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"BELÍSSIMA"
Para o autor da próxima novela das 21h da Globo, beleza é uma "mercadoria" e serve como "vantagem na vida"
Sílvio de Abreu troca tese pela emoção
COLUNISTA DA FOLHA
Autor de "Belíssima", o paulistano Sílvio de Abreu estreou na
TV como ator, embora tenha se
formado cenógrafo. Diz que sua
"mestra" é Ivani Ribeiro, que escreveu quatro das novelas em que
atuou. Gostava mais de ler do que
interpretar os capítulos de Ivani.
Seu primeiro texto foi "Éramos
Seis" (Tupi, 1977), com Rubens
Ewald Filho, que lhe abriu as portas da Globo, onde estreou com
"Pecado Rasgado" (1977/78).
Nos anos 80, Abreu emplacou
uma bem-sucedida fórmula de
comédia pastelão às 19h, com "Jogo da Vida" (1981), "Guerra dos
Sexos" (1983) e o megassucesso
"Cambalacho" (1986), que dava
mais audiência do que a novela
das oito ("Selva de Pedra"). Depois, dedicou-se a lançar novos
autores (Carlos Lombardi, Maria
Adelaide Amaral, Alcides Nogueira e João Emanuel Carneiro).
A seguir, trechos de entrevista
concedida por Sílvio de Abreu.
RAZÃO X EMOÇÃO
A novela tem uma proposta, em
primeiro lugar, que é divertir.
Acho que, nessa diversão, nesse
entretenimento, a gente pode colocar ruídos, alertas, idéias. Mas
novela é mais baseada em emoção
do que em razão. Quando você
baseia uma história muito na razão e esquece a emoção, não consegue cativar o espectador.
A novela está muito mais focada
na emoção porque ela atinge a
maioria do público, as classes D e
E, que é levado muito pela emoção e pouco pela razão. Um bom
serviço ocorre quando a novela
consegue, através da emoção,
despertar a razão.
Não vou escrever uma novela
com tese [da ditadura da beleza].
Será uma novela com emoção.
Mas há uma mulher, Júlia [Glória
Pires], que é pressionada pelo mito da beleza, o mito da sua mãe,
que foi uma deusa da beleza, do
sexo, de perfeição, que morreu,
aparentemente, por culpa dela.
Ela foi criada pela avó, Bia Falcão [Fernanda Montenegro],
uma mulher ambiciosa, que queria sair da classe média, casou
com um homem medíocre e teve
a sorte de ter uma filha linda.
Bia pegou essa filha linda e a
moldou, a transformou num mito
de beleza. Esse mito da beleza casa
com um industrial, funda uma fábrica de lingerie, a Belíssima, e usa
o mito para vender lingerie.
Quando essa mulher está no auge, tem uma filha de oito anos e
espera outro filho, Pedro [Henri
Castelli]. Então acontece um desastre de avião, meio inexplicável.
Só sobrevivem a Júlia e o Pedro,
que nasce durante o socorro.
DITADURA DA BELEZA
Bia Falcão fica com a incumbência de criar duas crianças ricas.
Quer fazer de Júlia uma mulher
igual à mãe. Só que a Júlia não tem
as mesmas qualidades físicas que
a mãe teve. Júlia vai para o oposto.
Ela é uma mulher muito mais da
razão. É inteligente, administra
bem a empresa, mas não tem glamour. Foge da comparação com a
mãe. O mito da beleza a sufoca.
Júlia vive num mundo de belos.
E comanda isso muito bem. Nunca deixa a emoção tomar conta.
Até que conhece um homem lindo [Marcello Antony], que ela
não sabe que é operário da fábrica
dela. Ela se apaixona loucamente
por ele. Vai lutar por esse amor
para poder provar para a avó que
ela conquistou esse homem lindo.
Constrói o seu mito da beleza.
FOLHETIM
Isso é o oposto do folhetim. No folhetim, seria assim: ela, operária e
ele, o dono da indústria. Fazer o
contrário cria situações interessantes. Eles vão casar. Ele não tem
dinheiro para comprar terno, e
ela paga. É uma situação nova.
MERCHANDISING
Eu faço novela, faço entretenimento. Não tenho nada contra
merchandising social, mas desde
que contribua para que a história
continue sendo interessante.
DESIGUALDADE
Vou falar muito de desnível social. Estou fazendo uma novela
sobre São Paulo, onde o desnível é
muito grande. Vou mostrar também que beleza é uma mercadoria. É o caso do personagem do
Marcello Antony e do Cauã Reymond [que será um michê]. O cara que tem a beleza já tem uma
vantagem na vida.
SÃO PAULO
Você tem de escrever sobre aquilo
que você conhece bem. Conheço
bem não só a cidade de São Paulo,
mas principalmente as pessoas
que habitam a cidade.
"Belíssima" só poderia ser em
São Paulo. Vou mostrar que essa
cidade acolhe, porque foi feita por
imigrantes, é cosmopolita.
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