São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO @ - ultimamoda@folhasp.com.br

Brasileiros acertam o passo em Manhattan

Rosa Chá e Carlos Miele apresentam coleções inéditas na Olympus Fashion Week, em Nova York

Há cinco anos, quando ocorreram os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro, a temporada primavera-verão da semana de moda de Nova York foi bruscamente interrompida.
O estilista Amir Slama, que preparava o desfile de sua grife, a Rosa Chá, marcado para o dia 12, voltou ao Brasil sem poder apresentar a coleção para os americanos. Seu showroom, em 2001, não era longe das torres gêmeas. "Cheguei a ver uma das torres caindo. Fiquei atônito, paralisado", conta Amir. Na época, o local onde se realiza a semana de moda, o Bryant Park, transformou-se num centro de informação sobre a tragédia. "Ficou repleto de policiais, bombeiros e parentes das vítimas", lembra.
Nesta semana, as homenagens aos mortos na tragédia do 11 de Setembro tomaram conta dos EUA, mas na Olympus Fashion Week foi como se nada estivesse acontecendo. O mundo da festa e das celebridades imperou sobre o do luto.
A Rosa Chá mostrou no último dia 10 uma coleção fascinante, tanto do ponto de vista do conceito quanto da realização, com requintes muito raros no beachwear. Inspirada na dominação francesa no Brasil no século 16, desenvolveu três "tempos", ou linhas, que remetem ao índio (tanguinhas), à nobreza européia (corselets), ao designer Erté (estruturas art deco) e ao punk (incríveis biquínis e maiôs com fivelas).
Três outras grifes brasileiras desfilaram suas coleções em Nova York: Carlos Miele, Alexandre Herchcovitch e Cia. Marítima.
Herchcovitch mostrou os mesmos looks femininos exibidos na São Paulo Fashion Week, com boa repercussão na imprensa americana. Miele, que só desfila em Nova York, retomou seu fôlego criativo nesta temporada, com uma coleção charmosa, em que o desejo de luxo não sufoca a malícia e a contemporaneidade.
Até quarta-feira, o americano Marc Jacobs concentrava os elogios da crítica. Sua coleção combina com inteligência os requintes de uma feminilidade burguesa com irreverências próprias do underground e da moda de rua. Com sobreposições arriscadas, volumes e recortes imprevistos, ele quebrou a sensação de dejà-vu da semana de moda de Nova York, criativamente conservadora e com severas limitações impostas pela indústria.
Também se destacaram Narciso Rodriguez, Karen Walker, Diane von Furstenberg, Luella Bartley e Proenza Schouler.

Nos bastidores da Rosa Chá

1. Superprodução
Sexta-feira, 8/9, às 11h, o estilista Amir Slama, o stylist Giovanni Fasson e o diretor de arte Zee Nunes (na foto, da esq. à dir.) discutem a organização do desfile, no show-room da Rosa Chá, na rua 37, em Nova York. No show-room, um quadro exibe fotos das 36 modelos que vão desfilar os 54 looks da coleção, inspirada na invasão francesa do Brasil no século 16. A coleção faz referências aos índios, à nobreza francesa e ao punk. A Folha acompanhou em Nova York a preparação do desfile da grife, que custou cerca de R$ 250 mil.

2. Mais ousados que os americanos
A canadense Lisa Cant experimenta uma das peças punk. "O desfile segue a modelagem brasileira. Os biquínis são 4 cm mais finos que os usados nos EUA", diz Jacimar Silva, diretor de marketing da Rosa Chá. As provas de roupa foram feitas de quinta a sábado.

3. Toneladas de cenário
Domingo, 10/9, às 17h, começa a montagem da passarela do desfile, na sala The Tent, da Olympus Fashion Week. Criado pelo designer Marton, o cenário é composto de um cocar de 7 m de altura e de uma passarela de 25 m. Tudo foi feito no Brasil, e a grife "importou" as 3.635 toneladas de material, que foram transportadas de avião.

4. Índias aristocratas
Às 19h, Carol Trentini é maquiada pela equipe da MAC, comandada por Jean Marc (na foto, ao fundo). "Adoro desfilar para os brasileiros, me sinto como se fosse, depois, sair na avenida Paulista", diz Carol. Antes de serem maquiadas, as modelos tiram toda a roupa e vestem um roupão, para relaxarem o corpo e ficarem livres das marcas de calcinhas e sutiãs.

5. Superlotação
Às 19h45, o backstage está lotado. Várias equipes de TV chegam para entrevistas com Amir. Às 20h15, os 864 convidados começam a entrar na sala, entre eles as socialites Ivana Trump e Lydia Hearst, neta do magnata William Randolph Hearst. "Costumava comprar peças da Rosa Chá em Saint Tropez. São lindas", conta Ivana.


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