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Crítica/política
Pré-candidato, Obama adota tom conciliador
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"A Audácia da Esperança" é o título do
segundo livro do senador americano Barack Obama e também do discurso de 20
minutos que o catapultou para
a celebridade política durante a
convenção nacional do seu partido, o Democrata, em 2004.
Obama é uma das muitas estrelas da campanha presidencial de 2008, já a pleno vapor
nos EUA, com uma antecedência sem precedentes na história
do país.
Sua proeminência não se deve apenas ao fato de ele poder
se tornar o primeiro presidente
negro de uma nação que há menos de 50 anos ainda praticava
leis de apartheid em grande
parte de sua área territorial.
O fato de ser mestiço, filho de
um negro natural do Quênia
com uma branca natural de
Kansas (Estado-protótipo do
meio-oeste dos EUA), criado
no Havaí e na Indonésia pelo
padrasto muçulmano e pela
mãe atéia, apenas confere a
Obama toques adicionais de
curiosidade, mistério e charme.
Mesmo sem esses ingredientes, no entanto, ele provavelmente ainda seria um político
diferenciado pelo comportamento despretensioso, quase
naturalmente humilde, com
que fala sobre grandes temas e
pelos dons de oratória raramente inflamada, mas capaz de
provocar comoção que o consagraram desde a primeira vez
que se expôs a uma audiência
nacional.
O livro que agora é publicado
no Brasil saiu nos EUA no ano
passado e seu lançamento foi
interpretado corretamente como um dos primeiros indícios
públicos de que ele concorreria
à Presidência em 2008, embora
a maioria dos analistas julgasse
que ele só daria esse passo quatro ou oito anos mais tarde,
após ter pelo menos cumprido
um mandato em cargo eletivo
federal (o de senador por Illinois, que ele assumiu em
2005).
Ao contrário de sua estréia literária ("Dreams of My Father", sonhos do meu pai, de
1995), este é um volume que segue os preceitos tradicionais da
política americana e, talvez, um
indício de que o eventual presidente Obama poderá ser bem
mais previsível do que o candidato inesperado possa sugerir.
Em "Dreams of My Father",
o então professor de Direito da
Universidade de Chicago, ativista comunitário dos bairros
negros pobres da cidade e aspirante ao Legislativo estadual,
indicava que suas ambições
eleitorais ou não seriam muito
grandes ou seriam atingidas
por caminhos muito heterodoxos.
Afinal, ele relatava com constrangedora candidez detalhes
de sua infância e juventude
conturbadas, que incluíam experimentos com diversos tipos
de droga e sentimentos de revolta furiosa contra o preconceito racial.
Em "A Audácia da Esperança", quem emerge é o político
que se caracteriza pela tentativa de conciliar todos os interesses, sem nenhuma agressividade ou rancor contra quem quer
que seja.
Obama diz não haver contradição entre os dois livros. São o
resultado do seu amadurecimento como pessoa agora em
paz total consigo e como político agora em busca do posto
mais poderoso do mundo.
É o testemunho de um líder
que crê em mudanças, mas não
via transformações radicais
nem rápidas, apenas por processos lentos e negociados que
respeitem princípios de estabilidade, continuidade, tradição.
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é diretor de
relações institucionais da Patri Políticas Públicas. É membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP, do Centro Brasileiro de
Relações Internacionais e do conselho editorial
da "Revista de Política Externa".
A AUDÁCIA DA ESPERANÇA
Autor: Barack Obama
Editora: Larousse do Brasil
Quanto: R$ 49,90 (400 págs.)
Avaliação: bom
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