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MÚSICA
ABPD anuncia crescimento em 2004, mas diz que não há por que festejar
Indústria musical tem recuperação
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Setor que encolheu mais de 50%
desde 1997, a indústria fonográfica brasileira tenta dar sinais de
otimismo ao anunciar que recuperou 35,2% (em unidades de discos vendidos) e 39,2% (em reais)
de mercado no primeiro semestre
deste ano, em comparação com
igual período de 2003.
O dado revelado de forma preliminar pela Associação Brasileira
dos Produtores de Discos (ABPD)
procura ser antídoto para o veneno poderoso da divulgação, simultânea, dos dados referentes a
2003.
Por eles se pode saber que, além
de ter hoje menos de metade do
tamanho que tinha há sete anos, o
mercado de discos no país se deprimiu em 25% (em unidades
vendidas) e em 17% (em reais coletados) no ano passado.
Tomada de sobriedade que não
possuía na grande bolha de lucro
dos anos 90, a indústria não faz
dos dados de recuperação motivo
para festejo. "Os números estão
muito mais para recuperação de
terreno perdido que para melhora. Não temos nada para comemorar, nem estamos comemorando nada", afirma o diretor-geral da ABPD, Paulo Rosa.
Ao tentar situar razões para a
recuperação de terreno, ele traça
um paralelo entre a indústria musical e o Brasil como um todo:
"O Natal de 2002 foi um desastre no comércio de modo geral,
era o final do governo FHC, havia
toda aquela incerteza sobre o que
o governo Lula faria. Isso se alastrou por boa parte de 2003, o país
só começou a se recuperar em setembro, e isso se reflete nos resultados da indústria fonográfica."
Estaria escondida por trás dessa
avaliação uma retificação do argumento de que fosse a pirataria o
grande vilão da derrocada do
mercado fonográfico, como a
ABPD e suas grandes gravadoras
tanto propalaram nos últimos
anos? "A pirataria continua sendo
o grande vilão, embora tenha ficado praticamente nos mesmos níveis do ano anterior", nega Rosa.
Ainda nesse terreno, o texto do
informativo anual da ABPD (que
chega agora com os habituais nove meses de atraso em relação ao
ano a que se reporta) critica com
veemência a "apatia dos governos" e a "corrupção das autoridades" em relação à pirataria.
Mas o diretor-geral acresce à recuperação do país a avaliação de
que tem diminuído a apatia oficial
no combate à pirataria -estaria
aí outra explicação para a recuperação que não se festeja.
"A CPI da pirataria foi o primeiro estudo sério sobre esse problema no país e revelou que é algo
que só pode existir em conivência
com autoridades públicas, com
uma rede de corrupção nos mais
variados níveis do poder público,
desde o judiciário até a polícia e a
fiscalização", ataca.
Após lembrar que a CPI foi iniciativa do Congresso Nacional, e
não do governo federal, Rosa assinala que se nota empenho novo
também nessa última instância.
"O Paraguai, por não ter porto,
usava o Brasil para importar 160
milhões de CDs virgens por ano,
quando seu consumo interno não
chega a 1 milhão. Uma instrução
da Receita Federal proibiu que o
Paraguai utilize portos brasileiros
para importar CDs virgens. É um
sinal positivo de que o governo
está começando a olhar a pirataria com mais seriedade", avalia.
Mas, não, não é comemoração.
"Gostaria de acreditar que os
35,2% a mais no primeiro semestre tenham sido ganhos em cima
dos piratas, mas acho que não podemos dizer isso. Eles devem ter
crescido também", volta Rosa ao
pessimismo de cautela.
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