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LIVROS
Sarcasmo marca livro de estreia do ator de "House"
Trama de ação só perde interesse quando Hugh Laurie faz frases pseudopoéticas
Originalmente publicado
em 1996 e só agora lançado
no Brasil, romance revela
humor que escritor depois
consolidaria na série de TV
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Como ator, Hugh Laurie
é um homem de muitas
faces. Seu rosto inquietante ganhou mais visibilidade
pelo cinema há pouco mais de
uma década, em papéis como o
de marido vitoriano em "Razão
e Sensibilidade", raptor de cãezinhos em "101 Dálmatas" e pai
de família que adota um rato
em "O Pequeno Stuart Little".
Laurie já fez até uma versão
pouco disfarçada do ladrão Ronald Biggs em "Garota do Rio"
poucos anos antes de alcançar
sua atual glória como protagonista da série "House".
Outra face, até agora secreta,
se torna visível aos leitores brasileiros com a tradução de "O
Vendedor de Armas", romance
de estreia do ator, publicado
originalmente em 1996.
Como está impregnada do
gosto doce-amargo de Gregory
House, a assinatura de Laurie
carrega para o livro a marca do
sarcasmo característica de seu
personagem. No entanto, a execução da obra, feita em período
anterior, é que revela elementos e em particular o humor
que depois consolidou na série.
"O Vendedor de Armas" segue as peripécias de Thomas
Lang, um oficial do Exército escocês que se envolve numa trama de terrorismo internacional
movida pela paranoia da conspiração. Em torno dele, circulam traficantes de armas, empresários transnacionais e uma
bela e irresistível mulher fatal,
em direção aos quais Lang dispara eventualmente tiros e frequentemente veneno na forma
de comentários.
Além da narrativa em primeira pessoa, a paixão por motocicletas do protagonista e sua
linguagem marcada por ironias
impõem imediata associação
da voz de Lang com a do autor
do romance. O que pode dar
força à performance comercial
do produto neste momento de
intensiva exposição de Laurie.
Mas além desse tipo de semelhança, "O Vendedor de Armas" não tem nenhuma preocupação em afirmar um talento
literário próprio ou ao menos
distinto na massa de escrevedores de livros. Sua matriz segue os mesmos esquemas da
eficácia e da habilidade narrativa que sustenta outras bem-sucedidas tramas de ação, como
as do agente Jason Bourne nos
livros do escritor Robert Ludlum ou as encrencas de Jack
Bauer na série "24 Horas".
A cada dezena de páginas, seguimos Thomas Lang metido
numa enrascada, da qual sempre sai com um admirável jogo
de cintura, o que garante ao leitor uma travessia sempre animada das 288 páginas de "O
Vendedor de Armas".
O livro só perde interesse
quando Laurie imagina ter habilidades literárias e comete
frases pseudopoéticas como
"Alvorada. Nascer do Sol. Amanhecer. Todas as anteriores.
Ainda havia uma escuridão no
horizonte, mas já com uma
mancha laranja nele. A noite
estava encolhendo de volta para o chão enquanto o sol lutava
para colocar uma mão nos limites do horizonte".
Nesses momentos, é melhor
optar por Laurie representando o texto mais talentoso dos
roteiristas de "House".
O VENDEDOR DE ARMAS
Autor: Hugh Laurie
Tradução: Cassius Medauar
Editora: Planeta
Quanto: R$40 (288 págs.)
Avaliação: bom
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