São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011
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CRÍTICA ROMANCE Sordidez marca estreia de Sacha Sperling Inspirado no poeta Rimbaud, "Ilusões Pesadas" narra adolescente entediado que mergulha em sexo e drogas
NELSON DE OLIVEIRA ESPECIAL PARA A FOLHA Se a expressão "enfant terrible" tem o seu arquétipo, esse é certamente Arthur Rimbaud (1854-1891). Misto de anjo e demônio, o poeta pasmou seus contemporâneos propondo "a alquimia do verbo" e o "desregramento de todos os sentidos". A genialidade precoce, a relação tempestuosa com Paul Verlaine (1844-1896) e o fim agonizante, depois de abandonar a poesia e traficar armas na Etiópia, criaram um mito imbatível. E uma tradição: nos 120 anos após a morte de Rimbaud, não foi pequena a quantidade de "crianças terríveis" nas artes. Dos filhos mais recentes, Sacha Sperling certamente daria muito orgulho a seu pai espiritual. Sacha é jovem e despudorado e domina como poucos a carpintaria do romance de formação, ramo mais pesado do "bildungsroman" (romance de aprendizagem ou formação). Nasceu em 1990, em Paris, e lançou "Ilusões Pesadas", seu livro de estreia, em 2009. Nesse romance narrado em primeira pessoa, o anti-herói também se chama Sacha. Aos 14 anos ele conhece e se apaixona por Augustin, iniciando uma relação tão intensa e destrutiva quanto a do casal Rimbaud e Verlaine. DESILUSÕES Sacha-personagem, seduzido pela beleza solar de Augustin, dá uma banana para o sistema moral dos pais, do colégio e da comunidade, e embarca num carrossel de sexo, festas e drogas. Mas o verbo erótico e luminoso, minado pela libertinagem, "não encontra lugar entre o prazer e a realidade" (palavras de Sacha). Devagar a relação vai sendo corrompida pelos excessos. As ilusões, depois de perdidas no célebre romance de Balzac (1799-1850), agora viram pedra. "Ilusões Pesadas" fez barulho entre os críticos literários. Geralmente é o que acontece quando adolescentes talentosos escrevem narrativas sórdidas e batizam o protagonista com o próprio nome. A diluição da fronteira que separa o biográfico e o ficcional acaba contaminando a leitura e gerando polêmica. Dúvida embaraçosa: será que o autor viveu mesmo as degradantes experiências narradas? Não faz muito tempo perguntaram a mesma coisa sobre JT LeRoy (na verdade, uma farsa criada pela norte-americana Laura Albert) e sobre a também precoce e francesa Lolita Pille. Ficção ou autobiografia? A verdade da boa literatura é que isso não importa. A beleza está no blefe. NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral) ILUSÕES PESADAS AUTOR Sacha Sperling EDITORA Companhia das Letras TRADUÇÃO Reinaldo Moraes QUANTO R$ 39 (176 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Painel das Letras - Josélia Aguiar: Para ler ou interagir Próximo Texto: Crítica/Romance: Repleta de clichês, trama de Rick Riordan não surpreende Índice | Comunicar Erros |
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