforma, imóvel em uma
cama e provisoriamente cego.
É óbvio que, com o tempo,
um e outro começarão a falar.
As feridas muito evidentes de
Josef de certo modo vão se
eclipsar, substituídas por outras, mais secretas. As de Hanna vão surgir com toda violência, quando percebemos que se
trata de uma sobrevivente da
guerra no Kosovo. Ou, melhor
dizendo: uma sobrevivente dos
horrores da guerra no Kosovo.
As revelações são o momento
decisivo do filme. E não depõem a seu favor, diga-se. Até
então, os personagens -especialmente Hanna- preservam
ciosamente seu mistério e, com
isso, adquirem certa grandeza.
Do momento em que aquilo
que em sua existência é secreto,
inconfessável, Hanna perde
seu encanto para se tornar apenas uma abstração, um símbolo
dos pecados da guerra que Coixet pretende denunciar ou deixar em evidência.
O filme ganha sua justificativa
"humanista", um lugar aceitável
na cultura. E, então, se define como cinema acadêmico.
(IA)
A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS
Direção: Isabel Coixet
Produção: Espanha, 2005
Com: Sarah Polley, Tim Robbins
Quando: estréia hoje no HSBC Belas-Artes, Espaço Unibanco e circuito
Avaliação: regular
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