São Paulo, Quarta-feira, 15 de Dezembro de 1999


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MÚSICA
Grupo de Chicago, que já passou pelo Chile, Argentina e BH, faz show com Tom Zé no Sesc Pompéia
Tortoise experimenta seu rock em SP

MARCELO NEGROMONTE
enviado especial a Belo Horizonte


Depois de John Cale e Marianne Faithfull, o projeto do Sesc 1.999 -Reticências abrange outros aspectos da música inovadora e inteligente com as apresentações da banda de rock experimental de Chicago Tortoise.
Hoje e amanhã, no Sesc Pompéia, o quinteto norte-americano prossegue com sua miniturnê brasileira, com a participação especial do cantor e compositor Tom Zé, que fizera alguns shows nos EUA, em maio deste ano, em que o baiano apresentou "Com Defeito de Fabricação", seu mais recente disco, tendo o Tortoise como banda.
Nos shows do Tortoise, Tom Zé canta quatro músicas suas no final da apresentação, como aconteceu no festival Eletrônika Telemig Celular, no último sábado em Belo Horizonte, na estréia dos norte-americanos em palcos brasileiros (leia sobre o festival no texto abaixo).
Na semana passada, a banda fez shows em Santiago, Chile, e Buenos Aires, Argentina. Os shows sul-americanos são frutos da iniciativa da produtora mineira Motor Music, que lançará no Brasil o último álbum da banda, "TNT" (98), em janeiro.

Banda de rock
Tortoise foi formado no começo desta década e vem sendo chamado pela imprensa norte-americana e européia de banda "pós-rock", etiqueta rejeitada pelo líder, produtor e multiinstrumentista, John McEntire, 29.
"Somos uma banda de rock, ainda que um rock esquisito. Dizer que algo é pós-alguma coisa é uma terminologia tipicamente usada neste fim de século quando se imagina que tudo já foi criado. Não é verdade", disse McEntire em entrevista à Folha, logo após o show em Belo Horizonte.
É rock da escola Sonic Youth e dos projetos do guitarrista Thurston Moore, mas sem os barulhos daquele e com a inovação deste. Mas não só. Há algumas doses de jazz, lounge music, muzak, drum'n'bass, kraut-rock, ambient, excesso de minimalismo e, por caminhos oblíquos, lá no fundo, um tempero suave de música folclórica nordestina absolutamente involuntário.
E como Tom Zé surgiu na história do Tortoise, banda underground nos EUA e desconhecida no Brasil? "Um amigo, Christopher Dunn, professor da Universidade de Louisiana, que está escrevendo um livro sobre o tropicalismo, me mostrou um disco dele. Não só de Tom Zé, mas de Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Mutantes (este um pouco à margem do movimento do final dos anos 60). E há várias referências musicais ao mesmo tempo nesse período", afirmou McEntire, enquanto colocava no bolso o zip drive com as bases eletrônicas do show.
"Adoro João Gilberto, Tom Jobim, mas, da década de 70, o meu favorito é Jorge Ben", revela McEntire que diz ainda gostar de Olodum e Joyce. Joyce? "Não tudo, claro, mas alguma coisa", ri.
O curioso é que a maioria dos artistas citados por McEntire teve seu ápice há algumas décadas no Brasil e agora são "(re)descobertos" pelos EUA.
"É por isso que eu gosto do Tom Zé: porque ele cria novas coisas até hoje. Por outro lado, acho que a curva descendente de alguns artistas são seus melhores momentos, como os Beach Boys", afirmou citando o período pós-66, pós-"Pet Sounds". "Tom Zé não teve essa curva."
McEntire, além dos álbuns da banda, lançou remixes de Towa Tei, Cibo Matto, Stereolab (que também produziu), Blur e Red Snapper.
No show do Tortoise, com músicas de "TNT" e dos três álbuns anteriores, os integrantes mudam frequentemente de instrumentos, passando do sintetizador Rhodes para a bateria (há duas), baixo e vibrafone (há dois), como faz McEntire.
Tom Zé aparece no final, como um pocket show de "Com Defeito de Fabricação", em que canta "Politicar", "Curiosidade" (improvisando com Nobel, dinamite e a irrelevância de ambos) e "Juventude Javali".
De resto, o Tortoise faz música para quem gosta de música. Basicamente é isso.


O jornalista Marcelo Negromonte viajou a convite da produção do Eletrônika Telemig Celular


Show: Tortoise, com participação especial de Tom Zé
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, tel, 0/xx/11/3871-7700)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (comerciários e estudantes)


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