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Marketing divulga "geração 90", mas os livros não vendem muito
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Te confesso: nem sei se isso
existe, de fato." Palavras de Nelson de Oliveira, "criador" da Geração 90, a respeito de sua criação.
"Quando selecionei os autores
para as duas antologias, o critério
usado foi cronológico, autores
que estrearam nos anos 90. Para
amarrar, eu forjei esse conceito de
Geração 90. É válido", acredita.
A polêmica sobre o rótulo "geração 90" surgiu em uma entrevista com quatro autores publicada na Ilustrada há três semanas.
Na entrevista, Bernardo Carvalho (colunista da Folha) dizia: "Se
você pegar essas pessoas, elas não
têm nenhuma questão em comum. Não é como a nouvelle vague, um grupo que fez um manifesto, iniciou um movimento.
Aqui é uma militância para criar
espaço no mercado. O perigo da
impostura nisso é grande".
Uma semana depois, Oliveira
replicou em artigo: "Chega a ser
antiético menosprezar em bloco
os autores, em tudo tão diversos,
apenas porque estão sob a etiqueta "geração 90"." Carvalho não
quis voltar a falar sobre o tema,
mas para Marçal Aquino trata-se
de uma "mera reunião de pessoas
que estão escrevendo".
"O que acontece é que há um
grupo muito grande, principalmente em São Paulo, de gente fazendo literatura, e literaturas diferentes. E esse grupo corre o risco
de ser enxergado como um movimento. Aí é besteira", diz.
Já o colunista da Folha Manuel
da Costa Pinto enxerga uma
união entre a Geração 90. "Se eles
não têm uma proposta estética
unificada, há uma preocupação
em ser fiel com a realidade, aproximando a literatura das fraturas
sociais. Não por acaso, a maioria é
de São Paulo e utilizam a temática
da periferia. Isso sem prejuízo de
uma dicção pessoal de cada um."
Há quem encare de forma positiva o fato de a rotulação ser vista
como estratégia de marketing.
"Acho perfeitamente legítimo",
diz a editora Luciana Villas-Bôas,
da Record. "Acho útil para as pessoas se identificarem com alguma
coisa. A falta de algo assim nos
anos 80 foi muito ruim."
O escritor e colunista da Folha
Fernando Bonassi vai na mesma
linha. "É a estratégia que encontraram. É meritório e acho que
parte do trabalho do artista é se
expor. Existe um esforço de autopromoção coletiva, e isso não é
ruim, em princípio. Não fosse por
isso, eu não seria escritor."
Outro autor, o pernambucano
Marcelino Freire, acha que qualquer trabalho de divulgação é
bem-vindo. "Estamos empurrando a porta, sim. Temos um trabalho a mostrar e nossa luta é migalha a migalha. Vai criticar isso?"
O fato é que, com ou sem marketing, as antologias não foram
um estouro de vendas. "Geração
90: Manuscritos de Computador"
(2001, Boitempo) está terminando agora sua tiragem de 3.000
exemplares. "Geração 90: Os
Transgressores" saiu há quatro
meses. "Como o primeiro volume, esse deve demorar uns dois
anos para esgotar", diz Oliveira.
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