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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O papelão da Bienal
O cancelamento da mostra expõe a incompetência
da fundação e a face jeca
e atrasada de São Paulo
O CANCELAMENTO da Bienal de
São Paulo, que se realizaria
no ano que vem, é um atestado de incompetência da atual direção da fundação e de seu conselho,
que reúne representantes da elite
paulista para os quais a arte parece
ser o que menos importa.
A rocambolesca novela em que se
transformou a recondução do empresário Manoel Pires da Costa à
presidência da instituição, recheada
de lances obscuros, irregularidades
e movimentações de bastidores, já
prenunciava o papelão que ora se
consuma. Sem muitas opções, o curador Ivo Mesquita, com a respeitabilidade e as credenciais que possui
para ocupar o cargo, propõe, no lugar da tradicional exposição, uma
reflexão sobre o vazio. Vazio estará
um andar inteiro do prédio de Niemeyer em meio a debates e, ao que
parece, realização de performances
e exibição de vídeos.
Tudo não passa de uma operação
tampão ou de uma tentativa de reduzir os danos, que, a essa altura, já
são consideráveis. Perdem artistas,
público, cultura, cidade, país.
Num contexto em que a produção
de arte e o mercado brasileiro vêm
se fortalecendo e ganhando crescente inserção e reconhecimento internacionais, era de esperar que instituições do porte da Bienal já não fossem conduzidas por personagens
defasados, amadores em busca de
prestígio, alheios à dinâmica cada
vez mais profissional e sofisticada
do meio artístico.
Paralela e análoga, a crise do Masp
é mais um lance dessa realidade crítica. É verdade que a desastrosa situação do principal museu de arte
do país foi amenizada com a nomeação de um curador e a retomada de
algumas exposições de qualidade.
Mas isso é o mínimo que se poderia
esperar. O Masp, de fato, continua
muito distante do papel que poderia
e deveria exercer.
Essa não é uma opinião pessoal,
idiossincrática. É a avaliação da esmagadora maioria (senão da totalidade) dos artistas que importam e
dos profissionais mais qualificados
que trabalham na área.
Voltando à Bienal, disse o presidente da instituição que não há crise
nenhuma, numa patética e frustrada tentativa de tapar o sol com a peneira. Em artigo publicado ontem
pela Ilustrada, o curador Marcio
Doctors, que deixou o cargo, aponta as limitações financeiras para fazer uma "Bienal completa". Para
citarmos alguns exemplos: artistas
e curadores ficaram sem receber e
os catálogos da mostra, realizada
no ano passado, ainda estão por ser
publicados.
Agora, depois de uma série de escaramuças e idas e vindas, chegamos ao que se poderia chegar com
tamanho despreparo: à impossibilidade de realizar um evento à altura do que São Paulo e a arte brasileira merecem. Foco de atração de
artistas e curadores de todas as
partes do mundo, a elite da cidade,
com o flop da próxima Bienal, mostra sua face jeca e atrasada.
Enquanto isso, em Porto Alegre,
a Bienal do Mercosul melhora a cada edição e, em março, será inaugurado o Museu Iberê Camargo,
um projeto magnífico do arquiteto
português Álvaro Siza.
Bem, deu pra ti, baixo-astral...
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