São Paulo, sexta-feira, 16 de julho de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

Grupo francês exibe rigor sonoro aliado a pensamento urgente

Concerto de Les Musiciens de Saint-Julien demonstra acerto curatorial do Festival de Campos do Jordão

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

O som arcaico da gaita de foles formava um trio com o violino e a viola de roda; na outra ponta, sozinho, o piano Steinway; e, circulando entre esses dois mundos, a voz da soprano Françoise Masset.
Com essa disposição insólita, o grupo francês Les Musiciens de Saint-Julien apresentou-se na Sala São Paulo dentro da programação do Festival de Inverno de Campos do Jordão. François Lazarevich é o diretor artístico do ensemble, que existe desde o ano de 2005. Ele cantou, tocou gaita e flauta, e também fez percussão com os pés. O início - duas vozes alternando a melodia antiga dobrada pelo violino - faria supor um concerto dedicado tão só a tradições populares orais.
Mas tudo mudou - timbre, afinação, articulação, harmonia - com a entrada do piano, que trouxe uma inesperada canção harmonizada por Maurice Ravel (1875-1937).
Alguns musicólogos, como Richard Taruskin, têm procurado refletir sobre os paradoxos da música historicamente informada e sua pretensão de autenticidade. O Saint-Julien evita essas aporias, uma vez que, nesse programa, é a própria modernidade que se encontra em discussão.
Em uma canção romântica de voz e piano - como "Que les Amants Ont de Peine", de Emmanuel Chabrier (1841-1894) - bastou o olhar silencioso do trio de música antiga para adicionar significados, como se a tradição popular recalcada pudesse surgir, quase intacta, a qualquer momento.
E quando ela de fato emergia - com destaque para Anne-Lise Foy, virtuose da viola de roda - não era para restaurar o passado. Nos últimos anos, o Festival de Inverno de Campos do Jordão tem recuperado sua vocação original, mas um programa como esse é o indício de um passo além, um caminho capaz de amarrar rigores sonoros com a urgência do pensar.


LES MUSICIENS DE SAINT-JULIEN

AVALIAÇÃO ótimo




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