São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Companhias se unem para queimar o amor

Montagem que reúne grupos de teatro sob direção de Cibele Forjaz estreia hoje

Ao longo de dez cenas, "Bruta Flor" retrata o fim de uma relação amorosa na visão feminina, com atrizes em diálogo com a plateia

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De um encontro feliz de grupos de teatro que namoram e se cruzam há tempos pela cena paulistana, nasce a história de um desencontro, de um desamor. É a história de "Bruta Flor", espetáculo que estreia hoje em São Paulo.
Sob direção de Cibele Forjaz, a peça é resultado da conjunção de esforços de componentes de algumas das mais produtivas e atuantes companhias teatrais da cidade. "Começou em segredo, como numa história de amor. Aí abrimos tempo nas nossas agendas para esse encontro de amantes e, de repente, essa escapada arrebatou nossas vidas", conta Forjaz.
Além da Cia. Livre, da própria diretora, participam dessa montagem-romance membros da São Jorge de Variedades, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e da Cia. Oito Nova Dança. "Vejo esse encontro como tendência de um teatro paulista que se consolida e que, tendo alcançado uma maturidade, busca a troca de experiências" analisa Forjaz.
E a analogia do encontro amoroso não vem à toa. É que o texto que dá nome à peça, de autoria de Cláudia Schapira, do Núcleo Bartolomeu, fala do fim de uma relação. Em forte tom lírico e poético, considerações de uma mulher sobre o fim do amor ganham a cena na voz das atrizes Mariana Senne e Lucienne Guedes. Mas que não se espere diálogos de romantismo desbragado. "É um texto denso, que precisa de respiro. Por isso escolhi explicitar as estruturas da peça", diz Forjaz.
Em um formato de jogo, em cenário demarcado como se fosse um quadra -com uma atriz de cada lado-, dez cartas lançadas ao palco propõem dez sequências dramáticas. Aquela que alcançar primeiro a carta como que dirige a cena; a outra vive propriamente o drama.
Mas, para chegar ao tom exato, a concepção da peça passou por mudanças. Após a reportagem da Folha assistir a ensaio na última sexta-feira, Cibele Forjaz sentiu que faltava alguma coisa. "As fichas caem quando vejo a plateia. O texto é um depoimento em carne viva e o fato de ter alguém ali [no ensaio] mudou a peça; faltava um contraponto para refletir a situação", disse Forjaz, pelo telefone, anteontem.
Na versão final, a inquieta diretora incluiu um minuto de reflexão e conversa das atrizes com a plateia ao final de cada uma das dez cenas. É o momento de questionar a tensão amorosa do texto. "Nós, como mulheres e ainda por cima artistas, queremos queimar esse ideal romântico do grande amor para a construção de uma família", resume Forjaz.
Burilando a arte do encontro, mote desta vida segundo o poeta, a equipe de "Bruta Flor" traduz em cena, sob ótica feminina, os desencontros do amor.


BRUTA FLOR

Quando: estreia hoje, às 21h; qui. e sex., às 21h, até 4/12
Onde: Sesc Consolação - Espaço Beta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/ 11/ 3234-3000); 12 anos
Quanto: de R$ 2,50 a R$ 10




Texto Anterior: Site inclui fac-símiles e conta história das cartas
Próximo Texto: Crítica/teatro/"Maria Stuart": Bom espetáculo dá brilho a texto extenso e rebuscado de Schiller
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.