São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009

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Festa da uva

Vinícolas brasileiras investem na produção de suco de uva natural e integral, que teve crescimento exponencial nos últimos cinco anos, e diversifi cam linha com produtos kosher e suco de uva branco


LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cor vibrante, aroma de frutas vermelhas, doçura natural e um toque de acidez. Essas são características que marcam os sucos de uva produzidos em boa parte das vinícolas brasileiras. Simples, o produto é obtido por meio de um processo no qual os cachos de uva são colhidos manualmente, depois a fruta é esmagada e, em seguida, engarrafada. Sem a adição de açúcar, água ou conservantes.
"Slow Food, Slow Drink, essa é a nova onda." É assim que o enólogo da Salton, Lucindo Copat, 59, tenta explicar a tendência do suco de uva. E faz sentido: a bebida é 100% natural e integral e traz benefícios à saúde, muitas vezes também associados ao vinho.
A bebida difere do vinho, no entanto, em pontos básicos: "É feito com uvas de mesa, que são ricas em polpa, enquanto o vinho é feito com uvas viníferas, que só têm líquido", diz o presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo, Gustavo Andrade de Paulo, 38.
Em relação ao processo de produção, o suco de uva é resultado apenas do esmagamento da fruta e da extração de seu líquido. O vinho, depois dessa etapa, passa pela fermentação. "As uvas viníferas costumam ter mais concentração de açúcar, o que facilita a transformação do açúcar em álcool."

Mercado aquecido
Para atender ao crescimento da demanda de um público que busca cada vez mais incorporar produtos saudáveis no cardápio do dia a dia, as vinícolas brasileiras, concentradas no Rio Grande do Sul, têm feito largos investimentos no setor, que cresceu 400% nos últimos cinco anos, segundo o Instituto Brasileiro de Vinho (Ibravin).
Num ano em que a safra de uva caiu cerca de 15%, a novidade se concentrou nos números envolvidos no mercado de suco: 45% das uvas de mesa foi destinado à produção da bebida. Para aproveitar esse impulso, o setor receberá um investimento de R$ 1,7 milhão no Programa de Desenvolvimento Setorial do Suco de Uva, ação que tem por trás institutos como o Ibravin e o Ibraf (Instituto Brasileiro da Fruta).
Para a safra de 2010, a vinícola Perini, localizada em Garibaldi (RS), deve investir R$ 2 milhões na produção do suco Jota Pê, que teve um crescimento aproximado de 90% no último ano, segundo o diretor de marketing da marca, Pablo Onzi Perini, 25. O suco de uva branco deve dobrar sua produção no mesmo ano.
Prestes a completar cem anos, a vinícola Salton ultrapassou a marca de 1 milhão de litros de suco no ano, contra 18 mil litros produzidos há cinco anos. "Por conta desse crescimento exponencial, este ano estamos quase sem suco. Tivemos de segurar as vendas para termos produtos até fevereiro do ano que vem, quando lançaremos a nova safra", diz o enólogo da vinícola.
Boa parte do aumento da produção tem explicação no investimento massivo que a Salton fez em maquinários, sobretudo em tanques italianos de inox, que armazenam a bebida durante o ano, sem ter de envasar todo o volume produzido em plena safra. Equipamentos de tecnologia avançada, que extraem o líquido da fruta e o engarrafam com mais velocidade, também ganharam atenção.
Líder do mercado no país, a Aurora tem a expectativa de crescer 45% do ano passado pra cá. Neste ano, a marca lançou sua primeira safra de suco de uva branco e manteve o selo do Instituto do Coração conquistado em 2008, que confirma que a bebida faz bem à saúde. Também faz parte de sua gama de produtos o suco kosher, com o certificado Halal.
Na mesma linha, a Casa de Madeira, do grupo Valduga, desenvolveu um suco certificado, cujo processo de produção é supervisionado por um rabino. Lançado há três meses, já foram vendidos mais de 20 mil litros da bebida, segundo a diretora comercial do grupo, Juciane Casagrande, 33. Com o aquecimento do setor, prevê ainda o lançamento de uma linha de suco de uva orgânico para o ano que vem.
Nas propriedades da família Valduga, em Bento Gonçalves (RS), o suco surgiu em 1992. Havia dois caminhos para a vinícola, que tinha grande parte das terras ocupadas com uvas comuns. "Ou cortávamos as parreiras e plantávamos uvas viníferas ou as mantínhamos para desenvolver um produto alternativo", conta Juciane.
O grupo optou pelo segundo caminho e hoje a Casa de Madeira, que também produz produtos como geleias e balsâmicos, é responsável por cerca de 40% do faturamento da empresa. E lá o suco é 100% envasado durante a safra.
Depois da seleção minuciosa dos cachos, a uva, ainda com a casca, passa por um processo que dura 23 minutos: entra numa máquina, é submetida a um superaquecimento e, em seguida, a bebida obtida é conduzida até a garrafa. "O tempo curto faz com que o suco mantenha suas características aromáticas, e, com o choque térmico, há o processo de pasteurização. Assim, não é preciso adicionar conservantes."
Mas, atenção: não vá colecionar garrafas de suco de uva. Diferente do vinho, que pode enriquecer no processo de envelhecimento, o suco, quanto mais jovem, melhor.


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