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Crítica/teatro/"Maria Stuart"
Bom espetáculo dá brilho a texto extenso e rebuscado de Schiller
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
A grande dramaturgia é
eterna, mas sempre
precisa de bons artífices para ser encenada. O espetáculo "Maria Stuart" encena a
íntegra da peça de Friedrich
Schiller e consagra um teatro
sustentado pelas palavras.
Escrita entre 1799 e 1800,
expressa o programa estético
do último Schiller, que ainda
traz marcas do primeiro romantismo alemão mas já revela influências da filosofia de
Kant e de suas próprias ideias
acerca da tragédia.
A trama parte do confronto
histórico de duas rainhas, a inglesa Elizabeth Tudor e a escocesa Maria Stuart, mas expõe
uma situação dramática inventada pelo autor. Definida por
ele mesmo como "tragédia romântica", se diferencia das tragédias de Shakespeare por afirmar a vitória das escolhas humanas, racionais, sobre a roda
da fortuna. Prevalece o mito
cristão da morte que liberta, e a
heroína, mesmo decapitada,
vence o embate moral. Será a
sua antagonista, Elizabeth 1ª,
quem, viva, amargará as consequências de seus atos, de fato,
pouco trágicos.
A encenação de Antônio Gilberto coloca em primeiro plano o texto, na belíssima tradução de Manuel Bandeira. Para
isso, conta com a contribuição
genial de Hélio Eichbauer na
direção de arte. O cenógrafo
simplifica ao máximo o espaço
cênico, delimitando-o com um
tapete vermelho, e preenchendo-o, apenas, com um estrado,
um trono e um baú, todos de
madeira crua e clara. É extraordinário o efeito desses
poucos elementos contrastados por um fundo escuro e a
iluminação precisa de Tomás
Ribas.
Os figurinos de Marcelo Pires propõem uma estilização
cromática dos personagens,
definindo os antagonismos pelas cores. É uma solução interessante com resultados variados. Já os atores revelam-se
um grupo homogêneo e aplicado que consegue dar conta da
complexidade de uma peça de
cinco atos, com frases longas e
pronomes de tratamento pouco habituais na prosódia do
teatro contemporâneo.
Dos atores, destacam-se Mário Borges como Burleig e
Henrique César como Shrewsbury, ambos conselheiros de
Elisabeth, Felipe Lopes como
Mortimer, o jovem e estouvado defensor de Maria Stuart, e
André Corrêa, como o maquiavélico conde de Leicester.
Entre as atrizes, Amélia Bittencourt apresenta Ana Kennedy, a ama de Maria Stuart, de
forma compungida e Lígia
Cortez compõe uma Elisabeth
convincente, tanto na postura
como nas expressões faciais.
Mas é a Maria Stuart de Julia
Lemmertz quem melhor traduz a principal qualidade do
espetáculo, ou seja, o milagre
de fazer brilhar um texto extenso e rebuscado. Lemmertz é
quem consegue essa proeza da
forma mais graciosa e expressiva. É, talvez, seu trabalho
mais importante no teatro.
MARIA STUART
Quando: sex. e sáb., às 21h, e dom.,
às 19h; até 25/10
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila
Nova, 245, tel. 3234-3000); 14 anos
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: ótimo
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