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Três novos livros exploram obra de Iberê Camargo
Artista gaúcho é tema de volume introdutório e outro de ensaios, além de ter os próprios escritos editados
Novos textos críticos analisam técnica do pintor, sua obsessão pelos carretéis e seu marcante estilo literário
DE SÃO PAULO
"Não há espaço para a alegria", escreveu o artista Iberê
Camargo. "Toda grande obra
tem raízes no sofrimento."
Mas a dele não era uma angústia homogênea. A obra
deste pintor gaúcho, morto
há 16 anos, está arquitetada
sobre contrastes agudos,
quente e frio, presente e passado, mergulho introspectivo contra a impetuosidade.
Três livros lançados agora
pela Cosac Naify exploram a
fundo o universo que estrutura a obra de um dos maiores pintores do país, conhecido por telas de gestual exacerbado, estética grotesca e a
obsessão com que pintou os
carretéis de costura da mãe.
Se no primeiro deles, "Iberê Camargo: Origem e Destino", a crítica Vera Beatriz Siqueira introduz a obra do artista, o segundo, "Gaveta dos
Guardados", vai além, trazendo os escritos do pintor.
"Tríptico para Iberê", livro
de ensaios, reúne estudos sobre a técnica do artista, a série dos carretéis e uma análise dos textos que escreveu.
Esse último livro é o que
parece dar corpo às afirmações dos diários de Camargo.
DRAMA E ESTRUTURA
Enquanto ele confessa que
"no andarilhar de pintor, fixo
a imagem que se me apresenta agora e retorno às coisas
que adormeceram na memória" e que a "pintura é um jogo entre quente e frio", Daniela Vicentini diz que a obra
"acontece por contrastes".
"Ele é visto como um artista expressionista, dramático", diz Vicentini à Folha.
"Minha contribuição é pensar que há uma estrutura."
Também por trás da memória afetiva, está a noção
histórica de que a forma dos
carretéis se relaciona com o
geometrismo que tomava a
arte brasileira da época.
No momento em que Hélio
Oiticica inventou seus "Metaesquemas" e o neoconcretismo ganhava dimensões de
vanguarda nacional, Camargo descambou para os carretéis, quase como maneira de
apaziguar e conter as arestas
de sua memória sofrida.
"Não há um ideal de beleza", escreveu o artista. "Mas
o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é minha
vida, e tua vida, é nossa vida,
nesse caminhar no mundo."
(SILAS MARTÍ)
IBERÊ CAMARGO: ORIGEM E DESTINO
AUTOR Vera Beatriz Siqueira
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 29 (112 págs.)
GAVETA DOS GUARDADOS
AUTOR Iberê Camargo
QUANTO R$ 25 (144 págs.)
TRÍPTICO PARA IBERÊ
AUTORES Daniela Vicentini,
Laura Castilhos e Paulo Ribeiro
QUANTO R$ 49 (448 págs.)
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