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Companhias se unem para queimar o amor
Montagem que reúne grupos de teatro sob direção de Cibele Forjaz estreia hoje
Ao longo de dez cenas, "Bruta Flor" retrata o fim de uma relação amorosa na visão feminina, com atrizes em diálogo com a plateia
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De um encontro feliz de grupos de teatro que namoram e se
cruzam há tempos pela cena
paulistana, nasce a história de
um desencontro, de um desamor. É a história de "Bruta
Flor", espetáculo que estreia
hoje em São Paulo.
Sob direção de Cibele Forjaz,
a peça é resultado da conjunção
de esforços de componentes de
algumas das mais produtivas e
atuantes companhias teatrais
da cidade. "Começou em segredo, como numa história de
amor. Aí abrimos tempo nas
nossas agendas para esse encontro de amantes e, de repente, essa escapada arrebatou
nossas vidas", conta Forjaz.
Além da Cia. Livre, da própria diretora, participam dessa
montagem-romance membros
da São Jorge de Variedades, do
Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e da Cia. Oito Nova
Dança. "Vejo esse encontro como tendência de um teatro
paulista que se consolida e que,
tendo alcançado uma maturidade, busca a troca de experiências" analisa Forjaz.
E a analogia do encontro
amoroso não vem à toa. É que o
texto que dá nome à peça, de
autoria de Cláudia Schapira, do
Núcleo Bartolomeu, fala do fim
de uma relação. Em forte tom
lírico e poético, considerações
de uma mulher sobre o fim do
amor ganham a cena na voz das
atrizes Mariana Senne e Lucienne Guedes. Mas que não se
espere diálogos de romantismo
desbragado. "É um texto denso,
que precisa de respiro. Por isso
escolhi explicitar as estruturas
da peça", diz Forjaz.
Em um formato de jogo, em
cenário demarcado como se
fosse um quadra -com uma
atriz de cada lado-, dez cartas
lançadas ao palco propõem dez
sequências dramáticas. Aquela
que alcançar primeiro a carta
como que dirige a cena; a outra
vive propriamente o drama.
Mas, para chegar ao tom exato, a concepção da peça passou
por mudanças. Após a reportagem da Folha assistir a ensaio
na última sexta-feira, Cibele
Forjaz sentiu que faltava alguma coisa. "As fichas caem
quando vejo a plateia. O texto é
um depoimento em carne viva
e o fato de ter alguém ali [no
ensaio] mudou a peça; faltava
um contraponto para refletir
a situação", disse Forjaz, pelo
telefone, anteontem.
Na versão final, a inquieta
diretora incluiu um minuto
de reflexão e conversa das atrizes com a plateia ao final de cada uma das dez cenas. É o momento de questionar a tensão
amorosa do texto. "Nós, como
mulheres e ainda por cima artistas, queremos queimar esse
ideal romântico do grande
amor para a construção de uma
família", resume Forjaz.
Burilando a arte do encontro, mote desta vida segundo o
poeta, a equipe de "Bruta Flor"
traduz em cena, sob ótica feminina, os desencontros do amor.
BRUTA FLOR
Quando: estreia hoje, às 21h; qui. e
sex., às 21h, até 4/12
Onde: Sesc Consolação - Espaço Beta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/
11/ 3234-3000); 12 anos
Quanto: de R$ 2,50 a R$ 10
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