São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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MÚSICA

ABPD anuncia crescimento em 2004, mas diz que não há por que festejar

Indústria musical tem recuperação

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Setor que encolheu mais de 50% desde 1997, a indústria fonográfica brasileira tenta dar sinais de otimismo ao anunciar que recuperou 35,2% (em unidades de discos vendidos) e 39,2% (em reais) de mercado no primeiro semestre deste ano, em comparação com igual período de 2003.
O dado revelado de forma preliminar pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) procura ser antídoto para o veneno poderoso da divulgação, simultânea, dos dados referentes a 2003.
Por eles se pode saber que, além de ter hoje menos de metade do tamanho que tinha há sete anos, o mercado de discos no país se deprimiu em 25% (em unidades vendidas) e em 17% (em reais coletados) no ano passado.
Tomada de sobriedade que não possuía na grande bolha de lucro dos anos 90, a indústria não faz dos dados de recuperação motivo para festejo. "Os números estão muito mais para recuperação de terreno perdido que para melhora. Não temos nada para comemorar, nem estamos comemorando nada", afirma o diretor-geral da ABPD, Paulo Rosa.
Ao tentar situar razões para a recuperação de terreno, ele traça um paralelo entre a indústria musical e o Brasil como um todo:
"O Natal de 2002 foi um desastre no comércio de modo geral, era o final do governo FHC, havia toda aquela incerteza sobre o que o governo Lula faria. Isso se alastrou por boa parte de 2003, o país só começou a se recuperar em setembro, e isso se reflete nos resultados da indústria fonográfica."
Estaria escondida por trás dessa avaliação uma retificação do argumento de que fosse a pirataria o grande vilão da derrocada do mercado fonográfico, como a ABPD e suas grandes gravadoras tanto propalaram nos últimos anos? "A pirataria continua sendo o grande vilão, embora tenha ficado praticamente nos mesmos níveis do ano anterior", nega Rosa.
Ainda nesse terreno, o texto do informativo anual da ABPD (que chega agora com os habituais nove meses de atraso em relação ao ano a que se reporta) critica com veemência a "apatia dos governos" e a "corrupção das autoridades" em relação à pirataria.
Mas o diretor-geral acresce à recuperação do país a avaliação de que tem diminuído a apatia oficial no combate à pirataria -estaria aí outra explicação para a recuperação que não se festeja.
"A CPI da pirataria foi o primeiro estudo sério sobre esse problema no país e revelou que é algo que só pode existir em conivência com autoridades públicas, com uma rede de corrupção nos mais variados níveis do poder público, desde o judiciário até a polícia e a fiscalização", ataca.
Após lembrar que a CPI foi iniciativa do Congresso Nacional, e não do governo federal, Rosa assinala que se nota empenho novo também nessa última instância. "O Paraguai, por não ter porto, usava o Brasil para importar 160 milhões de CDs virgens por ano, quando seu consumo interno não chega a 1 milhão. Uma instrução da Receita Federal proibiu que o Paraguai utilize portos brasileiros para importar CDs virgens. É um sinal positivo de que o governo está começando a olhar a pirataria com mais seriedade", avalia.
Mas, não, não é comemoração. "Gostaria de acreditar que os 35,2% a mais no primeiro semestre tenham sido ganhos em cima dos piratas, mas acho que não podemos dizer isso. Eles devem ter crescido também", volta Rosa ao pessimismo de cautela.


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