São Paulo, sábado, 16 de junho de 2007

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Diversidade domina 12ª Documenta

Edição, que começa hoje, usa cores nas paredes para questionar o "cubo branco" e abre espaço para não-contemporâneos

Curadores da mostra em Kassel (Alemanha) surpreendem na abrangência da seleção dos 530 trabalhos de 113 artistas

Divulgação
Instalação da americana Mary Kelly na Documenta; artista "surtou' ao saber que sua obra ficaria numa sala sem paredes brancas


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A KASSEL

Rosa, vermelho, azul, marrom, verde, laranja, roxo. Várias são as cores, nenhuma delas branca, das paredes dos cinco locais onde tem início, hoje, a 12ª edição da Documenta, em Kassel, a mais importante mostra de arte contemporânea do mundo. Ao colorir de maneira tão radical os espaços expositivos, a mostra geradora de tendências, sob curadoria do casal Roger Buergel e Ruth Noack, decreta o fim do "cubo branco", a tradicional maneira neutra e asséptica de exibir arte.
"Quando vi minha obra, que é conceitual, numa sala cor-de-rosa, quase tive um surto. Pedi para que fosse instalada numa sala branca, e o Roger disse que aqui não havia paredes brancas, que a era do cubo branco havia acabado", disse a artista norte-americana Mary Kelly, na entrevista coletiva que deu abertura ao evento, na última quarta. "No fim, acho que minha obra acabou ganhando."
Além das cores, os curadores também surpreenderam na abrangência da seleção dos 530 trabalhos de 113 artistas. Mesmo com grande parte de trabalhos produzidos recentemente, há desde pinturas persas do século 14 a várias obras dos anos 50, 60 e 70, do século 20, como "Escultura Negra", do brasileiro Luis Sacilotto (1924-2003).
"Para uma exposição ser de arte contemporânea ela não precisa ter apenas obras contemporâneas, afinal um trabalho de dois anos já não é mesmo mais contemporâneo. O fundamental é que ela ocorra hoje e possibilite leituras contemporâneas", disse Noack.
Ao mesclar contemporâneos e formas de expressão antigas, como a caligrafia persa ou a tapeçaria chinesa, e mesmo ainda modernos como Edouard Manet e Paul Klee, os curadores buscaram ser didáticos. Segundo Noack, "para entender o que os artistas fazem hoje é preciso entender suas raízes. Nessa mostra, isso é o que chamamos migração da forma".

Novo pavilhão
A Documenta, valorizada no circuito das artes por ocorrer a cada cinco anos, o que permite muito tempo de pesquisa para os curadores, tem nesta edição cinco espaços expositivos. Além do tradicional museu Friedericianum, a mostra ocorre em outros três lugares, um deles um castelo com obras de Rembrandt e Rubens (Schloss Wihelmshöhe) e mais um novo pavilhão, de 10 mil m2, que por fora parece uma estufa.
Por dentro, o pavilhão Aue se revela um grande espaço livre, praticamente sem paredes, onde os trabalhos se confrontam, pois não ficam em áreas reservadas. "Parecia bobagem criar um novo espaço, quando na última Documenta se descobriu o prédio da cervejaria. Mas o novo local é muito bom, com amplos espaços e cadeiras espalhadas para que se possa conversar; é uma das boas surpresas da Documenta", disse à Folha o curador colombiano Jose Roca, um dos responsáveis pela Bienal de São Paulo.
Na coletiva, Buergel gerou controvérsia ao abordar o caso do chefe espanhol Ferran Adrià, que foi anunciado como participante da mostra. Esperava-se que ele fosse apresentar algum tabalho. Na realidade a participação resume-se a convites para que pessoas comam em seu restaurante, na Espanha. "Há uma mesa reservada para a Documenta no restaurante de Adrià e a direção da instituição irá indicar quem pode ocupar. Mas que ninguém venha me pedir para ser convidado", disse irritado o curador (leia abaixo).
Nos próximos cem dias, a Documenta passará por transformações. "Uma exposição é uma experiência estética, e ela só existe com as pessoas presentes, sobre o que não se tem controle", disse Noack.
Duas grandes mudanças devem ocorrer na cidade: o surgimento de um campo vermelho de papoulas, em frente ao Friedericianum, obra da artista Sanjia Ivekovic, e o crescimento de arroz, plantado nos jardins do castelo Wihelmshöhe, obra de Sakarin Kruen-On.


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