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ARTES PLÁSTICAS
Intervenção do artista Eduardo Srur no Monumento às Bandeiras é bem assimilada pelo público de SP
Prefeitura não retira âncora de Brecheret
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Sitiada por outdoors, monumentos semi-esquecidos e esqueletos de concreto, a cidade é o
campo de batalha do artista paulistano Eduardo Srur, 30. Suas armas: poética, ironia e provocação.
A mais recente ação de Srur foi
colocar uma âncora ao lado de
um dos símbolos de São Paulo, o
Monumento às Bandeiras, no
parque Ibirapuera.
O caráter "subversivo" da obra
ultrapassa os seus próprios significados, já que ela foi executada à
revelia do Departamento de Patrimônio Histórico, responsável por
autorizar interferências em construções tombadas.
O órgão municipal fez uma avaliação e concluiu que a intervenção, realizada na última sexta, não
causou dano ao monumento.
Srur deve ser notificado para retirá-la. Enquanto isso, ela permanece onde está.
Victor Brecheret Filho, 62, não
se opôs a intervenção à obra-prima de seu pai (1894-1955).
A âncora de madeira, borracha
e piche tem 2 m por 3 m e 50 kg.
Foi colocada no "empurra-empurra" depois que Srur observou
que ela era um elemento que "faltava" à escultura.
O argumento dele para justificar a ilegalidade do trabalho é que
a idéia tornou-se urgente e a estratégia mais rápida passava ao
largo da burocracia.
Srur visita o trabalho todos os
dias e registra em vídeo e fotos a
reação do público diante da obra.
A prova de fogo aconteceu no
domingo passado. A multidão
que visita (e escala) a escultura de
Brecheret não perdoou a âncora,
que fez as vezes de balanço. Resistiu incólume. E se inseriu na paisagem de tal forma que foi escolhida para ser fotografada por
muitos dos visitantes.
"Para mim, o mais importante é
a mensagem direta ao espectador,
me incomoda a arte hermética. A
função do artista é trazer a plasticidade com alguma reflexão, não
somente a reflexão", defende.
Ele tergiversa sobre o possível
aspecto político do trabalho. Antes de parar no monumento, ele
pensou em jogar a âncora no
Masp e na Bienal.
"Sei que a âncora levanta questões sobre a instituição, mas não é
sobre isso que eu quero falar."
A âncora já havia sido pendurada na fachada do hotel Lord Palace, na Santa Cecília, durante uma
exposição de arte contemporânea
que aconteceu entre setembro e
novembro.
Outro trabalho público de Srur
deixava mais clara sua posição
política. "Atentado" é um vídeo
de quatro minutos no qual ele
aparece explodindo bexigas de
tinta em outdoors.
Os atentados faziam não somente uma crítica à especulação
publicitária mas também eram
interferências estéticas, já que as
cores e as imagens eram previamente combinadas.
"A publicidade é um sistema
avançado visualmente em relação
à arte. Como a arte vai gerar um
produto que cria reflexão diante
disso?", pergunta.
O trabalho que teve maior visibilidade de Srur foi "Acampamento dos Anjos". Instalação de
35 barracas de camping na fachada do esqueleto de concreto que
há dez anos enfeia a avenida Dr.
Arnaldo, em Pinheiros.
O contexto do prédio que deveria ser um hospital e permanecia
na carcaça era menor em relação
ao poético efeito de seus anjos.
A obra, realizada em abril deste
ano, necessitou de idas e vindas a
gabinetes do governo estadual para que fosse feita.
O sucesso do trabalho foi grande, e o artista foi convidado a
mostrá-lo em 2005 em Dijon e
Metz, na França. Ele planeja ainda
montar o acampamento em Recife, no Rio de Janeiro e em Santos,
ainda sem data definida.
Srur concorre à próxima edição
do Festival da Cultura Inglesa, cujo resultado deve ser anunciado
hoje. O trabalho é inspirado nas
farmácias de Damien Hirst. Só
que com remédios placebos para
a alma, "uma possibilidade de curar o próximo", diz.
Próximo ataque
Os planos iniciais de levar a âncora para a fachada do Masp e da
Bienal foram frustrados, mas isso
não significa que ele tenha se calado diante das instituições. Muito
menos que ele deixará de provocá-los em seu próximo ataque.
"Não gostei da Bienal. O "Território Livre" não existe. O universo
da arte não começa onde termina
o cotidiano. Todas as minhas
obras, por exemplo, estão inseridas no cotidiano."
E se fosse chamado para participar? "Qualquer artista gostaria de
ser convidado, mas se eu fosse faria uma obra fora do pavilhão."
Ele planeja uma performance
que deve culminar com o fim da
Bienal e que será realizada nas
cercanias do pavilhão.
Como essa também será uma
ação ilegal, ele não quis revelar os
detalhes do que deve fazer.
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