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Festa da uva
Vinícolas brasileiras investem na produção de suco de uva natural e integral, que teve crescimento exponencial nos últimos cinco anos, e diversifi cam linha com produtos kosher e suco de uva branco
LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cor vibrante, aroma de frutas
vermelhas, doçura natural e
um toque de acidez. Essas são
características que marcam os
sucos de uva produzidos em
boa parte das vinícolas brasileiras. Simples, o produto é obtido
por meio de um processo no
qual os cachos de uva são colhidos manualmente, depois a fruta é esmagada e, em seguida,
engarrafada. Sem a adição de
açúcar, água ou conservantes.
"Slow Food, Slow Drink, essa
é a nova onda." É assim que o
enólogo da Salton, Lucindo Copat, 59, tenta explicar a tendência do suco de uva. E faz sentido: a bebida é 100% natural e
integral e traz benefícios à saúde, muitas vezes também associados ao vinho.
A bebida difere do vinho, no
entanto, em pontos básicos: "É
feito com uvas de mesa, que são
ricas em polpa, enquanto o vinho é feito com uvas viníferas,
que só têm líquido", diz o presidente da Associação Brasileira
de Sommeliers de São Paulo,
Gustavo Andrade de Paulo, 38.
Em relação ao processo de
produção, o suco de uva é resultado apenas do esmagamento
da fruta e da extração de seu líquido. O vinho, depois dessa
etapa, passa pela fermentação.
"As uvas viníferas costumam
ter mais concentração de açúcar, o que facilita a transformação do açúcar em álcool."
Mercado aquecido
Para atender ao crescimento
da demanda de um público que
busca cada vez mais incorporar
produtos saudáveis no cardápio do dia a dia, as vinícolas brasileiras, concentradas no Rio
Grande do Sul, têm feito largos
investimentos no setor, que
cresceu 400% nos últimos cinco anos, segundo o Instituto
Brasileiro de Vinho (Ibravin).
Num ano em que a safra de
uva caiu cerca de 15%, a novidade se concentrou nos números
envolvidos no mercado de suco: 45% das uvas de mesa foi
destinado à produção da bebida. Para aproveitar esse impulso, o setor receberá um investimento de R$ 1,7 milhão no Programa de Desenvolvimento Setorial do Suco de Uva, ação que
tem por trás institutos como o
Ibravin e o Ibraf (Instituto Brasileiro da Fruta).
Para a safra de 2010, a vinícola Perini, localizada em Garibaldi (RS), deve investir R$ 2
milhões na produção do suco
Jota Pê, que teve um crescimento aproximado de 90% no
último ano, segundo o diretor
de marketing da marca, Pablo
Onzi Perini, 25. O suco de uva
branco deve dobrar sua produção no mesmo ano.
Prestes a completar cem
anos, a vinícola Salton ultrapassou a marca de 1 milhão de
litros de suco no ano, contra 18
mil litros produzidos há cinco
anos. "Por conta desse crescimento exponencial, este ano
estamos quase sem suco. Tivemos de segurar as vendas para
termos produtos até fevereiro
do ano que vem, quando lançaremos a nova safra", diz o enólogo da vinícola.
Boa parte do aumento da
produção tem explicação no investimento massivo que a Salton fez em maquinários, sobretudo em tanques italianos de
inox, que armazenam a bebida
durante o ano, sem ter de envasar todo o volume produzido
em plena safra. Equipamentos
de tecnologia avançada, que extraem o líquido da fruta e o engarrafam com mais velocidade,
também ganharam atenção.
Líder do mercado no país, a
Aurora tem a expectativa de
crescer 45% do ano passado pra
cá. Neste ano, a marca lançou
sua primeira safra de suco de
uva branco e manteve o selo do
Instituto do Coração conquistado em 2008, que confirma
que a bebida faz bem à saúde.
Também faz parte de sua gama
de produtos o suco kosher, com
o certificado Halal.
Na mesma linha, a Casa de
Madeira, do grupo Valduga, desenvolveu um suco certificado,
cujo processo de produção é supervisionado por um rabino.
Lançado há três meses, já foram vendidos mais de 20 mil litros da bebida, segundo a diretora comercial do grupo, Juciane Casagrande, 33. Com o
aquecimento do setor, prevê
ainda o lançamento de uma linha de suco de uva orgânico para o ano que vem.
Nas propriedades da família
Valduga, em Bento Gonçalves
(RS), o suco surgiu em 1992.
Havia dois caminhos para a vinícola, que tinha grande parte
das terras ocupadas com uvas
comuns. "Ou cortávamos as
parreiras e plantávamos uvas
viníferas ou as mantínhamos
para desenvolver um produto
alternativo", conta Juciane.
O grupo optou pelo segundo
caminho e hoje a Casa de Madeira, que também produz produtos como geleias e balsâmicos, é responsável por cerca de
40% do faturamento da empresa. E lá o suco é 100% envasado
durante a safra.
Depois da seleção minuciosa
dos cachos, a uva, ainda com a
casca, passa por um processo
que dura 23 minutos: entra numa máquina, é submetida a um
superaquecimento e, em seguida, a bebida obtida é conduzida
até a garrafa. "O tempo curto
faz com que o suco mantenha
suas características aromáticas, e, com o choque térmico,
há o processo de pasteurização.
Assim, não é preciso adicionar
conservantes."
Mas, atenção: não vá colecionar garrafas de suco de uva. Diferente do vinho, que pode
enriquecer no processo de envelhecimento, o suco, quanto
mais jovem, melhor.
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