São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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Crítica/"A Vida Secreta das Palavras"

Apelo "humanista" enfraquece filme de espanhola

DO CRÍTICO DA FOLHA

"A Vida Secreta das Palavras" é um título com forte poder de sugestão, embora não seja fácil, de imediato, estabelecer a relação entre ele e o filme. Só aos poucos percebemos que este drama dirigido pela espanhola Isabel Coixet refere-se à dificuldade de viver, que coincide com a dificuldade de falar.
De um lado, existe Hanna (Sarah Polley), garota que vive em Copenhague sem amigos ou parentes, dedicada exclusivamente ao trabalho. É uma espécie de morta-viva que se vê constrangida pelo diretor da empresa a tirar férias (coisa que não faz há quatro anos).
Em vez de se divertir, arranja emprego como enfermeira em uma plataforma de petróleo.
De outro lado, existe Josef (Tim Robbins), homem acidentado numa explosão ocorrida na plataforma, imóvel em uma cama e provisoriamente cego.
É óbvio que, com o tempo, um e outro começarão a falar.
As feridas muito evidentes de Josef de certo modo vão se eclipsar, substituídas por outras, mais secretas. As de Hanna vão surgir com toda violência, quando percebemos que se trata de uma sobrevivente da guerra no Kosovo. Ou, melhor dizendo: uma sobrevivente dos horrores da guerra no Kosovo.
As revelações são o momento decisivo do filme. E não depõem a seu favor, diga-se. Até então, os personagens -especialmente Hanna- preservam ciosamente seu mistério e, com isso, adquirem certa grandeza.
Do momento em que aquilo que em sua existência é secreto, inconfessável, Hanna perde seu encanto para se tornar apenas uma abstração, um símbolo dos pecados da guerra que Coixet pretende denunciar ou deixar em evidência.
O filme ganha sua justificativa "humanista", um lugar aceitável na cultura. E, então, se define como cinema acadêmico. (IA)

A VIDA SECRETA DAS PALAVRAS
Direção:
Isabel Coixet
Produção: Espanha, 2005
Com: Sarah Polley, Tim Robbins
Quando: estréia hoje no HSBC Belas-Artes, Espaço Unibanco e circuito
Avaliação: regular


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