São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009

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Crítica/teatro/"Maria Stuart"

Bom espetáculo dá brilho a texto extenso e rebuscado de Schiller

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

A grande dramaturgia é eterna, mas sempre precisa de bons artífices para ser encenada. O espetáculo "Maria Stuart" encena a íntegra da peça de Friedrich Schiller e consagra um teatro sustentado pelas palavras.
Escrita entre 1799 e 1800, expressa o programa estético do último Schiller, que ainda traz marcas do primeiro romantismo alemão mas já revela influências da filosofia de Kant e de suas próprias ideias acerca da tragédia.
A trama parte do confronto histórico de duas rainhas, a inglesa Elizabeth Tudor e a escocesa Maria Stuart, mas expõe uma situação dramática inventada pelo autor. Definida por ele mesmo como "tragédia romântica", se diferencia das tragédias de Shakespeare por afirmar a vitória das escolhas humanas, racionais, sobre a roda da fortuna. Prevalece o mito cristão da morte que liberta, e a heroína, mesmo decapitada, vence o embate moral. Será a sua antagonista, Elizabeth 1ª, quem, viva, amargará as consequências de seus atos, de fato, pouco trágicos.
A encenação de Antônio Gilberto coloca em primeiro plano o texto, na belíssima tradução de Manuel Bandeira. Para isso, conta com a contribuição genial de Hélio Eichbauer na direção de arte. O cenógrafo simplifica ao máximo o espaço cênico, delimitando-o com um tapete vermelho, e preenchendo-o, apenas, com um estrado, um trono e um baú, todos de madeira crua e clara. É extraordinário o efeito desses poucos elementos contrastados por um fundo escuro e a iluminação precisa de Tomás Ribas.
Os figurinos de Marcelo Pires propõem uma estilização cromática dos personagens, definindo os antagonismos pelas cores. É uma solução interessante com resultados variados. Já os atores revelam-se um grupo homogêneo e aplicado que consegue dar conta da complexidade de uma peça de cinco atos, com frases longas e pronomes de tratamento pouco habituais na prosódia do teatro contemporâneo.
Dos atores, destacam-se Mário Borges como Burleig e Henrique César como Shrewsbury, ambos conselheiros de Elisabeth, Felipe Lopes como Mortimer, o jovem e estouvado defensor de Maria Stuart, e André Corrêa, como o maquiavélico conde de Leicester. Entre as atrizes, Amélia Bittencourt apresenta Ana Kennedy, a ama de Maria Stuart, de forma compungida e Lígia Cortez compõe uma Elisabeth convincente, tanto na postura como nas expressões faciais.
Mas é a Maria Stuart de Julia Lemmertz quem melhor traduz a principal qualidade do espetáculo, ou seja, o milagre de fazer brilhar um texto extenso e rebuscado. Lemmertz é quem consegue essa proeza da forma mais graciosa e expressiva. É, talvez, seu trabalho mais importante no teatro.


MARIA STUART

Quando: sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 25/10
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000); 14 anos
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Avaliação: ótimo




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