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São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

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Marketing divulga "geração 90", mas os livros não vendem muito

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Te confesso: nem sei se isso existe, de fato." Palavras de Nelson de Oliveira, "criador" da Geração 90, a respeito de sua criação.
"Quando selecionei os autores para as duas antologias, o critério usado foi cronológico, autores que estrearam nos anos 90. Para amarrar, eu forjei esse conceito de Geração 90. É válido", acredita.
A polêmica sobre o rótulo "geração 90" surgiu em uma entrevista com quatro autores publicada na Ilustrada há três semanas.
Na entrevista, Bernardo Carvalho (colunista da Folha) dizia: "Se você pegar essas pessoas, elas não têm nenhuma questão em comum. Não é como a nouvelle vague, um grupo que fez um manifesto, iniciou um movimento. Aqui é uma militância para criar espaço no mercado. O perigo da impostura nisso é grande".
Uma semana depois, Oliveira replicou em artigo: "Chega a ser antiético menosprezar em bloco os autores, em tudo tão diversos, apenas porque estão sob a etiqueta "geração 90"." Carvalho não quis voltar a falar sobre o tema, mas para Marçal Aquino trata-se de uma "mera reunião de pessoas que estão escrevendo".
"O que acontece é que há um grupo muito grande, principalmente em São Paulo, de gente fazendo literatura, e literaturas diferentes. E esse grupo corre o risco de ser enxergado como um movimento. Aí é besteira", diz.
Já o colunista da Folha Manuel da Costa Pinto enxerga uma união entre a Geração 90. "Se eles não têm uma proposta estética unificada, há uma preocupação em ser fiel com a realidade, aproximando a literatura das fraturas sociais. Não por acaso, a maioria é de São Paulo e utilizam a temática da periferia. Isso sem prejuízo de uma dicção pessoal de cada um."
Há quem encare de forma positiva o fato de a rotulação ser vista como estratégia de marketing. "Acho perfeitamente legítimo", diz a editora Luciana Villas-Bôas, da Record. "Acho útil para as pessoas se identificarem com alguma coisa. A falta de algo assim nos anos 80 foi muito ruim."
O escritor e colunista da Folha Fernando Bonassi vai na mesma linha. "É a estratégia que encontraram. É meritório e acho que parte do trabalho do artista é se expor. Existe um esforço de autopromoção coletiva, e isso não é ruim, em princípio. Não fosse por isso, eu não seria escritor."
Outro autor, o pernambucano Marcelino Freire, acha que qualquer trabalho de divulgação é bem-vindo. "Estamos empurrando a porta, sim. Temos um trabalho a mostrar e nossa luta é migalha a migalha. Vai criticar isso?"
O fato é que, com ou sem marketing, as antologias não foram um estouro de vendas. "Geração 90: Manuscritos de Computador" (2001, Boitempo) está terminando agora sua tiragem de 3.000 exemplares. "Geração 90: Os Transgressores" saiu há quatro meses. "Como o primeiro volume, esse deve demorar uns dois anos para esgotar", diz Oliveira.


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