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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Distrito 9"
Filme de ET deixa reflexão política de lado, mas é eficaz
Original e único, longa do sul-africano Neill Blomkamp mistura referências
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Distrito 9" é a melhor alegoria sobre
o preconceito protagonizada por alienígenas favelados já realizada na história
do cinema. Então você provavelmente responderá: claro, é
também a única.
E na sua resposta estará o segredo do longa-metragem de
estreia do sul-africano Neill
Blomkamp: "Distrito 9" é um
produto único, um objeto tão
difícil de identificar quanto a
nave espacial que estaciona sobre Johannesburgo no filme.
Produzido por Peter Jackson
("O Senhor dos Anéis"), "Distrito 9" só pode ser reconhecido pela improvável soma de
suas referências, não em sua integridade. Pense em "Alien - O
Oitavo Passageiro" (1979), mais
"Cidade de Deus" (2002), mais
a série de TV "The Office".
Ou seja, uma ficção científica
cruzada com um "filme de favela" e registrada como um falso
documentário com levada cômica. O mais incrível não é que
Blomkamp tenha imaginado
essa mistura, mas, sim, que tenha conseguido transformá-la
em um filme coeso.
"Distrito 9" começa como
uma reportagem sobre a chegada da nave espacial a Johannesburgo, na África do Sul. Vários
especialistas são entrevistados
para tentar dar conta da situação. Logo se percebe que os
alienígenas não representam
uma ameaça imediata aos humanos como na maioria das ficções científicas.
Subnutridos, os ETs são instalados em um campo de refugiados que rapidamente se
transforma em uma enorme favela, controlada pela corporação MNU, interessada na tecnologia das armas dos aliens.
Com os maus-tratos impostos pela polícia e por uma gangue de nigerianos que controla
o mercado negro de alimentos,
os alienígenas começam a promover protestos e a assustar a
população local.
O governo decide, então, remover a favela para outro distrito, a 200 km de distância.
A MNU encarrega seu funcionário Wikus van de Merwe
(Sharlto Copley) para cuidar da
remoção, mas ele é infectado
pelos aliens, começa a se transformar em um deles e passa a
ser perseguido pelos humanos.
Como se vê pela trama, o paralelo com o apartheid sul-africano é bastante evidente, quase
óbvio. Mas não se deve esperar
uma grande reflexão política
disfarçada de filme de gênero,
como George Romero fez com
o terror em "A Noite dos Mortos Vivos" (1968). Blomkamp
privilegia mais o estilo do que a
substância, a esperteza antes
da elaboração, a originalidade
no lugar da profundidade. Mas,
no que se propõe a fazer, o filme
ganha todas as suas apostas.
Mesmo caindo de ritmo da
metade para o final, truncado
pelo excesso de temas (racismo, opressão, poder, propaganda, choque cultural) e acúmulo
de citações (desde "A Mosca"
até "Transformers"), "Distrito
9" é um feito e tanto para um
longa de estreia.
O filme tem imaginação suficiente para virar uma nova
franquia para uma Hollywood
em eterna crise criativa.
Ou ainda para inspirar todo um novo subgênero cinematográfico, povoado
por alienígenas discriminados e excluídos.
DISTRITO 9
Direção: Neill Blomkamp
Com: Sharlto Copley, David
James, Nathalie Boltt
Produção: EUA/Nova Zelândia, 2009
Onde: estreia hoje no Unibanco Arteplex, Villa-Lobos e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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