São Paulo, sexta-feira, 16 de outubro de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Distrito 9"

Filme de ET deixa reflexão política de lado, mas é eficaz

Original e único, longa do sul-africano Neill Blomkamp mistura referências

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Distrito 9" é a melhor alegoria sobre o preconceito protagonizada por alienígenas favelados já realizada na história do cinema. Então você provavelmente responderá: claro, é também a única.
E na sua resposta estará o segredo do longa-metragem de estreia do sul-africano Neill Blomkamp: "Distrito 9" é um produto único, um objeto tão difícil de identificar quanto a nave espacial que estaciona sobre Johannesburgo no filme.
Produzido por Peter Jackson ("O Senhor dos Anéis"), "Distrito 9" só pode ser reconhecido pela improvável soma de suas referências, não em sua integridade. Pense em "Alien - O Oitavo Passageiro" (1979), mais "Cidade de Deus" (2002), mais a série de TV "The Office".
Ou seja, uma ficção científica cruzada com um "filme de favela" e registrada como um falso documentário com levada cômica. O mais incrível não é que Blomkamp tenha imaginado essa mistura, mas, sim, que tenha conseguido transformá-la em um filme coeso.
"Distrito 9" começa como uma reportagem sobre a chegada da nave espacial a Johannesburgo, na África do Sul. Vários especialistas são entrevistados para tentar dar conta da situação. Logo se percebe que os alienígenas não representam uma ameaça imediata aos humanos como na maioria das ficções científicas.
Subnutridos, os ETs são instalados em um campo de refugiados que rapidamente se transforma em uma enorme favela, controlada pela corporação MNU, interessada na tecnologia das armas dos aliens. Com os maus-tratos impostos pela polícia e por uma gangue de nigerianos que controla o mercado negro de alimentos, os alienígenas começam a promover protestos e a assustar a população local.
O governo decide, então, remover a favela para outro distrito, a 200 km de distância. A MNU encarrega seu funcionário Wikus van de Merwe (Sharlto Copley) para cuidar da remoção, mas ele é infectado pelos aliens, começa a se transformar em um deles e passa a ser perseguido pelos humanos.
Como se vê pela trama, o paralelo com o apartheid sul-africano é bastante evidente, quase óbvio. Mas não se deve esperar uma grande reflexão política disfarçada de filme de gênero, como George Romero fez com o terror em "A Noite dos Mortos Vivos" (1968). Blomkamp privilegia mais o estilo do que a substância, a esperteza antes da elaboração, a originalidade no lugar da profundidade. Mas, no que se propõe a fazer, o filme ganha todas as suas apostas.
Mesmo caindo de ritmo da metade para o final, truncado pelo excesso de temas (racismo, opressão, poder, propaganda, choque cultural) e acúmulo de citações (desde "A Mosca" até "Transformers"), "Distrito 9" é um feito e tanto para um longa de estreia.
O filme tem imaginação suficiente para virar uma nova franquia para uma Hollywood em eterna crise criativa. Ou ainda para inspirar todo um novo subgênero cinematográfico, povoado por alienígenas discriminados e excluídos.


DISTRITO 9

Direção: Neill Blomkamp
Com: Sharlto Copley, David James, Nathalie Boltt
Produção: EUA/Nova Zelândia, 2009
Onde: estreia hoje no Unibanco Arteplex, Villa-Lobos e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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