São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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Três novos livros exploram obra de Iberê Camargo

Artista gaúcho é tema de volume introdutório e outro de ensaios, além de ter os próprios escritos editados

Novos textos críticos analisam técnica do pintor, sua obsessão pelos carretéis e seu marcante estilo literário

DE SÃO PAULO

"Não há espaço para a alegria", escreveu o artista Iberê Camargo. "Toda grande obra tem raízes no sofrimento."
Mas a dele não era uma angústia homogênea. A obra deste pintor gaúcho, morto há 16 anos, está arquitetada sobre contrastes agudos, quente e frio, presente e passado, mergulho introspectivo contra a impetuosidade.
Três livros lançados agora pela Cosac Naify exploram a fundo o universo que estrutura a obra de um dos maiores pintores do país, conhecido por telas de gestual exacerbado, estética grotesca e a obsessão com que pintou os carretéis de costura da mãe.
Se no primeiro deles, "Iberê Camargo: Origem e Destino", a crítica Vera Beatriz Siqueira introduz a obra do artista, o segundo, "Gaveta dos Guardados", vai além, trazendo os escritos do pintor.
"Tríptico para Iberê", livro de ensaios, reúne estudos sobre a técnica do artista, a série dos carretéis e uma análise dos textos que escreveu.
Esse último livro é o que parece dar corpo às afirmações dos diários de Camargo.

DRAMA E ESTRUTURA
Enquanto ele confessa que "no andarilhar de pintor, fixo a imagem que se me apresenta agora e retorno às coisas que adormeceram na memória" e que a "pintura é um jogo entre quente e frio", Daniela Vicentini diz que a obra "acontece por contrastes".
"Ele é visto como um artista expressionista, dramático", diz Vicentini à Folha. "Minha contribuição é pensar que há uma estrutura."
Também por trás da memória afetiva, está a noção histórica de que a forma dos carretéis se relaciona com o geometrismo que tomava a arte brasileira da época.
No momento em que Hélio Oiticica inventou seus "Metaesquemas" e o neoconcretismo ganhava dimensões de vanguarda nacional, Camargo descambou para os carretéis, quase como maneira de apaziguar e conter as arestas de sua memória sofrida.
"Não há um ideal de beleza", escreveu o artista. "Mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é minha vida, e tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo."
(SILAS MARTÍ)


IBERÊ CAMARGO: ORIGEM E DESTINO

AUTOR Vera Beatriz Siqueira
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 29 (112 págs.)


GAVETA DOS GUARDADOS

AUTOR Iberê Camargo
QUANTO R$ 25 (144 págs.)


TRÍPTICO PARA IBERÊ

AUTORES Daniela Vicentini, Laura Castilhos e Paulo Ribeiro
QUANTO R$ 49 (448 págs.)



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